Os escândalos de corrupção e malfeitorias dos gestores públicos costumam, além de trazer mais desalento por não darem em nada, tornar substantivos comuns em próprios. Foi assim com uma casa de Brasília no governo Collor e com outra na administração de Lula. Quando se falava numa casa todo mundo sabia sobre a qual se estava falando.
Agora são o sítio e o tríplex. Se hoje alguém fizer uma menção a qualquer sítio ou a um tríplex o inconsciente do cidadão comum já leva automaticamente ao sítio de Atibaia e ao apartamento do Guarujá.
Já foi dito tudo sobre esses dois imóveis e a discussão gira em torno de quem seria o proprietário de fato.
No documento, o sítio está registrado em nome de um empresário amigo da família e sócio do filho do ex-presidente. O local é muito visitado pelo clã de Lula.
Todo esse contexto no leva a pensar na palavra coincidência. Esta talvez seja a mais forte e presente do nosso vocabulário quando ocorrem esses fatos. Nos episódios envolvendo a investigação do ex-presidente ela se faz presente demais.
Segundo o noticiário dos últimos dias, a construtora OAS, escolheu um empreendimento, dentre milhares, para gastar quase um milhão de reais na reforma. Em nenhuma outra situação e em qualquer tempo houve um caso semelhante na história desse país. Coincidência: o imóvel era o da pré-compra da família presidencial, a qual desistiu da compra, coincidentemente depois da operação Lava-Jato. E isso ocorreu alguns anos depois do prazo dado a todos os demais pré-compradores.
O ex-presidente da empresa, que fez tudo isso, está condenado e cumprindo pena pela corrupção na Petrobras.
No meio do caminho… Um sítio. Uma grande construtora escolhe um sítio e gasta valores astronômicos na reforma. Normal! Azar dos outros 200 milhões de brasileiros que não tiveram a mesma sorte.
Ao lado desse sítio uma grande operadora de telefonia móvel fixa uma torre aleatoriamente. Normal! Azar dos outros infelizes.
Mais sorte quando, naturalmente, uma mudança sai da Presidência da República para um sítio qualquer. Por coincidência, o mesmo sítio. Normalíssimo!
Sempre repito que piores do que os erros são os argumentos de defesa. Palavras como refuto e nego veementemente, indignado e retaliação foram desmoralizadas definitivamente.
Sim, estive com ele. Sim, o indiquei. Sim. Sim. Sim. Mas não para tratar disso. Nessa linha, a presidente de um país atravessa o Atlântico e vai se encontrar com o presidente do Poder Judiciário em Portugal, quando poderia atravessar a praça a pé para conversarem. Normalíssimo! Outros presidentes fazem isso direto.
Esse nível de criatividade justifica a capacidade dessa gente de governar e traz a certeza de que a situação financeira em que o Brasil se encontra não é por acaso.
Ao menos dessa desfaçatez absurda poderiam nos poupar. Coincidência será a próxima palavra a ser desmoralizada.