Certa vez escrevi que o voto mais caro do Brasil é o do presidente da República. À época, Lula saíra de Brasília somente para apertar uma tecla em São Paulo. Votou e voltou. Ninguém escreveu uma linha sobre quanto custou esse voto à sociedade.
Algo similar acontece com o anúncio da lista de convocados da seleção brasileira de futebol. Nesse caso, o dinheiro é privado. Nem por isso deixa de ser uma bizarrice gastar tanto sem nenhuma necessidade.
Os treinadores, atualmente radicados no Rio Grade do Sul, saem de suas casas, pegam avião e vão à sede da Confederação Brasileira de Futebol, no Rio de Janeiro, apenas para ler uma lista de nomes e conceder uma entrevista coletiva enfadonha para dar pancadas nos repórteres. Isso, quando se poderia apenas disponibilizar a relação no sítio da entidade na internet.
Fica por aqui a comparação. Daí por diante, cada um começa a sua falácia. A deste ensaio é a seleção e seus eternos “inícios de trabalho”.
Depois de milhares de quilômetros para ler uma lista, os convocados se reúnem num hotel de luxo. Uns dois ou três “rachões” coletivos são realizados, escolhe-se aleatoriamente os onze titulares e vão à cata de dólares para os cofres da Confederação.
Ao se aproximar as competições mais importantes, os portões e o aprisionamento dos atletas tornam-se as etapas indispensáveis ao sucesso do “trabalho”. Talvez a estratégia sirva para esconder que nada de prático efetivamente foi feito. Definem-se também quais os bonés, calçados, cortes de cabelo são permitidos.
Imprensa, treinadores, jogadores nunca sabem quais são as razões verdadeiras dos fracassos, porque não discutem antes. Uma Copa é perdida porque os atletas fazem o que querem; outra, porque não sabiam sequer cantar o Hino Nacional; depois, porque disputavam quem gritava mais alto. Tudo tolices infantis que passam ao largo das verdadeiras razões.
Falta de treino tático, de investimento em todo o território para descobrir e selecionar atletas; falta de seriedade em alguns momentos antes e durante os jogos.
Deve-se exigir que parem com aqueles passes laterais e improdutivos substituindo-os por outros em profundidade, para frente, mesmo que incidam mais em erros.
Treinar triangulações e deslocamentos. Atletas brasileiros nem buscam nem passam a bola em espaços livres. Proibir de passarem a bola para colegas em impedimento, e estes treinarem um dia inteiro para perceberem quando estão avançados.
Nada disso é feito nem exigido pela mídia brasileira, tão despreparada quanto os atletas. O novo treinador vai continuar gastando dinheiro, tempo e energia para vir ler uma lista no Rio, vai entregar coletes para fazer coletivos, escalar onze, que poderiam ser os outros que ficaram no banco ou de fora da convocação, já que há nenhum critério e continuar a história de que está desenvolvendo um trabalho de quatro anos para levar de sete da Alemanha.
Claro que não poderia faltar o oba-oba dos globais, liderados pelo mais conhecido deles. A vantagem de Dunga é que não dá a contrapartida da exclusividade, uma grande virtude do atual treinador.