O “risco país” é um indicador que mede a fertilidade econômica de um país (no Brasil, fala-se de “risco Brasil”) ou o perigo de crédito que ele oferece aos olhos de agências e investidores estrangeiros (Fitch Ratings, J. P. Morgan Chase, Moody´s, Standard & Poor's, etc.). Entretanto, o pressuposto deste indicador é uma inverdade. Economistas, jornalistas e analistas proclamam na imprensa e na televisão que todo país gostaria de receber investimentos estrangeiros; caso contrário, haveria crescimento baixo, diminuição dos salários e aumento do desemprego.
O “risco Brasil” virou um pressuposto analítico de economistas, jornalistas e analistas para justificar ideias e políticas econômicas. Assim, ele é mais que um conceito-veículo de segundas e terceiras intenções; é um combustível para políticas de crescimento econômico e para a internacionalização de empresas brasileiras.
Protestos públicos, crises de corrupção e aumento da violência têm sido insuficientes para substituir a dose de analgésico por outra de estimulante nas veias dos brasileiros. Noutras palavras, investir num país cheio de riquezas inexploradas e mão-de-obra barata sempre foi o desejo de controladores da ordem mundial.
É assim que agências e investidores estrangeiros ditam as linhas gerais de nosso Ministério da Fazenda. Um sinal disto é que a agência estadunidense Standard & Poor's (S&P), uma das que fazem classificação de “risco país”, só rebaixará mais ainda o perigo de investimento em instituições financeiras brasileiras “se o governo do país romper seu compromisso com as políticas pragmáticas” (G1,Agência de risco rebaixa nota de 13 instituições financeiras brasileiras, 26 de março de 2014.).
Enquanto agências e investidores ameaçam as equipes brasileiras de política econômica com “rebaixamento” de indicadores de “risco país”, a economia brasileira continua sendo fortemente vinculada às demandas e padrões da economia internacional. De uma caminhada pelo canavial, as minas de ouro e os cafezais passamos a um rafting através dos meandros de uma economia globalizada.
Isto implica que nenhuma diferença de posicionamento político (esquerda, direita) entre os que têm dirigido o país nestas últimas décadas inibirá o cumprimento de exigências e padrões que eternizam o Brasil como país “subdesenvolvido”. Portanto, o “risco país” é um conceito que evidencia a existência de uma ordem internacional hierárquica, onde se preserva a colocação de países “desenvolvidos” e países eternamente “subdesenvolvidos” (ou “em desenvolvimento”, “emergentes”).
É comum medir o “risco país” de países ditos “emergentes” (no continente americano, fala-se que México, Brasil e Argentina têm os indicadores melhores), já que se confia demais no de outros países como Estados Unidos, que apresenta o menor risco no mundo apesar da crise financeira que afetou o país em 2008.
Porquanto um país beneficia-se quando mais entram do que dele saem riquezas (que se avaliam não só em termos de quantidade comercializada de um produto, mas também de seu valor agregado), não é difícil para não-economistas raciocinar que algum país terá que perder. Este será fadado ao “subdesenvolvimento”, que é o sustentáculo do desenvolvimento nos países que controlam a ordem mundial.
Um aspecto adicional dos indicadores de “risco país” é a desumanização do desenvolvimento. O cálculo do perigo ou não de injetar dinheiro num país desconsidera que ali há milhões de seres humanos que possuem necessidades básicas; deste modo, os governos têm a responsabilidade de garantir que estas necessidades saciem-se com ou sem investimentos estrangeiros. Não obstante, aqui se produz a riqueza de nossa gente e aqui esta riqueza deveria ficar.
Cada suor que pinga de seu rosto, leitor, poderá engrandecer o Brasil.
Portanto, você não condicionará seu trabalho a um medidor de “risco”.