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Proseando com Jorge de Piatã

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Em um dos nossos encontros sociais, sentei-me ao lado de um cidadão brumadense, livramentense e piatanense, Jorge de Piatã, o nome com o qual se identifica nas suas manifestações politico-literárias, e trançamos, como se diz no sertão, num bate papo comprido sobre os assuntos locais e outros que foram ocorrendo. Proveitoso encontro!

– E as novidades, Dom Jorge – assim o trato desde que Daniel Tanajura foi personagem em uma das suas diatribes. Ele, surdina que é, é mestre nisso.

– Olhe, Zé, novidades mesmo são as que já conhecemos. Aliás, repetidas e desbotadas.

– Imagino! Nem a seca é mais novidade. Avassaladora. Dá pena andar pela caatinga. A água esgotou-se de vez em tudo que é canto.

– Ah, bom você tocar nisso. Sabe o que está acontecendo nas cabeceiras do Rio de Contas?

– Se é sobre os riscos que corre, ando preocupado com isso. Sei apenas que dele ninguém cuida.

– É verdade. Como você sabe, ele nasce lá em Piatã e recebe outros afluentes, formando o mais importante Rio da nossa Região.

– Escrevi recentemente um cordel, para um trabalho escolar, em Cristalândia, onde destaco a importância do Rio de Contas do nascimento à foz.

– Isso é bom. O pessoal de lá de Piatã e as cidades vizinhas, andam apavoradas com a perspectiva de poluição desses mananciais por agrotóxicos, em razão do seu uso pelas empresas que pretendem desenvolver o agronegócio predatório no Município.

– Puxa, notícia ruim essa. A única esperança de Brumado e região é esse rio. Se ele morrer, morreremos todos à míngua de água para a nossa sobrevivência. Já existe algum movimento denunciando isso?

– Formalmente, acho que não. Só manifestações e denúncias esparsas. Essa agricultura intensiva na região significa condenar o Rio de Contas à morte. Centenas de agricultores familiares, que vivem de uma diversidade de produtos, dependendo dessas águas, inclusive para beber, não terão como sobreviver em pouco tempo.

– E já existe alguma empresa instalada na Região?

– Tem uma de nome BAGISA S. A. Estão construindo barragens acima das cachoeiras. A do Patrício, do Patricinho e Cachoera da Luz. Logo, logo esses lugares exuberantes e turísticos vão desaparecer, além dos outros riscos que já denunciamos.

– Tem muito tempo isso?

– Isso vem já de algum tempo. Sabe como é, chegam prometendo mil benefícios e vantagens. Depois amealham os lucros e deixam os agricultores e toda a população à mercê da desgraça.

– E os políticos têm se manifestado?

– Políticos, Zé, são verdadeiros comparsas desses empresários que chegam de fora, até de outros países, sem nenhuma identidade com a Região, pouco se lixando com as nossas questões ambientais e de sustentabilidade econômica.

– Vejo que esta deveria ser a bandeira dos prefeitos, das câmaras de vereadores, da dita sociedade organizada, dos clubes de serviços, das igrejas, das escolas. Entretanto, preferem outras atividades de valor efêmero, não é mesmo?

– Concordo. Inclusive a Loja Maçônica Aliança Sertaneja já levou esse preito ao Grão Mestre e este assumiu o compromisso de levá-lo ao Governador do Estado, pedindo o seu empenho no sentido de impedir a ação dessas empresas nas nascentes do Rio de Contas. No mais, não conheço nenhum grande projeto ou reivindicação desses outros setores. Especialmente de políticos.

– Que saudade tenho do Conselho da Cidadania? Infelizmente morreu nas mãos de pessoas de duvidosa postura política.

– A história política de Brumado sempre foi controvertida. Basta pensar um pouco!

– Em tese, os partidos políticos sempre fizeram muito mais mal do que bem a Brumado.

– A tese é boa. Resta desapego para ser reconhecida, analisada e revertida. Porém, a paixão é muito maior que tudo.

– Em resumo, Zé, foi boa essa conversa. Pelo menos estamos denunciando um fato grave que é a agressão ao Rio de Contas. Vou buscar outras informações para ver o que podemos fazer.

– Vou fazer isso também. Conversar com algumas pessoas de Piatã, Abaíra, Jussiape e Comunidades nesse entorno. Quanto mais gente melhor. O fato é que daqui de Brumado para baixo, o grande poluidor é o Rio do Antônio, que já morreu desde às suas nascentes.

– Verdade isso. Chegou aqui em Brumado e recebeu o golpe fatal. Que vergonha!

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