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BOI DE PIRANHA TURÍSTICO

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A cúpula de poder da presidenta Dilma Rousseff acaba de dar um tiro no pé. Há algumas semanas convencionou-se classificar que o governo estava promovendo uma faxina para, supostamente, extirpar as alas políticas podres nos seus ministérios. A isso, soma-se o perfil intransigente da chefe, que em apenas oito meses de gestão, já defenestrou três ministros de Estado. Ao que tudo indica, a bola da vez é o ministro do Turismo, Pedro Novais, do PMDB do Maranhão e afilhado político do senador José Sarney, um dos mais importantes nomes da base aliada dilmista.
Engana-se quem se antecipar em dizer que a operação Voucher, da Polícia Federal, será um agravante numa hipotética crise institucional. Depois das pressões do PR, a base aliada foi sacudida pelas denúncias da revista Veja revelando corrupção no Ministério da Agricultura, outro feudo de porteira fechada do PMDB. Imediatamente, o governo tratou de blindar o ministro peemedebista Wagner Rossi, indicação direta do vice-presidente Michel Temer, garantindo sua total e irrestrita idoneidade, com defesa declarada pela própria presidenta da República. Mas como explicar à sociedade, à imprensa e aos demais partidos da base, que a faxina não abarcaria os ministérios do “partidão”?
Está óbvio que a escolha do Ministério do Turismo para protagonizar a cota de faxina no PMDB é uma articulação ao estilo “boi de piranha”. Soa, inclusive, que a ação da Polícia Federal tem o dedo dos próprios peemedebistas, que desde janeiro instalaram um verdadeiro “bunker” no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República. Depois de detonar o PR no Ministério dos Transportes, a presidenta Dilma precisava acalmar a fúria dos republicanos em ver sangue jorrar também de outros membros da base aliada, além de fazer uma média junto à sociedade, que deseja vê-la enfrentando o PMDB.
Destronar o ministro peemedebista Pedro Novais constará, em aspecto geral, como uma ação emblemática. Ele é uma indicação pessoal do eterno super-poderoso presidente do Senado Federal, José Sarney. E não apenas pela figura ministerial apadrinhada. A operação Voucher deu foco especial a supostos desvios de recursos públicos através de convênios de capacitação profissional no Amapá. Não por acaso, trata-se do estado por onde Sarney foi eleito senador. Por fim, o governo Dilma também pode se livrar do ministro que lhe causou embaraço e constrangimento ainda no período de transição, antes da posse em janeiro, quando o então deputado federal Pedro Novais, já indicado para o Turismo, foi flagrado pela imprensa utilizando dinheiro público da Câmara para pagar a noitada de muitos em um motel no Maranhão.
No balaio da operação da PF, com 38 mandatos de prisão e 07 mandatos de busca e apreensão expedidos, não estão apenas funcionários apaniguados pelo PMDB. Há na lista de investigados com prisão decretada um petista proveniente da época em que a agora senadora Marta Suplicy foi prefeita de São Paulo. Ou seja, essa falseada faxina é extremamente bem-vinda à presidenta Dilma, que em um único tiro, mata vários problemas e ainda lucra junto à mídia e ao público com sua vassoura administrativa. Pesquisas internas do Palácio do Planalto comprovaram que esse movimento de pseudolimpeza nos quadros federais está fazendo bem à popularidade da chefe da nação.
O que fica muito claro nessa história de “faxineiros” é que o atual modelo de gestão esgotou-se por completo. Não há mais a possibilidade de governar com alguma decência tendo um excesso de indicações políticas para ocupação de cargos públicos. O extremo loteamento da Esplanada com apaniguados ultrapassou todo e qualquer limite e a falência desse formato é evidente. Muito além de uma simples faxina, a missão da presidenta Dilma Rousseff é promover uma reengenharia na concepção e construção de um corpo governamental de funcionários. E ela não irá lograr êxito jogando “bois de piranha” no rio para deixar a boiada de bandidos escapar ilesa pelos cantinhos escuros dos palácios de Brasília.

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