A imprensa do Brasil e do mundo está noticiando sem parar a posse de Dilma Rousseff. Além do fato histórico e político, falam da cerimônia quase impecável, dos países representados, dos pormenores modistas e, claro, da despedida do ex-presidente Lula. No entanto, a grande maioria parece estar presa ao cerimonial, ao que nos era protocolar e, portanto, muito semelhante às outras posses que vimos pós-redemocratização. Até os discursos da presidente soaram peças revisitadas. E não poderia ser diferente, afinal, trata-se de uma formalidade. Desta feita, prefiro me ater ao que está out protocolo, à observação do imprevisto, ao notável e não notório.
O melhor momento da posse presidencial foi, sem sombra de dúvidas, quando Dilma Rousseff, já empossada como 36ª Presidente da República, desce a rampa do Congresso Nacional e passa em revista as tropas militares. Pensei comigo: o que passará pela cabeça da primeira mulher a executar tal movimento e justamente ela, por eles barbaramente torturada no passado? Em ambos momentos históricos ela estava só. Apenas ela. Há 40 anos estava sendo massacrada pelos militares nos porões sombrios da ditadura e hoje passava-os em revista como sua Comandante-em-Chefe. Sozinha. Nada de família, amigos, penduricalhos políticos ou aliados. Apenas Dilma Vana Rousseff, presidente do Brasil e chefe das Forças Armadas. Histórico.
Mas como não mencionar Sua Excelência, o presidente do Senado Federal, José Sarney, dando posse à presidente Dilma e depois desfilando ao seu lado na rampa do Congresso com aqueles óculos escuros que imediatamente remeteram à sua foto na capa do livro “Honoráveis Bandidos”, de Palmério Dória (Geração Editorial, 2009, 208 páginas)? Não poderia ser mais ilustrativo. Para completar sua jornada inglória, Sarney não ficou para o coquetel presidencial no Palácio do Itamaraty. Acompanhou o choroso ex-presidente Lula até São Bernardo do Campo, onde subiu no palanque e disse aquelas baboseiras puxassaquistas de sempre. Para Lula esse happy end não poderia ser pior.
Impossível também não citar a desconhecida figura que subiu ao parlatório do Palácio do Planalto no momento da transmissão da faixa presidencial e do segundo discurso de Dilma. Uma jovem e belíssima Rapunzel, com suas tranças de princesa a encantar os presentes e os telespectadores. Trata-se de Marcela Temer, a partir daquele momento nossa vice-primeira-dama. Ex-miss Campinas e segunda colocada em um sem fim de concursos do interior paulista, a esposa do vice-presidente Michel Temer roubou a cena. Aos 27 anos, Dona Marcela só perde para Maria Teresa Goulart, que tornou-se vice-primeira-dama da República aos 17 anos de idade. Mas a celebrada beleza da mulher de Jango encontrou uma forte concorrente, que já faz história como uma das mulheres mais bonitas dos círculos de poder político. E, óbvio, o vice Michel Temer não escapará da língua afiada dos piadistas!
Vale destacar o papel ridículo a que se prestou o Cerimonial da Presidência da República. Depois da navalhada cometida pelo ex-presidente Lula ao afirmar que sentia-se feliz por ver os EUA em crise, era esperado um pouco de elegância diplomática do Palácio do Planalto. Ao contrário, fizeram questão de colocar a secretária de Estado Hillary Clinton logo à frente presidente maluco da Venezuela, Hugo Chávez. Porém, ainda mais constrangedor foi o Itamaraty não ter convidado Hillary para o coquetel presidencial após a posse. Ao chegar à festa e perceber que era literalmente uma penetra, a secretária norte-americana puxou a carroça e foi embora antes mesmo da chegada de Dilma Rousseff. Por mais que existam inúmeras críticas e atritos entre o governo petista e os EUA, para efeitos de diplomacia internacional – principalmente em tempos de crise por conta do WikiLeaks – foi uma grosseria sem precedentes da turma do top-top. Uma vergonha, em suma.
No mais, tudo tranquilo. Bonito. Dilma falou e falou muito. Lula chorou e chorou muito. Correu para os braços do povo em despedida. Chorou mais. Entrou no carro oficial, colocou a cabeça e os braços pra fora e foi embora para São Bernardo do Campo com sua Dona Marisa, finalmente adequada e impecavelmente vestida – pena que só no último dia, na despedida. Dilma Rousseff seguiu seu caminho, rumo aos compromissos da primeira mulher a vestir a faixa verde e amarela de Presidente da República Federativa do Brasil. E nada me fará esquecer o beijo na flâmula e o olhar vitorioso da Presidenta e Comandante-em-Chefe passando suas tropas militares em revista.