Parte I – Mamãe Mandou Dizer Que Eu Não Tenho Vergonha e Você Também Não…
É verdade. Se é que a arte imita a vida, a representação real de certos Vips, tanto na atividade pública quanto na privada, mais que mera imitação, tem pregado ao distinto público peças que, malgrado o fato de causarem constrangimento, nojo e/ou indignação ao cidadão comum, se revelam piadas absolutamente reais. E muito engraçadas. Literalmente engraçadas de doer.
São piadas reais que vêm de longe. A de Nero tocando fogo em Roma para fazer poesia. A dos desafetos dos nobres que conseguiam suicidar-se com dúzias de punhaladas nas costas. A do estigma do pecado de quem afirmava não ser a terra o centro do universo e a do pedido de perdão só cinco séculos após. Etc.
São piadas perversas que aqui também vêm de longe… como a que conta a nossa história em que Caxias é o mocinho e Solano o vilão, ou como a que conta, vice versa, justo ao contrário, a história paraguaia. Ou como aquela da ditadura militar que, “em nome de Deus, da democracia, da pátria e da liberdade” se auto-intitulou “revolução… – e para escárnio da história – redentora”. Ou como a da reforma previdenciária que deformou bonito em nome da salvação da economia. Ou a das nomeações secretas… até por direito vitalício.
Tem também aquela do edil-presidente catingueiro que afoga as contas da casa legislativa em água mineral (torneiral) faturada a preço da importada Perrier, ainda mais sem temer que lhe caia sobre a cabeça o forro de gesso de terceira que mandou faturar como de primeira. Ou a dos deputados federais que assinaram projeto de lei para incluir na cesta-básica do trabalhador um litro da que-matou-o-vigário. Ou a da aprovação pelo Legislativo Estadual de CET que repõe aos serventuários-marajás as comissões-sobre-comissões que, inclusive por sobrecarregar o orçamento do Judiciário, o CNJ declarou ilegais. Ou a do corte de ponto dos serventuários-arraia-miúda que entraram em greve para não perder parte da sua modesta remuneração, como forma de compensação que visa manter nos trilhos o trem-da-alegria dos marajás. Ou a dos dirigentes da OAB que não se solidarizaram com os servidores em greve sob a alegação de não terem “nada com isso” por que “eles têm seu Sindicato.” Ou a da suspensão da tramitação do projeto do aborto durante o período eleitoral para não prejudicar a campanha dos candidatos favoráveis à matança. Ou a do Presidente que debocha ao ser agraciado com multas que além de reduzir a quase zero o custo do palanque de campanha da sua candidata ainda lhe asseguram horas extras de propaganda eleitoral gratuita… até no Jornal Nacional. Ou a de Lulinha The Flash, o Bilionário. Ou a do bolsa-eleitor, para quem não pode ser Lulinha.
Agora, tem aquela bem recente. Lembram-se da Roseana? A do milhão e meio na caixa de sapato e que por isso mesmo teve sua candidatura presidencial fritada pelos peessedebistas e rifada pelos petistas? E tudo só por falta de classe: A madame não sabia que botar dinheiro em caixa de sapato era e é coisa de pobre. Se ao menos fosse na cueca ou – supondo que ela não as usa – nas meias ou nas malas, tudo bem! Além de estar na moda ficaria sempre mais light, elegante e discreto. Em fio dental também não pode. Além de agasalhar pouco dinheiro dá muito na vista, pô!
Pois bem, vamos à mais nova da dita cuja: Há poucos dias, ela fechava a compra à vista, quexe, de mais alguns delegados do PT maranhense para dar apoio à sua candidatura. O preço de cada um, conforme o seu potencial de votos e de prestígio, variou de vinte a quarenta mil reais. Tão logo quitado o lote comprado a respeitável consumidora de consciências, selando justa homenagem aos petistas maranhenses – extensiva aos demais petistas desse País – em memorável discurso que ainda ecoa nos céus da Capitania do Maranhão proclama emocionada: “Eu não tenho vergonha de vocês, e vocês não têm vergonha de mim”.
Falou, bicho! Ninguém tem vergonha. É uma sem-vergonhice geral!
Parte II – De Como Dom Quixote Virou Rocinante Para Ser Montado Por Sancho Pança.
Agora, no Horário Eleitoral, o Collor garante: “Lula melhorou o que eu fiz.” Aí, perguntamos nosoutros: Qual das duas grandes realizações do Collor Lula teria melhorado? A primeira, o confisco da poupança, ao menos por enquanto ainda não foi tentada. Digo por enquanto por que com a popularidade do homem perigando ultrapassar os cem por cento se ele fizer qualquer confisco ainda contará com a eterna gratidão do povo. A outra grande realização do presidente collorido como sabem gregos e alagoanos foi a que lhe valeu a fama e a perda do mandato! Mas isso foi uma tremenda injustiça! Tanto que, como diria o grande Sarney em veemente protesto ao ter a privacidade das suas nomeações secretas injustamente violada, o “homem público tem de ser respeitado tanto por sua história pregressa, como por sua contribuição em prol da governabilidade”. E Collor, por apreço aos mesmos valores e roxamente solidário ao triunvirato que acaba de formar com os seus novos e bons companheiros, também concorda. E tanto concorda que a sua propaganda eleitoral, lindamente collorida e de forte impacto sócio-emocional, vem empolgando o horário eleitoral alagoano com o formidável jingle cujos versos dizem e garantem: “É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma, pelo bem dos mais carentes. É Lula apoiando Dilma, é Dilma apoiando Collor, e os três pelo bem da gente.” E digo eu e garanto: Êta trinca arretada, roxa e cabra da peste, ochente!
E tem também aquelas que confirmam de uma vez por todas a soberania das convenções do PT e o rigor da disciplina partidária dos seus militantes. Como a da Convenção Nacional, ou seja, Lula, que bateu chapa sozinho e decidiu a candidatura de Dilma. Ou como a da Convenção Mineira, ou seja, Lula também, que mandou o cavaleiro andante Patrus, do PT, renunciar à vitória certa como candidato a governador, concedendo-lhe em contrapartida a honra de assumir na posição de vice as funções de escudeiro fiel do candidato do PMDB. E foi assim que o mui disciplinado Dom Quixote, aceitando por justo ser apeado do título de Cavaleiro da Triste Figura e não se entendendo merecedor sequer da vice-honraria, tanto se agachou grato e obediente que cumpriria feliz até mesmo a ordem, se emanada de Sua Excelência, a Convenção, de virar Rocinante para ser montado por Sancho Pança!
Ah! E tem também a daquela realização de elevadíssimo impacto ibopeano e datafolhístico, geradora de retumbante efeito cascata no processo eleitoral, que o presidente Lula vem noticiando em campanha mais ou menos assim: “o sucesso do trem-bala se deve a Dilma a quem, por obrigação moral, dou todo esse crédito.” Não entendi. Mas, como sou teimoso e chegado às elucubrações, elucubro: o crédito Lula dá. Certo! O sucesso as pesquisas conferem. Certo também, fazer o quê? Mas o trem-bala, cadê? Onde? Quando? Quousque? Será que Lula não embolou a língua e as idéias de novo e trocou trem-bala por tem-bala. Porque bala tem. Tem-bala pra cacete. Tem tanta que tem até perdida. Para ser achada até por quem não quer ou merece. Tem tanta que está sobrando. E sobrando de vez em quando até pra juiz. É! Mas, elucubro de novo, se o nosso Presidente reconhecer isso sua candidata pode perder votos. Portanto, concluo, é melhor mesmo Sua Excelência ficar com o trem-bala… Que segue garboso e veloz rumo ao Planalto… Entupido do que interessa… Entupido de votos!
Afinal são tantas emoções doídas que nunca se calam e sempre se repetem… Seria isso o tal humor negro? Nem pensar! Por que só cogitar esta classificação já seria preconceituoso, posto que teríamos de segregá-lo do humor branco, do louro, do cafuzo, do amarelo, etc.! Aí então só me resta a alternativa politicamente correta de indagar se essas não seriam simplesmente piadas ao avesso? Se forem, claro, você poderá rir ao avesso! E no caso, com cautela, vigiando-se, atento àqueles recados que sempre são repassados – a quem interessar possa – pelo bom e velho Mateus (18:7 e 23:13 a 15).