Seu Teobaldo era tratado carinhosamente pela família pelo nome hipocorístico de Nonô. Era um homem hílare, baixo, gordo, calvo, usava óculos, de muitos amigos, era considerado uma pessoa feia e se caracterizava pela glutonaria. Tinha prazer pela comida e o fazia com ganância, por assim dizer, doentia. Frequentava restaurantes populares, feiras livres, exposições e aí se esbaldava mostrando as suas qualidades de comilão.
Certa feita, perguntou ao garçom qual o prato do dia e este o informou que era feijoada, um prato da apreciação de Nonô. Solicitou duas refeições completas. Ao servir, o garçom notou apenas uma pessoa e o inquiriu sobre a presença do companheiro. Nonô respondeu que estava a esperar um amigo e, ao final, para matar a curiosidade do garçom, disse que, pelo não comparecimento do parceiro, comera pelos dois.
Por recomendação médica, fora orientado a procurar nutricionista que haveria de lhe passar um regime adequado o qual deveria ser seguido rigorosamente e que serviria, também, para o controle da hipertensão que o acometia.
A mulher de Nonô que se chamava Estela, com característica opostas ao marido, era loura, alta, esbelta, bonita e vaidosa, andava sempre perfumada. Recebera do esposo a alcunha de Naná, numa demonstração da amizade e do carinho a ela devotado, uma dádiva que Deus lhe concedera. As más línguas se perguntavam: O que Estela viu em Nonô para se casar com ele? Certamente, diziam: Foi a fortuna que possuía, porquanto era fazendeiro.
Fez-lhe companhia na consulta ao nutricionista, explicando toda a situação que envolvia o marido.
A partir de então, passou a controlar a gula do cônjuge, fazendo-lhe observação quanto à quantidade e a qualidade da comida a ser ingerida, recomendação que lhe proporcionaria uma melhor qualidade de vida.
Nonô tinha o hábito de visitar a mãe todos os dias. Esperto e, para enganar a esposa, passava na casa da matriarca, sempre ao meio-dia, aproveitando-se para saciar o seu apetite, por saber que, na casa da genitora, estava a salvo do controle da esposa.
Ao chegar à sua residência, já abastecido, comia o que a mulher lhe servia: principalmente, folhas, verduras, pouquíssima carne, refeição sem sal e gordura, e frutas tropicais para sobremesa. Queixava-se que estava passando fome com a dieta maldita que não agradava ao seu paladar, acostumado a comer feijoada, buchada, mocotó, meninico etc.
Ao passar do tempo, a mulher notou que o marido estava no mesmo e isso causou-lhe uma grande preocupação. Procurou a nutricionista e fez-lhe queixa de que o regime não estava produzindo o efeito esperado. Uma dieta mais rigorosa foi recomendada.
Ao visitar a sogra, considerada segunda mãe, fora inquirida se havia brigado com Nonô, pois todos os dias ele passava para almoçar com ela. Foi então que Naná descobriu a treita do marido que, para não contrariá-la, usou desse ardil para ludibriá-la.
“Todo excesso baseia-se em um prazer que o homem deseja repetir para além das leis comuns promulgadas pela natureza” Honoré de Balzac.
A gulodice caracterizada pelo excesso pode ser considerada uma doença que independe da inteligência e da disposição física do indivíduo de controlar a apetência da gastrolatria, portanto, trata-se de um apetite emocional, uma motivação que foge ao controle e vontade da pessoa em satisfazer os anseios desse sentido, daí a condenação da glutonia pela Bíblia e, atualmente, também, pelos órgãos de saúde com relação aos obesos.
Todo esse comentário que se fez em relação à Nonô tem, também, a finalidade de alertar para a obesidade, considerada pela OMS uma doença, que traz sérias consequências para o indivíduo, como a hipertensão o diabetes, e outras doenças que poderão advir dessa condição. Em assim sendo, que as pessoas se cuidem para evitar esse mal da modernidade, alimentando-se saudavelmente.