Inverno em Santa Catarina significa tainha e manacá-da-serra, o jacatirão de inverno. Significa cores e sabores. E cores e sabores me lembram também Portugal. Foi assim que descobri mais uma afinidade entre Brasil e Portugal: minha amiga Mary Bastian, escritora gaúcha radicada em Joinville, é apaixonada por jacarandás floridos. E sabem como? Porque o Pierre Aderne, cantor e compositor francês, que viveu quase toda a sua vida no Brasil e agora está radicado em Lisboa, postou uma foto de um enorme e espetacular jacarandá português florido no Facebook. Vocês já devem tê-lo ouvido, pois a música “Fado dos Barcos”, cantada por ele com a participação de Cuca Roseira, cantora portuguesa, foi um dos temas da novela “Aquele Beijo”. Pois ele postou uma foto, eu vi, a Mary viu e comentamos. Depois ele postou outras – há uma rua em Lisboa cheia de jacarandás – e por último uma foto da minha filhota Daniela, bailarina que está morando em Portugal, onde fez mestrado na sua área. E o intercâmbio de admiração pelos jacarandás e pelos jacatirões – pois eu, evidentemente, postei fotos de jacatirões pejados de flores – rendeu até um poema do Pierre, depois que sugerimos, na rede, que eu era o jacatirão e a Mary era o jacarandá.
Foi inevitável comparar as flores do jacarandá florido com os pés de jacatirão coberto de flores, pois eu sou apaixonado por eles, como Mary é pelos jacarandás – nessa época estão floridos os manacás-da-serra, variedade de jacatirão de jardim que floresce no inverno. E o poema é assim: “jacatirão e jacarandá / vão juntos de mãos dadas pintando a rua / da cor do jamelão, / um vai colorindo o sol e o outro tingindo a lua… / jacarandá e jacatirao / pintores de mãos e almas cheias / … fazem o menino cantar como passarinho / e a menina feito sereia / jacatirão e jacarandá / soprem o inverno / pra logo logo a primavera chegar”.
De maneira que o Pierre, com a sensibilidade do poeta que ele é, juntou duas árvores fantásticas, belíssimas e as paixões de dois poetas que cruzaram com ele num “lugar” que não era próprio para “provocar” a poesia, mas agora é: o polêmico Facebook.
E eu descobri que também gosto dos jacarandás, como gosto de outras grandes árvores que florescem espetacularmente pela natureza deste planeta azul que insistimos em tornar cinza: jacatirões, flamboiãs, ipês, paineiras, azaleias, etc., etc.
Mary me mostrou a Rua Gonçalo Carvalho, em Porto Alegre, consagrada como “a rua mais bonita do mundo”, justamente porque é coberta de jacarandás. Nesta época do ano, a rua está esplendorosa, com as árvores cheias de flores e chão coberto de cores. Como os jacatirões nativos, no verão, pelo norte catarinense. Não é para se apaixonar?
Pena que aqui em Santa Catarina quase não temos jacarandás. Ainda bem que temos jacatirões. No inverno, no outono e no verão. Ainda bem.