Amanheceu.
Ela acordou e ficou quietinha.
Olhos fechados.
O silêncio continuava, ao menos por fora.
Não havia vozes, conversas, nada.
Apenas Ela.
Sozinha.
Os seres inanimados falavam entre si: geladeira, freezer, filtro, relógios…
Lá fora, chovia mansamente.
Um trovão mostra que, por ele, a chuva não ficaria mansa por muito tempo.
Ao longe, ouve-se um intrépido passarinho contando ao mundo que não seria uma chuvinha que o faria deixar de cantar ao amanhecer.
E Ela quietinha.
Ouvindo o seu coração dolorido, tristinho.
A vida entrara em uma rotina há alguns dias e a mesmice parecia ter vindo para ficar.
Ela não sabia o que era sorrir.
Quando Ele se fora, o silêncio entrara por todas as frestas.
E, por conta disso, nada parecia ter sentido.
Era uma dor, um desalento que não havia como explicar.
Vez ou outra, Ela até procurava palavras para descrever o que sentia, mas não tinha como contar tudo que escorria pelos olhos.
E parecia que Ela inteira iria se desfazer.
Parecia não existir mais alicerce para manter-se de pé.
Será que, algum dia, acabaria aquela tristeza e angústia que tomavam conta dela inteira?
Não tinha pedacinho que não estivesse doendo.
E pior que isso: não tinha um movimento que fizesse, palavra que dissesse, o que quer que visse, lembrança que viesse a sua mente que não remetessem a Ele.
Tudo por tanto tempo fora tão diretamente a Ele ligado e, agora, não mais.
O que sentia era algo indescritível.
Não existiam palavras que pudessem definir o que havia em seu coração.
Talvez o que mais se aproximasse da verdade fosse dizer que, por dentro, lá dentro de si, estava tudo completamente vazio, só havia um coração batendo descompassado sem saber para onde ir.
Continua na quarta-feira.