Eu gostaria de que alguém me falasse sobre as minhas tantas dúvidas. Alguém que me fizesse entender porque são tantas as nossas diferenças.
Já não sou tão jovem. Acumulo, em minhas malas, aprendizados e experiências. Leio um pouco de tudo o que mostra-se agradável. Observo cuidadosamente o meu modus-vivendi comparado ao de outras pessoas daqui e de outros lugares. Vejo com atenção quais resultados advêm de nossos diferentes comportamentos. Preocupo-me com o que vêem, sentem, aplaudem ou repudiam a respeito dos rastros que vou imprimindo pelo curto caminho por onde trafego até o meu ponto final.
Pergunto-me se, porque já não sei a quem perguntar, por tudo o de que falo ou faço. Será melhor buscar acenos de gratidão, afagos, elogios, aplausos? Ou será melhor fechar olhos e ouvidos para não ver sinais de repulsa nem escutar vozes de repugnância?
Pergunto-me, porque já não sei a quem perguntar, se será melhor errar conscientemente. Pensar só em mim e ignorar os resultados nefastos das minhas práticas espúrias e indecorosas, como tornou-se usual na vida pública brasileira? Ou será melhor esquecer minha consciência, modismo atual, materializar meus sentimentos e fazer de tudo e de todos degraus de uma escada que me eleve a grandes conquistas para galgar o topo da glória?
Pergunto-me, porque já não sei a quem perguntar, que qualidade de vida devo construir para mim. Que tipo de exemplo devo ser para aqueles que nutrem alguma admiração por mim. Para aqueles que sabem de mim, acompanham-me ou seguem-me. Que ferramentas devo carregar para construir a minha personalidade. Se me convém buscar sabedoria, dignidade e moralidade para ser alguém assim. Se mostro-me com brio, por ser mais decente ser derrubado e nunca, por egoísmo, derrubar ninguém.
Ou se me convém saber enganar, usar da mentira (ferramenta do poder) como instrumento de conquista, sorrir e fazer escárnio daqueles que não lograram êxito por praticar o bem. Aproveitar-me da ignorância e miséria alheias, que fragilizam, para estabelecer–me com sucesso. Esquecer-me de ser (em desuso) e impor o ter (valor atual). Registrar-me com o símbolo da impunidade que me propicie e facilite a prática ilícita de fraudes como subtrair o alheio (particular ou público) despreocupadamente. Aceitar a legalização do roubo. E ainda, acumular bens e riqueza sem, sequer, haver trabalhado (profissão: política).
Clamo aos quatro ventos, porque não sei quem quer me escutar, que se acenda uma luz para iluminar a minha trilha. Que Deus me ouça, me guie e dê-me forças para romper a cancela fechada do meu melhor caminho:
Adapto-me a esta cultura vil e asquerosa institucionalizada que fez de toda nossa massa cega bons alunos e seguidores de uma elite dominante e cretina? Ou escolho para mim a cidadania digna, hoje proibida, e fico só?
Curvo-me, ajoelho-me e aqui me prostro agradecido aos poderosos podres que me inspiraram e forneceram estas ideias.