Há algum tempo que a narrativa predominante na sociedade brasileira, influenciada principalmente pela nossa imprensa do Jornalismo da Obediência, é de que a corrupção nojenta e endêmica foi criada a partir dos últimos anos por indivíduos que fazem parte de supostas organizações criminosas.
E a cantilena segue como uma das principais verdades absolutas do mundo político, como se a política como coisa em si tenha começado apenas na última década, como se o resto da história devesse ser esquecida, porque foi protagonizada por meros moralistas e religiosos preocupados com o bem-estar do povo, e com a ética em relação às coisas públicas.
E essa dança a partir dessa canção maviosa para os ouvidos segue em frente porque quem menos sabe sobre política e como ela funciona é exatamente quem dela deveria se beneficiar, o povo. Este é despolitizado pela sua própria natureza por ter sempre a memória curta, como pregava Nicollò Maquiavelli.
Desde sempre que personagens do mundo político gastam verdadeiras fortunas para possuir mandatos políticos nos parlamentos e nos executivos, porém os subsídios que recebem nos 48 meses que exercem seu poder não cobrem tais gastos de campanhas eleitorais. Mas disso, o povo nada sabe, e se sabe bem que se esquece, porque para este política é apenas as eleições que acontecem nos outubros a cada dois anos.
Toda essa belíssima narrativa para audiência não passa de mentira, porque a corrupção sempre existiu e sempre vai existir, caso não se reforme as instituições responsáveis pela condução das coisas políticas. A corrupção sempre vai existir porque ela se faz necessária diante do povo que despolitizado é mais corrupto do que quem o corrompe.
O máximo que se discute é criar mais “currais” eleitorais, quando se trabalha o discurso de que o povo não deve ser politizado, como por exemplo, o discurso de Escola Sem Partido. Escola é não lugar de partido, mas é lugar de formação, e quem discursa contra a formação política que deveria ser também prerrogativa da escola, é exatamente quem quer o povo imbecilizado para lhe dá o voto cegamente.
Para começar a diminuir a corrupção no mundo político, porque ela não se acaba como querem alguns que leem mais dos que os outros, a não ser que se acabe com o gênero humano, a saída mais correta seria não termos como discursam esfomeados pelo poder escola com partido de fato, mas escolas apropriadas e financiadas pelo próprio Estado, para ensinar ao povo como funciona o Estado brasileiro, como funcionam os partidos políticos e como funcionam as estruturas eleitorais.
Somente, e somente assim, o povo não venderia seu voto e não deixaria que indivíduos que nem mesmo com seus salários de 48 meses de poder custeariam essas campanhas milionárias. As campanhas eleitorais são financiadas por empresas que querem o dinheiro do Estado via licitações públicas e outros meios jurídicos exigidos, que necessitam dos lobistas no Congresso e nos espaços executivos, porque o povo é mal-educado politicamente.
Não adianta discursar bonito contra a corrupção, enquanto o povo não compreender o papel da política. Quem primeiro consente a corrupção é o eleitor que vota em quem mais gasta dinheiro nos três meses que precedem o processo eleitoral no Brasil. E quem mais contribui com esse distúrbio no país é exatamente parcela da mídia do Jornalismo da Obediência, que fica com a grande parcela do dinheiro roubado por empresas para indivíduos serem seus quadros nos parlamentos e nos executivos.
O povo precisa de educação política, porque quem politiza parcela desse povo no Brasil hoje são os partidos políticos, de direita e de esquerda. E partido político não quer nada menos do que o poder, ou seja, controlar o próprio Estado.