Por Camila Costa
Já pensou não precisar sair do sofá da sala para ligar a mangueira e medir o fluxo de água ideal para molhar o jardim? No que depender de um grupo de alunos da Escola SESI Ignez Pitta de Almeida, em Barreiras, na Bahia, isso já é realidade. Orientados pela professora Kelly Rahna Barbosa, de 29 anos, os estudantes criaram um projeto de irrigação via bluetooth. Um aplicativo baixado no celular, apenas em um toque e o sistema é acionado do lado de fora da casa.
O projeto foi um dos destaques do 3º Encontro Nacional do Sistema Estruturado de Ensino da Rede SESI, que reuniu representantes dos Departamentos Regionais de todo o país, nos dias 29 e 30 de novembro, em Brasília. Ao todo, 20 experiências exitosas de diferentes cidades brasileiras foram destacadas durante o evento. A professora Kelly Rahna foi homenageada ao lado de outros 19 mestres pelos trabalhos desenvolvidos com os alunos.
Ao todo, 100 alunos se envolveram na proposta de Kelly, que era dar vida ao projeto ‘Aplicando a metodologia científica na sala de aula para a vida’. Ou seja, introduzir a metodologia científica, com todas as suas etapas e criar, desenvolver, um projeto a partir de problemáticas do dia a dia. Algo que pudesse ser aplicado, com a ajuda da tecnologia, na solução de dilemas do cotidiano. O sistema de irrigação via bluetooth foi um dos 11 projetos eleitos para participar da mostra científica da escola Ignez Pitta de Almeida; e o primeiro classificado entre os três melhores, após sete meses de empenho dos alunos.
Para Kelly Rahna, o mais desafiador foi conseguir lidar com a interdisciplinaridade. E ela se inclui nessa difícil tarefa, de deixar para trás o que sempre está acostumado a fazer para se reinventar. “Sair um pouco da caixa, no caso eu, formada em biologia, as vezes só pensa em problemáticas que envolvem biologia; e o aluno traz uma demanda que envolve química, que envolve física, que envolve programação, e ai você também estabelecer contato com outros professores da unidade, pensar juntos, então não apenas os alunos tiveram que pensar, mas enquanto professores, como unidade, pensar juntos para estabelecer estratégias para auxiliar eles”, explica.
No caso do projeto irrigação, por exemplo, segundo Kelly, foi preciso que os alunos mergulhassem em noções de matemática, física, que ajudassem a calcular qual seria a vazão da água, o tempo de irrigação, quanto de tempo para cada tipo de solo, entre outros cálculos. No segundo projeto selecionado, um outro grupo de estudantes criou um cosmético à base de retinol. Um creme esfoliante feito a partir de um fruto típico da região. Com a casca conseguiram o cheiro, com a polpa eles fizeram o creme e usaram o caroço para causar abrasividade. O terceiro destaque foi um projeto de desenvolvimento de um bioplástico feito com banana verde.
Preparando para a vida
Com o certificado de reconhecimento por experiências exitosas em mãos, Kelly Rahna diz que o mais gratificante foi ver os alunos abraçarem a ideia e encararem o desafio, de não apenas tirar uma nota ou fazer uma prova. “Além da gente formar futuros profissionais, a gente tem que formar bons cidadãos, que pensam problemáticas. Quando ela me traz assim, vou fazer um projeto de irrigação, vou fazer para o pequeno produtor. Quanto que eu consigo ajudar? A gente tem que formar esse tipo de cidadão, isso é a melhor contribuição que podemos dar pra (sis) eles enquanto professor”, avalia.
Além da apresentação das 20 melhores práticas pedagógicas de 2018 da rede SESI, os representantes dos Departamentos Regionais participaram de uma palestra sobre STEAM, uma metodologia que trabalha de forma integrada as áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática e é baseada na aprendizagem por projetos. O modelo STEAM já está sendo utilizado dentro da rede de escolas do SESI.
O gerente executivo do SESI, Sergio Gotti, conta que a metodologia está dentro da rede em termos de currículo, em termos de mudança profissional, inclusive, dentro do perfil dos profissionais que são contratados. O encontro, o terceiro proporcionado pelo SESI, é um desafio, mas também uma forma de reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelos docentes nas salas de aula. “Tiveram engajamento e o mais importante, geraram bons resultados, melhores resultados, na questão da aprendizagem. São projetos significativos, que trazem uma diferença para a vida dos nossos alunos e que os professores se motivam cada vez mais”, explica Gotti.