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Prefeito de Brumado interpela ex-prefeito e quer explicações sobre discurso feito em Audiência Pública

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Da Redação*

 

O prefeito de Brumado, engenheiro Eduardo Lima Vasconcelos (PSB), protocolizou no Juizado Especial Criminal da Comarca uma interpelação judicial de pedido de explicações contra o ex-prefeito do município, médico Geraldo Leite Azevedo (Sem Partido).

O mote para a decisão de interpelar o ex-gestor foi o pronunciamento feito por Azevedo por ocasião da Audiência Pública realizada em Brumado pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Infraestrutura Hídrica e Saneamento da Bahia, para apresentação de um projeto de implantação do sistema de esgotamento sanitário da cidade, quando fez duras críticas ao Governo Municipal, em alguns trechos direcionando juízos de valor supostamente ao Chefe do Executivo Municipal.

A eloquência do pronunciamento feito por Geraldo Leite Azevedo, que encantou os adversários do Governo Municipal presentes à Audiência Pública e foi repercutida pelos meios de comunicação, fez eco no Gabinete do primeiro andar do Paço Municipal, que acusou o golpe.
A veemência com que o ex-prefeito se pronunciou contra a Lei Municipal aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo prefeito Eduardo Lima Vasconcelos, que normatizou e abriu caminho para que a concessão dos serviços públicos de coleta, tratamento e distribuição de água e coleta e tratamento de esgotos sanitários, cujo sistema deverá ser implantado, seja formalizado através de certame licitatório, o que na prática permitirá que empresas do setor privado possam disputar o processo, desbancando dessa forma a prevalência existente nos últimos quarenta e seis anos em favor da autarquia estadual vinculada ao Governo do Estado, incomodou o Governo Municipal, embora seus representantes na Audiência Pública [André Luís Dias Cardoso, titular da Superintendência Municipal de Trânsito e Transportes, e vereador Reinaldo de Almeida Brito, do PSB, líder do Governo na Câmara Municipal] não tenha se pronunciado em defesa da Administração Municipal.

Vinte e sete dias após a realização da Audiência Pública, o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos ingressou com Interpelação Judicial subscrita pela advogada Fabrícia Pinchimel Amorim Castro, que invocou o Artigo 25 da Lei Federal 5.250/67, que trata da regulamentação da liberdade de pensamento e expressão, e o Artigo 144 do Código Penal Brasileiro, para que o juiz titular do Juizado Especial Criminal expeça notificação para que o ex-prefeito esclareça afirmações feitas em sua intervenção no evento promovido pela Embasa.

Na Interpelação Judicial o prefeito Eduardo Vasconcelos questiona pontos específicos do pronunciamento feito por Geraldo Leite Azevedo, questionando quais teriam sido as reais intenções do ex-prefeito quando afirmou que o processo de concessão dos serviços públicos de água e esgoto por parte do Governo Municipal “põe em dúvida, em profunda suspeição, os mais legítimos direitos da cidadania”, ou ainda, “(…) privatizar nesse momento [a concessão dos serviços públicos de água e esgoto) levanta, no mínimo, uma suspeita profunda sobre quais os interesses estão por trás dessa tentativa espúria de tirar do povo brumadense algo que lhe pertence por direito”.

Vasconcelos pede para que o ex-prefeito esclareça outro trecho do seu pronunciamento, identificando quem seria o interessado em “…[privatizar] expor aos interesses do capital aquilo que é sagrado e inerente à vida humana, que é a água e o saneamento básico…”.

Por fim, na solicitação feita ao Judiciário, Eduardo Vasconcelos pretende ainda sejam esclarecidos outros dois trechos do pronunciamento feito pelo médico e ex-prefeito Geraldo Leite Azevedo, um questionando se o “Governo arbitrário” ao qual o orador se referiu é o que ele preside; e o outro, a qual empresa se refere Azevedo quando disse que “… o Projeto [concessão por licitação pública dos serviços de água e esgoto] está sendo direcionado a empresas privadas que muitas vezes não dispõem de capital para os devidos investimentos”, e se o “direcionador é o prefeito de Brumado”.

Embora protocolizado com pedido de urgência, uma vez que pleiteou que Geraldo Leite Azevedo fosse notificado e no prazo de quarenta e oito horas fizesse os esclarecimentos, o Pedido de Explicações, até o fechamento desta edição, não havia sido despachado pelo magistrado titular do Juizado Especial Criminal da Comarca de Brumado, determinando a intimação do ex-prefeito ou o arquivamento da matéria.

Em caso de deferimento do pedido, o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos deverá avaliar se vai propor ou não ações criminais por dano à honra e ações de indenização contra o ex-prefeito.

*Com reportagem de Gisele Costa

 

 

Prefeito não se pronuncia a respeito do Pedido de Explicações protocolado na Justiça

Por Gisele Costa

 

Foto: Fillipe Lima/Arquivo JS.

A reportagem do JS tentou ouvir o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos (PSB) para que ele pudesse explicar as motivações para a propositura do Pedido de Explicações contra seu ex-aliado e se saberia explicar os motivos pelo qual o ex-prefeito, que é apontado como seu amigo pessoal e foi um dos mais importantes cabos eleitorais da campanha de 2016, teria se tornado, após sua posse em janeiro de 2017, um dos mais contundentes críticos da gestão municipal, disparando, sempre que tem oportunidade, avaliações depreciativas em relação à sua atuação como gestor público, mas o prefeito, embora de forma educada, declinou.

Por telefone o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos disse que preferia não se pronunciar enquanto não houvesse um posicionamento da Justiça.

 

 

 

 

 

Geraldo Leite Azevedo: “… Eu não tenho nenhum medo do prefeito, em nenhum sentido. A arrogância dele esbarra nele próprio e não me atinge…”

 

Sobre o Pedido de Explicações protocolado na Justiça pelo prefeito Eduardo Vasconcelos, o médico e ex-prefeito Geraldo Leite Azevedo sublinhou: “(…) O que eu disse, voltarei a dizer quantas vezes forem necessárias. O que nós criticamos naquela Audiência Pública, no momento e no espaço adequado para fazê-lo, e não foi apenas eu que o fiz”. Foto: Gisele Costa.

Em entrevista exclusiva ao JS, na manhã do último dia 28 de fevereiro, o ex-prefeito de Brumado, médico Geraldo Leite Azevedo, fez considerações em relação à interpelação judicial protocolizada pelo prefeito Eduardo Lima Vasconcelos, relacionadas a declarações que fez durante a Audiência Pública realizada pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Infraestrutura Hídrica e Saneamento da Bahia, quando colocou-se frontalmente contrário à Lei Municipal nº 029/2018, aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo prefeito, que abriu espaço para a privatização da concessão dos serviços públicos de água e esgoto.

Confira os principais trechos da entrevista:

JORNAL DO SUDOESTE – O senhor está sendo interpelado judicialmente pelo prefeito Eduardo Vasconcelos para dar explicações sobre declarações que deu na Audiência Pública realizada em Brumado pela Embasa. Como o senhor recebeu essa notícia?

GERALDO LEITE AZEVEDO – Primeiramente permita-me agradecer a oportunidade que me concedem de prestar essa entrevista para o conceituado Jornal do Sudoeste, veículo muito importante de Comunicação aqui em Brumado e em toda região do Sudoeste da Bahia. Com relação à pergunta, eu fiquei surpreso, deveras muito surpreso, com uma interpelação judicial que não tem nada a ver com o que foi dito numa Audiência Pública. O que eu disse, voltarei a dizer quantas vezes forem necessárias. O que nós criticamos naquela Audiência Pública, no momento e no espaço adequado para fazê-lo, e não foi apenas eu que o fiz, foram diversas pessoas representando diversos Órgãos e Instituições da sociedade organizada de Brumado, alguns até tiveram discursos e pronunciamentos muito mais contundentes que o meu. O meu, que inclusive o prefeito se referiu a ele num certo vídeo que gravou, como poesia, como algo poético, de tão doce, de tão brando, de tão respeitoso que foi. Mas o prefeito, em suas atitudes autoritárias, coronelistas, que desrespeitam a opinião pública dos nossos munícipes, acha que tem o direito, simplesmente por ser alcaide municipal, de coibir ou tentar impedir a livre manifestação dos cidadãos. Eu não ofendi, em nenhum momento, a honra e a dignidade do prefeito ou de qualquer pessoa que lhe seja próxima. Eu critiquei, e voltarei a fazê-lo mais vezes, a forma como ele conduz as decisões administrativas em nosso município. Não ouviu os segmentos sociais, não ouviu nenhuma organização brumadense, quer sejam clubes de serviço, a exemplos da Maçonaria e do Rotary Club, quer sejam os Sindicatos e suas diversas modalidades de representação das classes trabalhadoras brumadenses, não ouviu Associações de Moradores, e toma uma decisão radical de, repentinamente, romper uma concessão que vinha se processando há muitos anos, e até no momento impróprio, no momento em que a Embasa revela a disposição de investir, de imediato, 20 milhões de reais para iniciar a construção da rede de esgoto, um projeto que pode chegar a 80, 90 milhões de reais, talvez até mais, de investimento, recursos que nenhuma empresa particular tem, ou mesmo aquelas que têm, não estariam dispostas a investir nessa infraestrutura do saneamento básico. Somente empresas do porte da Embasa, que tem uma participação maior do Governo Estadual, podem fazê-lo, e a Embasa estava disposta a fazer e está disposta ainda a fazer, mas da forma como o prefeito conduziu, claro que soou como uma forma autoritária. Ele, inclusive, se recusou a participar da Audiência. Mais do que isso, ele tentou impedir a realização da referida Audiência Pública e timidamente encaminhou dois representantes do seu Governo, um da bancada legislativa, vereador que é o líder da bancada do Governo, e outro da própria Administração. Mas, ambos se silenciaram absolutamente, não emitiram sequer uma opinião, sequer respaldaram o ponto de vista do Executivo Municipal, apenas ouviram, e o que eles todos ouviram, inclusive de alguns vereadores da própria bancada de apoio do prefeito, foi uma declaração favorável a um diálogo com a Embasa. Há uma expectativa de que a Embasa, que até agora não vem cumprindo com as suas obrigações de promover o saneamento, fazer a Estação de Tratamento de Esgoto, a famosa ETE, e canalizar os eflúvios para uma rede de esgoto que seja depois tratada, se sinta pressionada por toda a sociedade brumadense. Aí sim depois de uma atitude dessa natureza, auscultando o desejo sincero e a expressão inteligente do nosso povo, poderia até a se chegar a essa tentativa de privatizar os serviços de saneamento básico e água, que a meu ver, como a história tem mostrado, não tem dado certo em lugar nenhum, nem no Brasil, nem em países de primeiro mundo, em que alguns deles tinham essa forma privatizada de água e tratamento de esgoto e saneamento básico, mas eles até retrocederam, porque viram que um bem essencial como a água não pode estar sob risco de interesses particulares, capitalistas, que visam mais ao lucro do que à servir a comunidade.

 

JS – O senhor foi um dos mais importantes, se não o mais respeitável apoiador da campanha vitoriosa do prefeito Eduardo Vasconcelos em 2016. Hoje, o senhor é reconhecido como o mais combativo adversário do Governo Municipal. O senhor diria que foi traído? Que foi às ruas defender um projeto e que consumada a vitória o prefeito mudou os rumos do modelo de gestão que foi apresentado à sociedade?

GERALDO LEITE AZEVEDO – Pergunta interessante, eu gostei. Olha, eu, pessoalmente não fui traído pelo prefeito, como você mencionou. Quem foi traído foi o povo de Brumado que votou em uma pessoa que já tinha experiência administrativa e que teve até um histórico razoavelmente produtivo de trabalho em um momento econômico e conjuntural do país que favorecia investimentos. A Era Lula, a Era Dilma, com municipalização da Saúde, com municipalização da Educação e, por conseguinte, maiores transferências de recursos orçamentários para todos os municípios, e aqui permita-me um parêntese, eu governei Brumado em uma época que não existia nada disso, que os recursos eram transferidos para o Governo do Estado e que tinha lá, também, uma pessoa de personalidade autoritária, que discriminava as Prefeituras cujos Governos lhe eram de oposição. Nós, como prefeitos anteriores a mim e posteriores a mim, como foi o caso do Senhor Edmundo Pereira [ex-prefeito Edmundo Pereira Santos, atualmente filiado ao PT], não tivemos os mesmos recursos que obteve o atual prefeito desde o início da sua Administração. Para dizer só um exemplo, a Saúde, a verba que era para a Saúde, que até 2004 era cerca de 50 mil reais por ano, saltou em janeiro de 2005, já no primeiro ano de Governo do atual prefeito, para algo em torno de 300 mil reais, representando seis meses de implementação, fruto da municipalização da Saúde, já desenvolvida no Governo anterior, do Senhor Edmundo [Pereira]. Então, quem se sente traído não sou eu, eu jamais pedi nada ao prefeito. Nesses anos todos que ele é prefeito eu fui à casa dele apenas duas vezes, a convite dele, para um aniversário dele, no primeiro ano ou no segundo ano do primeiro mandato. E uma outra vez, a pedido dele também, fui eu e o meu amigo José Clemente, Doutor José Clemente, conceituado oftalmologista aqui de Brumado, ex-deputado e uma figura importante da nossa vida brumadense, da política brumadense e regional. Ele nos convidou para que eu pudesse me filiar ao PT e integrar uma chapa majoritária, juntamente com ele, para abrir canais de aproximação com o então Governo da Bahia, que estava sob a direção do PT e o prefeito era alinhado com essas forças conservadoras e autoritárias representadas por Antônio Carlos Magalhães (ACM), por Paulo Souto. Mas vendo que não lhe era mais conveniente aquele alinhamento político pretendeu e de fato se alinhou com o novo Governo democrático instalado na Bahia, a partir de Jaques Wagner. Então, eu não fui traído porque nada esperei dele. Eu apenas reconheci que em determinado momento da vida brumadense ele representou um passo à frente no progresso de Brumado. Mas, não querendo dizer que prefeitos anteriores não foram importantes ou nada fizeram, como ele apregoava muito pelas ruas e pelos palanques, fazendo exceção apenas ao meu nome. O que houve entre mim e o prefeito, e isso remonta a um tempo mais antigo, foi uma amizade, fui profissional da Saúde, atendia os familiares dele, os filhos dele aqui no meu consultório e algumas vezes na residência. Atendi até o próprio pai do prefeito, que me solicitou que fosse a sua casa fazer um exame, porque ele confiava muito em mim, apesar de eu não ser geriatra e ser o oposto disso, pediatra, mas essas especialidades têm algo em comum, também cuidam de faixas etárias, uma em formação para a vida e a outra já depois da produção, depois do envelhecimento, em preparação para o pós vida terrestre. Então, não vejo nenhum desconforto em tecer comentários e críticas a ele porque eu não fiz parte do Governo dele, jamais pretendi fazer, jamais pedi cargos a ele para pessoas ligadas a mim, como algumas pessoas, desonestamente em Redes Sociais, colocam. Como se houvesse insatisfação pelo fato de algumas pessoas de minha família ou do meu círculo de amizade não viessem a compor a equipe do Governo. Isso nunca houve, em absoluto, nunca houve, talvez isso tenha havido da parte do prefeito. Quando eu fui prefeito, em função da nossa amizade anterior, eu delicadamente, gentilmente, comentei com ele, que já era inclusive empregado da Magnesita [S.A], já exercia um cargo de juiz classista por indicação do ex-prefeito Edmundo [Pereira], indicado e depois reindicado na sucessão deste mandato que havia inspirado, porque um amigo dele muito íntimo perguntou a ele que esperava que ele fizesse parte do meu Governo, que estaria com certeza em meu Governo, dei uma satisfação gentil que ele era ocupado demais, que eu não via como aproveitá-lo em uma participação em meu Governo. Sabe a resposta que ele me deu? Digo isso perante a imprensa, perante a sociedade e perante Deus, porque não sou homem de mentiras, sou homem de falar a verdade, ainda que a verdade seja dolorosa, ainda que ela traga prejuízos, até para mim próprio ou para terceiros. Ele disse: “se você quer que alguma coisa ande, dê para quem está ocupado, porque quem não está ocupado é porque não tem méritos, não tem valor profissional”. Então, se alguém desejou fazer parte do Governo de alguém foi ele do meu. Eu jamais do dele. Eu só fiz contribuir, contribuir para que Brumado pudesse ter essa aproximação com o Governo Estadual, esses investimentos que não chegavam no passado e isso foi bom para Brumado, eu não nego. Mas o prefeito se mostrou ao longo desse inicial mandato ser um homem diferente do que foi, ser um político muito diferente do que foi, mostrando ou deixando cair a verdadeira máscara da face e mostrando ser alguém que não respeita as comunidades mais pobres, sobretudo do meio rural, tratando-os com indiferença, com desprezo, subtraindo-lhes a energia que deveria estar lá para os poços artesianos, porque o Governo Estadual abria os poços e o contrato era de que a Prefeitura desse manutenção, manutenção mecânica para a bomba, para os equipamentos hidráulicos e arcasse com a conta de luz, com a conta de energia, melhor dizendo, do funcionamento desses poços, e ele cortou isso. Olha que no meu tempo e no tempo do Governo que me antecedeu, também no Governo que me sucedeu, antes do atual prefeito, essa energia era paga pela Prefeitura e, mais ainda, nós dávamos até um pequena ajuda financeira para a pessoa, o cidadão do meio rural ativar a bomba, ligar, desligar, o que implicava muitas vezes em deslocamento de até quatro, cinco, seis quilômetros da residência da pessoa para onde estava ou está instalado o equipamento hidráulico. E tudo isso foi cortado. Ao lado disso, o que a gente assiste em Brumado? Cachorros soltos pela rua, um desprezo aos direitos dos cidadãos de transitarem livremente pelas nossas ruas, pelas nossas praças, com segurança. Brumado corre o risco de vir a ter um surto de Calazar, que é uma doença grave, transmitida por mosquito que pica raposas e outros animais silvestres, vem para os centros urbanos, picam os cachorros, e fica esse ciclo de transmissão. Sendo o cachorro um hospedeiro intermediário e passando, também, a contaminar novos mosquitos que estão urbanizados. Além disso, há os riscos das mordidas dos cães que se sentem donos das ruas, que os moradores, generosamente, alimentam, põem água e esses cães vão proliferando. Há aí um Canil, uma coisa construída no Governo anterior, Governo do Senhor Aguiberto Lima [ex-prefeito Aguiberto Lima Dias, do PDT], mas não concluída, construída quase que completamente. E, apesar, do Termo de Ajuste com o Ministério Público, nós estamos no terceiro ano dessa atual Administração e nada é feito. Então, Brumado vive momentos de tristeza. Não é só o carnaval que foi tirado do povo, tirando a alegria do brumadense, tirando os investimentos que eram feitos aqui através de turistas, geração até de renda para pessoas humildes que expunham as suas barracas, seus produtos nessas festas, circulando a alegria, circulando moeda, irrigando o comércio local e, sobretudo, fazendo o povo ser mais feliz. Isso tudo eles alegam em nome de quê? De investimentos na Saúde. Mas, a Saúde de Brumado também está lá muito bem? Com todas as verbas de que dispõe a Prefeitura Municipal, você diria, como cidadã brumadense, que a Saúde de Brumado atende plenamente os anseios da nossa comunidade? Claro que não! Fazer uma festa, uma vez por ano, implicaria em colocar a Saúde em um patamar de inferioridade que causasse revolta e perplexidade em nossa comunidade? Claro que não! Então, o que nós criticamos é isso aí, é a atitude administrativa, isso para não dizer coisas mais graves. Um prefeito que está com obras que são destruídas pelas mínimas chuvas que acontecem em nossa cidade, e já está com R$ 20 milhões de empréstimos junto à Caixa Econômica Federal. Dinheiro que ele não explica onde vai gastar, dinheiro que ele não explicou para a sociedade e tão pouco para a Câmara Legislativa de Brumado de que forma será paga pelo município, qual o tempo de carência que deverá dar início ao pagamento dessa dívida, quais os juros que incorrem sobre esse montante de 20 milhões de reais. A gente pode apoiar uma coisa dessas? É evidente que não, que qualquer alma sensível, qualquer pensamento razoavelmente inteligente e normal, que ainda existe, até do lado dos apoiadores do prefeito, que estão a cada dia diminuindo em função da arbitrariedade em que ele conduz a política municipal, negando até a receber os seus edis, alguns dos quais lhes davam apoio até recentemente, e negando sobretudo explicar ao povo de Brumado porque está contraindo empréstimos tão vultosos, onde serão gastos, onde serão investidos esses empréstimos. E o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb? Também devemos falar, porque não podemos apoiar um Governo que coloca como slogan e como metodologia de campanha política investir na Educação, “Educar para Libertar”, mas caem do céu, como se fossem um maná, 42 milhões de reais para a Prefeitura de Brumado fruto do Fundeb, um dinheiro para ser aplicado na Educação, e o que fez o prefeito? Desviou esse dinheiro para obras com o escamoteamento de que é para calçar o Caminho para a Escola. Ora, meu Deus, o que as Escolas querem, o que os professores almejam e o que os alunos necessitam é de melhor qualidade de Ensino, é de melhor estrutura física nas salas de aula, ar condicionado que funciona, banheiros limpos e higienizados, profissional de apoio nas Escolas com dois turnos, e olha que esse era um projeto para ser desenvolvido ao longo de alguns anos e ele implanta radicalmente no primeiro ano a despeito de muitas mães não gostarem, porque seus filhos estão mais reclusos do que participando de uma Escola que deveria ser de tempo integral com atividades lúdicas, com brinquedos, com atividades artísticas, com treinamento com profissionais competentes. 42 milhões de reais dava para fazer tudo isso, fazer cursos de reciclagem para os professores, porque há mais de dez anos os professores municipais não têm uma reciclagem, dava para investir e fazer a Educação de Brumado ser uma Educação de primeiro mundo. Mas o prefeito preferiu obras, calçamentos, etc. Nós estamos assistindo e isso não está andando, obras estão paradas. O Ministério Público interveio, mas já foram gastos 17 milhões desse recurso do Fundeb e os outros 25 milhões estão bloqueados. Nós sabemos que o desenrolar desses acontecimentos podem levar, inclusive, a Prefeitura de Brumado a devolver para o Fundeb os 17 milhões gastos indevidamente em obras que não tinham relação com o objeto proposto, que é o Ensino Básico Fundamental. Isso é dizer que existe corrupção no Governo? Não, em absoluto, isso é dizer que há uma política equivocada em relação a aplicação dos recursos que são, legitimamente, direcionados a Educação e que foram desviados para obras de infraestrutura, porque isso pode gerar mais visibilidade política e talvez reverter mais votos ou mais prestígio em momentos curtos de eleição. Nós entendemos o ser humano dentro de um projeto histórico de vida, de uma longa caminhada ascensional para o projeto íntimo e espiritual na busca de felicidade humana, na medida do possível, mas principalmente, com os olhos voltados para Deus e para a eternidade. Por isso eu tenho, dentro da minha alma, a convicção de que exerço o meu direito de cidadão livre para externar quaisquer opiniões semelhantes a essa que coloquei aqui agora para este conceituado jornal.

 

JS – Então, não incomoda ao senhor ter de criticar a atuação de um prefeito que contou com o seu imprescindível apoio para vencer as eleições em 2016?

GERALDO LEITE AZEVEDO – De forma alguma. Política muda, como nuvens mudam no céu, a todo momento. O fato de eu ter feito elogios em um momento do Governo dele, em duas gestões dele iniciais, não me atrela a ser um subserviente político do prefeito, como ele e todos os coronéis políticos imaginam que deve ser. Quem é ele para me ter como subserviente político? Quem é ele para me ter como liderado? Ele que sequer sabe liderar os próprios aliados políticos, que vem aí desagregando dia após dia, criticando-o, às vezes, no silêncio das conversas reservadas. Ele nunca foi um líder político. Aliás, se tivermos que falar em liderança política, Brumado teve três líderes políticos expressivos, históricos: o primeiro, Armindo Azevedo, meu saudoso tio, cujo nome abrilhanta essa praça principal, Praça Armindo Azevedo; segundo, já na sequência de Armindo Azevedo, Dr. Juracy Pires Gomes, um grande líder político, um grande prefeito, mas um líder político que tinha gente que estava com Dr. Juracy, independentemente de partido ou de possíveis alinhamentos partidários que ele adotasse; e teve também uma liderança política mais recente que foi o ex-prefeito Edmundo Pereira Santos, que o povo gostava, que recebia o povo de braços abertos. Assim como eu também recebi o povo, nunca tive um gabinete fechado, nunca tive a minha casa de portas fechadas, nunca me ausentei de morar na sede do município e nunca me escondi em lugares mais distantes, onde o povo não tinha acesso. Mas eu não me considero um líder político, nesse sentido da amplitude que tiveram esses três que nós colocamos. Eu me considero um soldado, humildemente um soldado que hoje faz críticas, que hoje está sintonizado com os anseios populares de Brumado. Sou um soldado, mais um combatente para que Brumado possa mudar o seu destino e ter aqui um regime mais democrático, tudo isso sem abrir mão da austeridade administrativa e da competência na gestão da coisa pública. Isso eu demonstrei quando fui prefeito de Brumado e é por isso que o povo de Brumado me ouve, me considera e me estimula a fazer esses comentários e até a colocar humildemente o meu nome diante do leque de opositores que há a esse Governo atual, para que também seja apreciado dentro de uma proposta de mudança que, sem dúvida nenhuma, acontecerá em Brumado.

 

JS – Se deferido o Pedido de Explicações protocolizado na Justiça, pelo prefeito, o senhor terá dificuldades em responder aos questionamentos?

GERALDO LEITE AZEVEDO – Absolutamente nenhuma. Ele é quem deveria estar respondendo ao povo porque não compareceu na Audiência Pública, eu que o interpelei publicamente. Eu não tenho nenhum medo do prefeito, em nenhum sentido. A arrogância dele esbarra nele próprio e não me atinge, eu tenho feito declarações públicas em um Jornal que é de grande circulação, vai dar mais ressonância a tudo que eu já disse e aquilo eu até ampliei mais e quando chegar o momento de eu prestar esclarecimento às autoridades judiciais, não haverá sequer um declínio de um mínimo que eu tenha lá falado. Possivelmente, eu até acrescentarei mais comentários ao que falei, dentro do respeito aos direitos. Não se pode confundir agressão pessoal com divergência política, isso é arbitrariedade, isso é coronelismo. Eu fui prefeito, houve inclusive pessoas que no meu tempo de Governo fizeram críticas e até ofensas pessoais a mim, o que eu fiz foi em uma Audiência Pública, na Câmara Municipal, com a sociedade de Brumado reunida, os principais segmentos e órgãos representativos e até o nosso saudoso pároco local, o Monsenhor Antônio Fagundes presentes, não processei ninguém porque eu respeito a imprensa, eu respeito a opinião de cada um. E quem não tem a consciência pesada não tem porque se sentir melindrado, ofendido, porque alguém possa ter feito um comentário que venha a gerar desdobramentos por terceiros, de possíveis ações que não tenham sido lá as mais corretas. Não é assim, não é esse o motivo. Se o Judiciário for acatar esse tipo de queixa, esse tipo de interpelação judicial, haverá uma paralisação geral do Judiciário. Há políticos aí fazendo ofensas pessoais, muitos deles, sim, resguardados pelo mandato político e protegidos pela imunidade parlamentar e palavras que, em muitas vezes, são até impróprias em muitas críticas que a gente percebe aí pela imprensa. Mas no que eu falei, onde há ofensa pessoal? Dizer que o Governo subtraiu a alegria do povo brumadense? Que querer privatizar os serviços de água esgotamento, em um momento desse, é um atitude, no mínimo, suspeita? É, sim, é muito suspeita, suspeita de incapacidade, de democracia por não ouvir a sociedade de Brumado, nem sequer os próprios aliados, não ouvir também a Câmara Legislativa que, simplesmente, votou, aprovou e carimbou um Projeto. Essa suspeita aí não quer dizer que é suspeita de interesse pessoal, financeiro, de adquirir vantagens através da privatização. Em momento algum eu falei isso, mas isso também é um inferência que pessoas estão livres para fazer e isso não pode gerar processos, simplesmente porque alguém coloca alguma coisa. No Direito, nós sabemos que se alguém falou ou desejou praticar um determinado crime, mas não materializou esse crime, não existe crime, não existe julgamento porque não houve materialização ou prova de crime. Então, colocar em suspeito uma atitude dessa e eu fiz no calor do movimento da Audiência que estava toda sintonizada com um protesto a esse tipo de atitude. Basta um empresa privada colocar um centavo a menos na conta de água, ganha a licitação. Que a Embasa [Empresa Baiana de Águas e Saneamento] também pode participar, é verdade, mas eu te pergunto, você acha que uma empresa particular não vai querer auferir lucros com o comércio da água aqui em Brumado, vai investir 20 milhões em esgoto, 30, 80, 100 milhões? Não houve isso em lugar nenhum do Brasil, quiçá até do mundo, não seria em Brumado. Então, é isso aí que deixa a população inquieta, a população temerosa, de trocar um serviço que é de qualidade, a água da Embasa, mas que ainda necessita da participação desta empresa na construção do saneamento básico, por outra empresa que só vai fazer o tratamento da água e cobrar tarifas que, no decorrer de algum tempo, com certeza serão maiores, porque a Embasa tira um pouco de capital de municípios que geram mais lucro para investir naqueles municípios que até dão prejuízo. Brumado não está entre os município que dão mais lucro para a Embasa, possivelmente a água aqui em Brumado deve ter uma tarifa até menor do que teria se a Embasa não se dispusesse a realocar recursos de outros municípios que geram mais lucros, maior renda. É esse meu ponto de vista e sempre vai ser esse o meu ponto de vista.

 

JS – O senhor gostaria de acrescentar alguma coisa?

GERALDO LEITE AZEVEDO – Eu falei tanto, extrapolei as perguntas. Eu encerro minhas colocações e mais uma vez reitero o agradecimento ao Jornal do Sudoeste.

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