Não se discute a necessidade de se ajustar as regras da Previdência Social. Mas a inexistência preliminar de laudo de auditoria externa atestando a situação deficitária da instituição é muito preocupante diante da sociedade, que deseja ver transparência nas contas previdenciárias.
Por outro lado, a reforma não pode mascarar a origem dos números reais que levaram ao suposto déficit (por exemplo: desvios ou uso de recursos da previdência para outras finalidades), bem como a responsabilidade dos gestores políticos.
Uma pergunta inquietante é saber se de fato o nosso sistema previdenciário é mesmo deficitário, ou apenas é uma manobra dos governos de se apresentarem operosos diante da sociedade para gerar caixa, quando deveriam cortar na própria carne a enorme despesa pública com a manutenção dos privilégios dos Três Poderes. Por exemplo: as mordomias extravagantes do paquiderme Congresso Nacional, com 594 parlamentares.
Até agora a sociedade conhece apenas os números alarmantes apresentados pelos governos da situação previdenciária. E desconhece a caixa-preta onde estão registradas as entradas e saídas do dinheiro previdenciário.
Sabemos que entre os devedores previdenciários estão empresas públicas e privadas, fundações, governos estaduais e prefeituras. Por que estes não são cobrados?
Por que, também, grandes devedores da Previdência Social, como Itaú, Bradesco, Santander, BB, Caixa etc. não são compelidos a honrar os seus débitos, e os trabalhadores ativos, inativos e pensionistas é que são penalizados?
Por que os clubes de futebol, que pagam soma astronômica pela contratação e salários de jogadores, continuam sendo devedores da Previdência Social, ou são beneficiados pelo alongamento interminável de suas dívidas previdenciárias?
Não é justo e razoável que se pretenda operar a reforma da Previdência, alicerçada apenas em dados numéricos fornecidos pelo governo, quando a sociedade desconhece auditoria externa que comprove a real situação da instituição.
A preocupante reforma da Previdência, como meta de governo, não pode atropelar o debate prévio e direto com a sociedade – apenas ouvindo o Parlamento – nem esconder a origem da dívida e os seus responsáveis – para que no futuro próximo não se venha a propor outra reforma.