Por Lucimar Almeida
O Projeto Social Leões de Cristo, que oferece aulas gratuitas de Jiu-Jitsu para pouco mais de trinta crianças e adolescentes igaporaenses, com idades entre 8 e 17 anos, em situação de vulnerabilidade social, perdeu o apoio que recebia da Prefeitura de Igaporã, após uma denúncia anônima chegar ao Centro de Referência em Assistência Social (Cras), órgão da estrutura da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, na última semana. O Projeto funcionava há cerca de 6 meses, na sede do Cras, situada à Rua Alcebíades Fernandes Boa Sorte.
Segundo apurou o JS, o autor da denúncia anônima recebida pelo Cras, que teria sido feita por telefone, apontou que o professor de Jiu-Jitsu e idealizador do Projeto Social Leões de Cristo, Olimar Lima de Oliveira, de 28 anos, Mestre Liu como é popularmente conhecido, estaria assediando sexualmente, através de conversas pelo aplicativo WhatsApp, uma aluna de dezesseis anos, que fazia parte das aulas de Jiu-Jitsu que o professor também ministrava na Zona Rural do município.
Ouvida pelo JS na manhã do último dia 23, na sede da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, a secretária de Desenvolvimento Social de Igaporã, Aparecida Fagundes de Souza Fernandes, confirmou o teor da denúncia. Segundo a Secretária, técnicos do Cras teriam apurado e confirmado a gravidade da troca de mensagens pelo WhatsApp entre o professor e a aluna, e somente após essa confirmação, a Prefeitura teria decidido cancelar o apoio ao Projeto Social Leões de Cristo.
Em um desdobramento do caso, os pais da adolescente de dezesseis anos, residente da Zona Rural de Igaporã, acionaram o Conselho Tutelar e registraram Boletim de Ocorrência na Delegacia Circunscricional de Polícia Civil do município.
Procurado pelo JS, o Conselho Tutelar informou que a denúncia está sendo investigada sob sigilo e que por este motivo, não poderia divulgar qualquer informação. Nem a aluna nem os seus pais tiveram as identidades reveladas.
Já em virtude do Boletim de Ocorrência que foi registrado da Delegacia Circunscricional de Polícia Civil do município, no último dia 21, o Delegado Substituto Adir Pinheiro Junior, responsável pelas investigações, realizou uma acareação entre o professor Olimar Lima de Oliveira e a aluna, com a participação de Conselheiros Tutelares e dos pais da adolescente.
Ouvido por telefone, na tarde do último dia 23, o Delegado Adir Pinheiro Junior disse à reportagem do JS que, segundo apurou a Polícia, uma foto enviada por engano pelo professor à aluna teria causado todo o problema. “O que apuramos foi que o professor Liu, que nos parece uma pessoa de bem, selecionou alguns contatos para enviar uma foto de um homem despido e, segundo afirmou, por engano, acabou enviando para a aluna. No entanto, imediatamente após perceber o equívoco, apagou a foto e pediu desculpas para a jovem”, afirmou o Delegado de polícia.
Ainda de acordo com o Delegado Adir Pinheiro Junior, durante a acareação não foi apresentada qualquer conversa ou evidência de que tenha ocorrido algo mais do que uma mensagem enviada por engano e a denúncia deverá ser arquivada: “Ainda não fechamos, mas devemos fazer até a próxima semana, uma vez que ainda estamos avaliando que por se tratar de uma pessoa menor de idade, caracterizaria alguma infração penal. Mas, a princípio, não vimos nada de anormal, até porque, nesse campo da Internet, ver um homem ou uma mulher nua não é nenhuma anormalidade, aparentemente. De toda forma, vamos estar avaliando com cautela, em especial porque vimos também que existem questões ‘politiqueiras’ que podem afetar a ocorrência e não vamos deixar isso acontecer”.
Em entrevista exclusiva ao JS [Confira em vídeo ao final da reportagem], Olimar Lima de Oliveira, o Mestre Liu, que é filiado à Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ) e à Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo (CBJE), falou do Projeto Social Leões de Cristo, se mostrou indignado com a atitude da Prefeitura de Igaporã de cortar o apoio às aulas de Jiu-Jitsu, sob alegações que, segundo ele, são caluniosas e provocaram prejuízos à sua vida pessoal e profissional e às crianças e adolescentes atendidos pelo Projeto.
Além de defender-se da acusação, o Mestre Liu também defendeu o Projeto e falou sobre a sua importância para a comunidade. “Eu treino aqui eles e eu deixo bem claro que o meu foco não é transformar crianças em lutadores, em competidores, em professores de Artes Maciais, meu foco aqui é formar atletas para o futuro, colocar na cabeça deles sonhos, para que, futuramente, através do Jiu-Jitsu, eles tenham foco no que eles querem seguir em suas vidas. O Jiu-Jitsu traz melhorias na escola, melhorias em casa, melhorias na sociedade, tirando eles do foco das coisas prejudiciais que estão expostas na sociedade”, declarou o professor Olimar Lima de Oliveira.
Por fim, o Mestre Liu garantiu que estará dando prosseguimento ao Projeto Social Leões de Cristo de forma voluntária, utilizando o espaço da Academia Lima Combate, da qual é fundador e presidente, para a realização das aulas. “Eu, como profissional, já trabalhando com isso há um bom tempo, vendo a necessidade dessas crianças no dia-a-dia de um esporte que elas se adaptem e que elas gostem e vendo que elas ficaram sentidas, abatidas, por livre e espontânea vontade estarei dando seguimento nesse Projeto de forma voluntária”, assegurou.
Também falando com exclusividade ao JS [Confira em vídeo ao final da reportagem], alguns alunos do Projeto Social Leões de Cristo demonstram frustração com a decisão da Prefeitura de retirar o apoio às aulas gratuitas de Jiu-Jitsu.
Segundo Alan Nunes do Vale, o Projeto Social Leões de Cristo é uma porta que se abre para vários jovens que poderiam estar envolvidos com coisas erradas, mas estão lá em busca de um futuro, por meio da prática de um esporte: “Não só ajuda fisicamente, como mentalmente, pois a gente passa a ter uma conduta bem melhor e aprendemos vários conceitos de como ser um ser humano”.
Ainda de acordo com o jovem, a notícia de que o apoio da Prefeitura ao Projeto seria cortado foi um choque para todos os alunos, pois todos os dias eles se reuniam para treinar na sede do Cras e já possuíam uma rotina. Outro ponto citado pelo aluno é que, quando as aulas eram realizadas no local, eles tinham acesso à merenda após os treinos, o que não vão ter mais, mesmo que o projeto ainda seja conduzido pelo Mestre Liu de forma independente.
Já para Anne Laís Magalhães Neves, o Projeto Social Leões de Cristo é uma oportunidade única e incrível para aprender uma Arte Marcial nova. Segundo a aluna, o corte do apoio que a Prefeitura prestava às aulas de Jiu-Jitsu promovidas pelo Projeto foi muito decepcionante, pois os treinos diários já eram parte importante da sua vida. A aluna aproveitou para falar sobre o que acha do seu professor, Mestre Liu. “Ele [Mestre Liu] tem muito conhecimento a agregar na nossa vida, não só no tatame, mas a conduta dele fora do tatame também, é uma pessoa de respeito, que demonstra caráter e boa índole, nunca ouvi falar nada de ruim sobre ele”, declarou Anne Laís Neves.