Nós somos seres de relacionamento. No relacionamento nós nos construímos. Eu preciso estar em mim, significa eu preciso ser inteiro e ao mesmo tempo preciso ajudar os outros, acudir os outros, caminhar com eles, então nesse encontro nós nos construímos como pessoa, como seres humanos.
Nós aprendemos na nossa cultura que é mais baseada na concorrência, na competição, no confronto a andar a distância dos outros e acreditamos que isso nos faz bem. Um grande filósofo, chamado Martin Buber, dizia assim: o ser humano torna-se eu no tú, ou seja, só no encontro acho o meu verdadeiro si mesmo, só no encontro eu me sinto pessoa, no face a face, na relação com a outra pessoa eu me torno mais humano, por isso nós precisamos sempre das duas coisas: proximidade e distância, relação e separação. É preciso haver o equilíbrio entre os polos, o que eu quero dizer com isso é que nós podemos nos perder a nós mesmos se nos ocuparmos só com os outros, se eu buscar satisfazer só aquilo que os outros precisam e exigem de mim, então eu vou me perdendo como pessoa e também isso não é bom. Precisamos colocar um limite, eu me relaciono com as outras pessoas, me doo, ajudo elas, mas também eu tenho tempo para mim.
Se eu perceber em mim sentimentos de amargura, de angústia, se estou irritado eu fico amargo então eu preciso perceber que também é importante que eu dê um tempo para mim, porque eu estou sendo exigido demais. Se eu me delimito em relação as outras pessoas de um modo cortês, se não digo sim a tudo isto não destrói a relação com elas, mas a esclarece e aprofunda, ou seja, eu não nego ajudar os outros e me relacionar com eles, mas eu cuido também de mim e não digo sim a tudo. Não faço tudo aquilo que os outros me exigem isso é colocar limites e faz bem. Se eu não me delimitar, surge o perigo de que cresçam as agressões com a outra pessoa, ou seja, eu aceito fazer mais, mas ao mesmo tempo sou uma pessoa que agride, por quê? Porque estou cansado de tudo isso. Ser inteiro é doar-se aos outros, mas, ao mesmo tempo sentir-me eu mesmo.