Estou lendo um romance – ótimo romance – e um dos personagens, apaixonado por literatura, leitor inveterado, faz uma afirmação que me chama muito a atenção: “Uma obra literária deve ser lida uma única vez”.
Não sei se a opinião é também do autor, mas respeito a opinião do personagem. O que não quer dizer que não tenho cá minhas convicções. Como já mencionei em uma crônica recente sobre estantes para livros, há muito livro que, realmente, basta ser lido uma vez. Depois de lido não há porque guardá-lo, temos mais é que passá-lo adiante – doar, emprestar, presentear – para que outros leitores possam apreciá-lo, talvez mais do que nós, até.
Mas há livros grandiosos, verdadeiras obras-primas que precisamos manter por perto, para que possamos voltar a eles, pois a cada nova leitura, a cada nova recriação, nos revelam novas descobertas. E não me refiro apenas a livros de poesia. Há romances, livros de contos e de crônicas, livros até de outros gêneros, os quais dão prazer de se ler de novo, possibilitam-nos recriá-los de uma maneira nova, descobrindo novos detalhes e novas nuances que enriquecem ainda mais a qualidade do texto, da trama, de tudo.
Não vou citar títulos de livros que tenho guardados comigo, porque são muitos e também porque a minha preferência pode não ser a mesma dos meus leitores. E isso é natural. Mas eu sou um daqueles leitores que de vez em quando volta a um livro já lido, como um livro de poemas de Quintana ou de Pessoa, por exemplo, nem que seja para ler só um ou dois poemas.
Há até quem diga, como a personagem do livro que estou lendo, que é perda de tempo ler de novo alguma coisa que já lemos. Mas a verdade é que o prazer de ler uma obra bem escrita e bem urdida é coisa para se degustar devagarinho e de novo. É claro que devagarinho é força de expressão, pois quando pegamos um bom livro lemos com sofreguidão, de um fôlego só, essa é que é a verdade.
Então, confesso mais uma vez: tenho uma grande estante de livros em meu escritório e de vez em quando retorno a algum deles.