Por Redação
Como tem sido alertado pela Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde e Secretarias de Estado e Municipal de Saúde, além de infectologistas e profissionais de Saúde, a redução do distanciamento social e a flexibilização de medidas restritivas, entre as quais a instalação de barreiras sanitárias nos acessos às cidades, tem como efeito colateral o aumento do contágio do Novo Coronavírus (Covid-19) e o agravamento das dificuldades do Sistema de Saúde.
Essa realidade está sendo experimentada por Vitória da Conquista. Com o Governo Municipal pressionado por empresários de setores do comércio varejista, atacadista e de serviços não essenciais e a teimosia da população que não tem levado à sério a necessidade de manter o distanciamento social, Vitória da Conquista vem registrando um aumento preocupante dos casos confirmados de contágio e já chega a quatro óbitos, além de outro que está sob investigação, aguardando o resultado do exame pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), de Salvador.
Sinal de que há um afrouxamento das medidas preventivas e restritivas adotadas pelo Governo Municipal são os diversos veículos, principalmente ônibus clandestinos, flagrados quase que diariamente desembarcando passageiros oriundos de Estados do Sudeste e Sul do país, principalmente de São Paulo.
Responsável pelo Comitê de Gestão de Crise para Enfrentamento da Pandemia do Covid-19, instalado pela Prefeitura Municipal, secretário municipal de Administração, Kairan Rocha Figueiredo, contesta a afirmativa de que há um relaxamento, por parte da Administração Municipal, na repressão aos transportes clandestinos. Segundo ele, as Barreiras Sanitárias estão ativas, mas os ônibus clandestinos, além de veículos particulares, tem evitado a fiscalização e entrado na cidade por estradas vicinais. Figueiredo aponta ainda que os ônibus que são interceptados são apreendidos e os passageiros cadastrados e orientados a manter a quarentena, sendo acompanhados pela Secretaria Municipal de Saúde.
O fato é que, com o relaxamento do distanciamento social os casos vão aumentando de forma preocupante. Na semana que está terminando, o número de casos suspeitos, que estão sendo monitorados pela Secretaria Municipal de Saúde, teve um aumento de 23%. Passou de 654 na segunda-feira, dia 04, para 804 neste sábado (09). Os pacientes que tiveram o contágio confirmado eram 35 na segunda-feira (04) e neste sábado (09), segundo o Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, são 45. Os casos suspeitos que aguardam resultado do exame que está sendo feito pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), de Salvador, que eram 22 na segunda-feira (04), hoje são 113, um aumento superior a 412%.
Um médico que trabalha no Hospital Geral de Vitória da Conquista, que concordou em falar com a reportagem do JS desde que tivesse sua identidade preservada, disse que é preocupante a tendência de crescimento na curva de contágio. Ele destaca que, além do aparente descontrole na questão do isolamento social, com cada dia mais pessoas circulando nas ruas, a proximidade do inverno é outro agravante que preocupa os profissionais de Saúde. Reforça que nesse período, historicamente, a quantidade de pacientes com problemas respiratórios, que buscam as Unidades do Sistema de Saúde, tanto público quanto privado, e a capacidade de atendimento beira o limite.
O médico explica que as doenças respiratórias pulmonares, virais e não virais, têm sua sazonalidade. “É natural que, em qualquer época de frio, elas aumentem como um todo, não só as infecciosas, especialmente nos idosos”, pondera, acrescentando que para esse aumento sazonal de casos, o Sistema de Saúde de Vitória da Conquista estaria dimensionada. O que preocupa, ressalta, é a sobreposição com os casos da Covid-19. “Esse aumento é certo, vai acontecer. E junto com a Covid-19, é óbvio que vai sobrecarregar ainda mais o Sistema”, observa, alertando para a necessidade de serem fortalecidas as medidas restritivas de circulação de pessoas e, ao mesmo tempo, viabilizar investimentos para testagem do maior número de pessoas possível. “A situação é preocupante”, pontuou.