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Conhece-te a ti Mesmo

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“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”. É superlativo, dos deuses; apolíneo, pra ser mais preciso. De Delfos, a máxima; de Sócrates, o lema; da vida, dilema.
Ah, se aprouvera aos mortais saborear das delícias do néctar celeste, dos bagos das videiras olímpicas. Delicioso seria deleitar-se em profunda sintonia consigo; experimentar da sua trágica e deprimente condição de existência ignorante. Sábio seria quem arriscasse a se aventurar nas profundezas do seu Hades não inerte. Será que seríamos capazes de suportar a nós mesmos?
Na rochosa construção grega, o grande Apolo revela pela boca das sacerdotisas as suas profecias aos homens, mas quem te revelará senão tu mesmo? Torna-te, portanto, o teu deus-revelador, e Delfos é tua própria língua. Ergue diante de si mesmo a sua persona mais verdadeira, que afugentada do mundo das aparências e das máscaras desordenadas, desvela o seu rosto nu e manifesto, elevado à categoria de venerada e prodigiosa imagem do teu eu.
Quando as lamparinas forem acesas e o óleo da atração se puser a queimar, traga a luz para dentro de si, e no fascínio de se iluminar reflita sobre o teu eu mais sublime e verdadeiro; e aos olhos de Argus na calda do pavão de Hera, dedique-se a olhar o seu íntimo que aos poucos desnudando em êxtase se revela.
Assim começa a sua jornada. Como Ulisses, encara o itinerário de monstros interiores; e como no país dos Lotófagos, alimenta-se da flor do lótus que brota no âmago da sua essência. Esquece, portanto, de deixar-se. Deseja com ardor desfrutar da seiva adocicada que emana do seu autoconhecimento e possibilita um novo renascimento.
Aos mortais, uma só coisa: embrenhar-se no seu conhecimento para alcançar o bem. E in loco da sua alma fazer emanar o doce mel da liberdade, do autodomínio, da virtude que o leva ao conhecimento e eleva a psiquê a ouvir o daemon que a sussurrar atormenta-te a dissuadir das suas ações, e te leva a caminho dos deuses, ao cume do monte da sua eudaimonia.
Sócrates viu o que ainda ignoramos; a coisa mais importante e necessária: aquilo que somos, a nossa psiquê, precisa da sua ambrosia saciadora que está no verdadeiro conhecimento, em se autoconhecer, em se descobrir. Tomada parte do oráculo, traça em sua faina diária o dito de Apolo. Declara aos concidadãos atenienses o seu veredictum: “só sei que nada sei”. Atingiu o objetivo. Alcançou com maestria a sua verdade interior, o seu conhecer. Defende esta verdade e nada mais lhe resta senão tomar do cálice da cicuta.
A quem será oferecida a última coroa de louro? A quem for sabido o conhecer-se.

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