Estudo propõe a análise epidemiológica da Covid-19 e um método molecular simplificado para detectar o novo Coronavírus na Bahia
Por Erick Issa – Ascom Secti/Gov BA
Apesar dos avanços da ciência e de esforços da saúde pública, a batalha contra doenças infecciosas virais ainda é uma tarefa desafiadora e está longe do fim. É o que alega a professora Camila Brandão, que junto às professoras Érika Mac Conell e Evelin dos Santos desenvolvem um estudo pioneiro sobre fatores relacionados a Covid-19, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano) de Itapetinga, Sudoeste da Bahia. O trabalho, que é dividido em duas propostas, consiste em uma de testagem sorológica, de forma aleatória, em habitantes do município, na qual também é aplicado um questionário, a fim de traçar um perfil epidemiológico do novo Coronavírus na população. Além disso, as cientistas propõem um modelo de padronização de um método molecular simplificado que possa detectar o novo coronavírus, que é alternativo ao modelo já utilizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Camila explica como o trabalho é dividido em duas propostas. “O projeto é fundamentado em teorias estatísticas, com 95% de confiança, e busca analisar a sorologia de 400 habitantes, através de testes sanguíneos realizados por meio de kit sorológico comercial, aprovados pela Anvisa, com o qual será possível detectar anticorpos anticoronavírus (IgG e IgM) em apenas uma gota de sangue. Questionários serão aplicados contendo informações socioeconômicas, de sintomatologia apresentada até o momento da coleta e acerca da percepção da Covid-19 pelos participantes. Os cálculos de amostragem realizados nos darão argumentos para estabelecer características gerais de toda a população”, destacou ao comentar que o estudo pode, inclusive, identificar casos subnotificados e se torna pioneiro por fazer o levantamento de informações importantes, que podem nortear ações e políticas públicas em toda a região, cruzando as informações técnicas de saúde com dados demográficos e sociais.
Érika, que também está à frente da pesquisa, reitera que a outra proposta do trabalho é testar um método molecular para detectar o novo coronavírus em amostras de pacientes, sintomáticos ou não e assim poder comparar sua eficiência com o métodos de detecção padrão. “O método que será utilizado, chamado RT-PCR LAMP (amplificação isotérmica mediada por alça), por exemplo, tem a vantagem de ser bem mais rápido e de menor custo que a PCR em tempo real, e já tem sido aplicado no Brasil para detecção de outros vírus, tais como o da Zika”, explicou a pesquisadora, alegando esperar que seja possível propor uma metodologia molecular alternativa, viável, com menor custo e com eficiência adequada para detecção do vírus em pessoas infectadas, possibilitando que mais laboratórios realizem os testes.
Evelin, que completa o trio, conta que a ideia para desenvolver o estudo surgiu após a discussão entre as três professoras que possuíam o interesse em comum de querer colaborar para a sociedade em meio à pandemia. “Primeiro a Camila entrou em contato com pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) que já realizam diagnósticos semelhantes, para verificar possibilidades de trabalho em parceria. Entretanto, não havia, até aquele momento, no campus Itapetinga, uma estrutura de laboratório para trabalhar com biologia molecular e virologia, embora haja profissionais qualificados para tal, até que fomos apresentados ao edital do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), voltado para contemplar pesquisas relacionadas ao enfrentamento da Covid-19. Reunimos o grupo, escrevemos o projeto e o submetemos ao processo seletivo. Ele foi aprovado, dentre os 5 melhores em nível nacional, com muita perspectiva de contribuição científica e social”, declarou.
As pesquisadoras enfatizam que buscam oferecer um perfil da situação epidemiológica de Itapetinga, principal município do Território do Médio Sudoeste Baiano, com uma população estimada de 76.147 habitantes, segundo dados do IBGE, onde foram notificados 32 casos da Covid-19, com 4 óbitos, e disponibilizar um método diagnóstico molecular alternativo, que poderá ser útil a todo o sistema de saúde do país. Além disso, há planos de utilizar o espaço para futuras soluções científicas. “Esperamos implantar uma infraestrutura laboratorial regionalizada, capaz de desenvolver pesquisas científicas com diferentes métodos de diagnóstico das principais enfermidades de interesse não só da saúde humana, mas também da defesa sanitária animal e vegetal”, disse Camila.
Além do Conif, o estudo recebeu apoio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), do Laboratório de Virologia (ICS-Ufba), da Prefeitura de Itapetinga e de outros servidores do IF Baiano que auxiliam com a análise das estatísticas e na execução do projeto, como o professor Lucas Borges e os técnicos Flavio Mendes e Taline Novais. Atualmente, o projeto passa por cotações para a reforma do espaço e as compras de equipamentos e reagentes que serão utilizados durante a pesquisa, bem como busca bibliográfica e discussões entre membros da equipe executora para acertar detalhes da execução do trabalho.
Bahia Faz Ciência
A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e a Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) estrearam, no dia 8 de julho, o Bahia Faz Ciência, uma série de reportagens sobre como pesquisadores e cientistas baianos desenvolvem trabalhos em ciência, tecnologia e inovação de forma a contribuir com a melhoria de vida da população em temas importantes como saúde, educação, segurança, dentre outros. As matérias serão divulgadas semanalmente, sempre às segundas-feiras, para a mídia baiana, e estarão disponíveis no site e redes sociais da Secretaria. Se você conhece algum assunto que poderia virar pauta deste projeto, as recomendações podem ser feitas através do e-mail comunicacao.secti@secti.ba.