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Curandeirismo

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Rezadeiras/Curandeiras e Curadores/Rezadores

O Curandeirismo é uma arte ou técnica na qual o praticante afirma ter o poder de curar, quer recorrendo a forças misteriosas de que pretensamente é dotado, quer, pela pretensa colaboração de deuses, espíritos de luz, etc., que lhe serve de guia orientador.

O ato de benzer é, geralmente, praticado por mulheres e também homens o realizam.  As rezadeiras ou benzedeiras, curadores ou curandeiros, as realizam para alívio e cura das doenças do paciente.  Para executar esta prática se utilizam de conhecimentos do catolicismo popular, como rezas diversas e outros poderes com o objetivo de restabelecer o equilíbrio físico e espiritual das pessoas que buscam a sua ajuda para o tratamento de seus males quer físicos ou espirituais.

 Para compor este ritual de cura, usam ramos verdes, fazem gestos em cruz com a mão direita, terço na mão esquerda e rezas muitas vezes incompreensíveis, por falarem muito baixo, balbuciando as palavras.  O exercício desse ofício, dizem ser um dom divino e não sabem explicar como esse acontecimento começou. Outras aprenderam o ofício com pessoas mais velhas da família que detinha esse conhecimento. Em sua maioria são incultos e seus atos intuem que recebem do além para praticá-los, ou aprenderam com pessoas experientes e ou parentes que desenvolviam esse trabalho.

 Uma das mais antigas de Brumado desenvolveu essa prática, dizendo ter recebido esse dom de curar pela revelação do Espírito Divino, para o exercício da sua missão.  “Atendo as pessoas sem qualquer discriminação de credo ou religião, porquanto o bem não se escolhe a quem oferecer. Eu não curo ninguém, é Deus e a fé da pessoa, que por meu intermédio, é curada do mal espiritual ou físico que o aflige”.

 São vistas pelos seus pacientes não só como agentes religiosos, mas também como terapeutas. É comum ouvir dessas pessoas que elas são apenas instrumento da força divina (Deus, Jesus, os santos, orixás etc.), pois quem cura é a fé. E, por fim, se a pessoa que vai se curar não crer e não tiver fé, não vai obter êxitos.  A fé e a crença religiosa são de suma importância.  Através dela é que os indivíduos tem a esperança de alcançar o benefício esperado.

Dizem: “doutor nenhum dá jeito a olhado”. O mal atinge tanto humanos como animais. Quem dá jeito é a reza de Deus por nosso intermédio.  Olhado é uma doença que debilita geralmente a criança, se não procurarem quem reze pode até morrer. As crianças que são vítimas dessa enfermidade, as benzeduras os reanimam. É costume amarrar-se uma fita vermelha no braço da criança para evitá-lo.  “Em nome da Virgem,/Quebranto, mau-olhado,/Sai-te daqui./Que este menino/Não é para ti”. (citação do escritor Câmara Cascudo).

 Os sintomas do mau-olhado e do quebranto geralmente são: através de uma energia negativa – sonolência, preguiça, febre, diarreia, dor no corpo, abrição de boca, inapetência, falta de ânimo.  Para curar a doença é necessário repetir o ritual por três vezes, cada uma, seguida de um Pai-nosso, uma Ave-maria e uma oração Glória ao pai. Para tanto, é fundamental que se faça o tratamento durante três dias e que a pessoa tenha fé no protetor, nas rezas e na curandeira. Assim se referiu uma benzedeira: “Meu filho, eu não curo! A gente reza a oração e oferece a Jesus. Quem cura é Jesus, nós, somos o instrumento dessa vontade”.

Embora nos dias atuais a medicina tenha obtido muitos avanços na área da saúde, por meio das novas tecnologias e de aparelhos diversos e modernos a disposição do diagnóstico das doenças e suas respectivas curas; fármacos modernos, ditos de terceira geração, e técnicas cirúrgicas mais desenvolvidas, existe em paralelo a prática das benzeduras, que se pode considerar contraditório, porém elas são tradicionais nessa prática que envolve muita procura tanto da classe mais humilde e carente, como da elite desesperada e desiludida com a medicina tradicional. São alternativas para o tratamento da saúde, principalmente quando desenganados pelos médicos.  Há de se salientar que as benzedeiras e curadores não entram na seara médica cirúrgica e nesse particular orientam o paciente para o procedimento médico e tratamento da patologia quando notam que o caso é grave.

Entretanto no espiritismo, os médiuns, se utilizam da força espiritual para exercitarem cirurgias mediúnicas e temos os exemplos positivos como Chico Xavier e o baiano Divaldo Franco entre outros, contudo existem os enganadores como o João de Deus de Abadiânia/GO.  Que vendia a cura, e se tornou um ícone do lugar, receitava e vendia remédios de sua farmácia ou de laboratórios populares. Cuidado! Cautela com os charlatões!

Os candomblecistas, que também fazem o trabalho de curas, têm um altar, denominado de mesa, onde estão expostos algumas imagens e enfeites em homenagens aos santos católicos e aos seus, caboclos e orixás guias. Esse caldeamento é chamado de sincretismo.   Nas paredes, estão fixadas várias imagens de santos (quadros), e no altar a existência de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, outra de Nossa Senhora Virgem Maria, uma imagem de Santo Antônio, Cosme e Damião, jarros com flores vermelhas e velas em homenagem aos guias: santos católicos, caboclos e orixás.  Presenciei esse fato quando fiz pesquisas sobre o assunto.

 É comum ouvir das curandeiras e benzedeiras, curadores e benzedores: não se é curador por querer ser, ou seja, não é qualquer pessoa que pode tornar-se rezador.  Não basta apenas rezar, é preciso ter consciência de que se está a serviço de Deus e possuir o dom divino inexplicável da cura.

De acordo com eles e elas, não se cobra por algo que não lhes pertence. O que se recebe de graça é ofertado gratuitamente. Por outro lado, se a pessoa quiser agradar, nada o impede de fazê-lo, mas sem a conotação de pagamento. Dizem que quem cobra pelo serviço perde as forças e o poder de cura.

A existência dos que rezam e benzem é muito antiga no Brasil e se origina da cultura indígena, da cultura africana e do europeu português. Eles detinham o conhecimento dos efeitos das ervas e suas funções e todo o procedimento que praticavam.

 Mesmo onde tem médico, o valor da consulta é exorbitante e os remédios muito caros, as pessoas procuram os préstimos dessas entidades, que atendem sem restrições a quem vai à busca dos seus serviços sem remuneração.

 É importante dizer que quem procura esse tipo de atendimento são pessoas da classe mais humilde, pessoas pobres, por questões religiosas e mesmo por falta de recursos para pagar a consulta ao doutor formado.

  O ofício e saberes tradicionais das rezadeiras/benzedeiras evidenciam a existência dessa prática enraizada na cultura oral do povo e exercida em muitas localidades urbanas e rurais do país.

Usam ervas para banhos, chás, raízes e outras mezinhas em seu receituário, além das rezas para cura de diversas doenças como espinhela–caída, cobreiro, febre, tristeza, erisipela, dores em geral e outras.  Porém, com a tecnologia atual, utilizam-se, pela praticidade, remédios fitoterápicos manipulados por laboratórios cujo principio ativo são baseados nos produtos da natureza de forma específica.

Residente em Brumado, o Rio-Contense, senhor Albino Vianna, dentista prático e espírita convicto, era muito famoso pela força espiritual que detinha. Não cobrava pelo seu trabalho de curas, rezava responso, benzia , receitava remédios caseiros, fazia adivinhações e curava os males do espírito e da alma, pelo poder divino.  Confidenciou, certa vez, a um interlocutor, não saber como adquiriu esse dom e da mesma forma estava perdendo as forças espirituais.

Uma Benzedeira/Curandeira, inculta, natural de São João do Alípio, famosa em Brumado, pratica esse ofício, há muito tempo e diz não saber como adquiriu esse dom de cura, acredita que Deus a escolheu para essa prática de fazer o bem sem escolher a quem.  Através das suas rezas e mezinhas indicadas, cura as enfermidades por esse dom especial que lhe foi divinamente proporcionado. Em seu altar, encontram-se várias imagens de santos católicos, orixás e caboclos, em destaque a imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, além de quadros pendurados nas paredes como o de Iemanjá e outros.

O seu culto foi autorizado pela Associação Baiana do Culto Afro Brasileiro, com sede em Salvador/BA, desde 1962.  Em conversa com alguém da justiça, fui informado que um determinado médico moveu uma ação contra essa pessoa pelo exercício ilegal da medicina, porém o processo foi arquivado.

Francisco Xavier Pires, Francisquinho, morador da fazenda Cerro Largo, Aracatu/Brumado, exerceu o ofício de curador. Vinha gente de toda região se consultar com ele e receber os seus préstimos.  Essa prática é secular e muitos rezam bicheiras de animais eliminando os vermes pela força do ensalmo praticado.  “Bichos que comeis,/A Deus não louveis,/Antes caíres,/ De dez em dez… Repetindo a numeração até se chegar ao número um. Concluindo: De um que se derreta e que fique nenhuma. “Em nome de Deus e a Virgem Maria”. (citação de Luiz da Câmara Cascudo).

Maria José, conhecida como dona Zezé, natural de Ituaçu, radicada em Brumado, pratica o trabalho de benzedeira desde menina. É polivalente: joga búzios para consultar sobre o futuro, reza bicheira e outros procedimentos atinentes. Orgulha-se que sua casa é frequentada por pessoas humildes e pela elite brumadense, gente da região e de outros Estados do Brasil, inclusive foi entrevistada várias vezes.  É bastante conceituada e procurada para essas finalidades.

Outra que também exerce esse ofício é a senhora Etelvina, natural de Brumado, residente no Apertado do Morro. Para todo o procedimento de rezar e benzer ela diz que não é profissão, mas missão.   Lê a sorte através do Tarô, uma prática de mais quarenta anos. “Sou espírita e vidente, obedeço aos meus guias sem contestá-los”. Ao entrevista-la, solicitou permissão para consultar seus guias, adentrou no quarto de consulta e quando saiu me cientificou de que seus guias não permitiam a entrevista.

Aguilar que atende pelo apelido de “Leto”, natural de Jussiape/BA, morador em Brumado desde 1959, residente no Bairro do São Felix, aprendeu o ofício de rezador com sua mãe que era benzedeira. Desenvolveu e aprimorou esse aprendizado divino. Reza as orações pertinentes com a imposição das mãos para a cura do mau-olhado, dores diversas, espinhela-caída e outras enfermidades.

 Os nomes relatados são fictícios para que os protagonistas não se sintam melindrados com a declaração do nome verdadeiro.

Conta-se que em uma cidade pequena do interior da Bahia vivia um rezador/curador muito famoso, o seu “consultório” era muito frequentado pela comunidade da cidade e região, a procura era tanto que ele contratou uma atendente para marcar o dia das consultas.

 Um rico fazendeiro local mantinha um filho em Salvador/BA onde se formou em medicina. Por exigência dos pais veio clinicar na terra natal. Montou um consultório moderno e confortável e colocou com muito orgulhoso a placa destacando: médico generalista, fulano de tal, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia.  Porém só o procuravam familiares e amigos, o consultório praticamente não tinha pacientes. Contudo, o do curador/rezador vivia cheio, era uma tradição da região se consultar com o curador para resolver problemas de saúde e ou espiritual, tratar-se do corpo ou da alma.

Indignado com a situação, o doutor arrancou a tabuleta e colocou outra com nova denominação: “Curador e rezador fulano de tal, de fama comprovada, consultas a qualquer hora do dia ou da noite”. Dessa data em diante o consultório passou a ser frequentado por muita gente.

Em síntese: O povo tinha mais confiança no curador do que no médico acadêmico, era uma prática tradicional da população do local e região se avir com o curandeirismo, e por não confiar na medicina científica procurava o curador/benzedor para solução das suas aflições.

Existe também em todo território nacional os candomblés, administrados por pais e mães de santo com diversas ramificações e conteúdos diversos, com incorporação com sons de atabaques e danças apropriadas, para o culto do orixá ou caboclo invocado. Há também os macumbeiros, feiticeiros e o espiritismo negativo que envolve as entidades do mal.

Ressalte-se que Salvador/BA é a capital dos Orixás, por lá proliferam os terreiros de candomblés.

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