Cheguei, há pouco, do local em que está a minha seção de votação, do pleito atual. Já cumpri, assim, o meu dever cívico. Ou de cidadania. Aliás, esses sentimentos já se encontram claudicantes, quanto aos seus verdadeiros sentidos. Contudo, gosto disso. Acho até que povo gosta também, salvo alguns recalcitrantes, com essa obrigatoriedade ou não.
Pois bem: depois de cumprido o meu dever, aqui me encontro com mais esta crônica dominical, na minha varanda, “enquanto seu lobo não vem”, com os resultados do pleito que promete, neste ano pandemoníaco.
Em se falando em voto, meu primeiro foi em 1962, para o Dr. Luiz Edson de Gouveia, médico de Ituaçu, famoso em toda região, nosso médico-parteiro, de diagnóstico sempre preciso, cearense, ferrenho udenista, amigo pessoal do conterrâneo Juracy Magalhães, e dele conta-se inúmeras histórias chistosas. Vou recontar uma delas, por estar na boca do povo: como acompanhava todas as gestantes de lá, respondia às ansiosas perguntas das mesmas, sobre qual seria o sexo dos nascituros. Assim, afirmava sobre o qual seria, mas no seu prontuário anotava o contrário, secretamente. Se afirmava que seria mulher, anotava homem. As gestantes saiam das suas consultas felizes, e começavam a fazer os enxovais do futuro bebê, nas cores que eram convencionais, rosa ou azul, para meninas e meninos, respectivamente. Angariou fama. Acertava todos. Depois dos nascimentos, as mamães lá retornavam, com os seus bebês para exames de praxe, quando, então, algumas queixavam-lhe de que ele não acertara o sexo. Ele, tão logo ouvia a admoestação, respondia-lhes com a voz estalada: – Vamos ver! Abria o prontuário e lá estava escrito o sexo correspondente à criança, como anotara. Um dos seus muitos causos da sua vida.
Já em Brumado, ainda votei uma vez em Ituaçu, transferindo, em seguida, o meu título para cá, onde vi e vivi os seus pleitos eleitorais, e conhecendo de perto todas as suas circunstâncias.
Do meu amigo saudoso, aqui em Brumado, o Dr. Juracy, ituaçuense, médico parteiro que foi, também protagonizou muitos desses e outros momentos, assim como o que segue:
Depois de uma eleição, que não fora feliz, com o advento do MDB, ele foi chamado, às pressas, para atender uma parturiente, que se encontrava em uma grave ocorrência, em certo local desta vasta caatinga. Lá chegando, deparou -se com a sua mais conhecida opositora política, radical peemedebista. Não se fazendo de rogado, ouvindo os seus berros de dores, começou o seu competente trabalho, porém cantalorando aquela musiquinha, que até hoje está nos ouvidos de todos, e que ecoou na campanha vitoriosa daquele pleito: “MDB, MDB/o povo todo/vota Agora com você…” A mulher, coitada, nos seus espasmos dolorosos, implorava a ele o seu perdão. Parto realizado com sucesso.
Despediu -se, dizendo: – Até outro dia!
Também fiz uma tentativa frustrada, quando, aqui, me candidatei a vereador. Malgrada ideia! Eu e mais alguns amigos, com a intenção de melhorar o nível da Câmara Legislativa. Fomos à luta. Pregamos as nossas posições nos discursos e panfletos lançados. Resultado: fomos todos rechaçados com uma pífia votação. Então, aprendi que voto e cultura são como água e oleo: não misturam. Os nossos edis continuam sendo como sempre foram. Bem, se não é verdade, esperemos o resultado logo mais ao anoitecer.
De qualquer forma, permanece vivo o jargão de que “cada povo tem os representantes que merece”.
Enfim, estou ansioso pelos resultados daqui e de Ituaçu.
Aguardemos!
José Walter Pires
15.11.2020