“A família é a célula mater da sociedade”. Essa frase de Rui Barbosa é emblemática. Recordo-me ainda de outras que dizem respeito à família: “A família é ainda a pedra fundamental da sociedade”. “Paz e harmonia – esta é a verdadeira riqueza de uma família” (Benjamin Franklin); “Considero a família e não o indivíduo como o verdadeiro elemento social” (Honoré de Balzac) e, finalizando, Friederich Nietzsche diz: “Ai daquele que não tem lar”.
As citações acima mostram a importância da família na vida do cidadão, constituindo-se numa instituição universal e milenar que dá segurança natural ao indivíduo que tem esse conceito de afinidades que o envolve.
A formação familiar forja-se, evidentemente, com os ascendentes e os descendentes, com base no casamento, sacramento respeitado pelos cristãos, com o dogma de que “o que Deus uniu o homem não separa”, no entanto não é essa a realidade.
Uma das responsabilidades dos pais, além da procriação dos filhos, é a de defendê-los, educá-los e encaminhá-los para uma vida de objetivos positivos a serem alcançados dentro do seu padrão de vida.
Em períodos antanho, o ser humano tinha a função de reprodução, cabendo à mãe os cuidados com os filhos pela tendência maternal inata. Promíscuo, não distinguia o parentesco e se relacionava com o sexo oposto pela necessidade da perpetuação da espécie – uma vida animalesca –. Portanto, não vislumbrava esse conceito de amor familiar da atualidade.
A família, hoje, atravessa um período de muita turbulência social. Essa complexidade é fruto do conceito humano e da visão do relacionamento que envolve os indivíduos pelos diversos interesses físicos, afetivos e outros.
Houve tempo em que o casamento era arranjado pelo pai da moça que escolhia o candidato conforme a sua conveniência, sem que houvesse o consentimento da casadoira. Uma situação inadmissível na atualidade.
A mulher se modernizou e obteve muitas conquistas políticas e sociais, dentre elas a independência que começa com o direito de escolher seu parceiro, por alvedrio, uma decisão que só a ela diz respeito. Se o relacionamento não dá certo, a lei lhe dá o direito ao desquite e ao divórcio, permitindo-lhe oportunidade a uma nova união legal. A lei que proporciona o desquite e o divórcio (um dos objetivos do baiano e político Nelson Carneiro) conta com a aquiescência, certamente, dos interessados.
Os descasados casam-se novamente e a convivência dos filhos parece tornar-se natural, o que nem sempre se configura uma realidade. Essa colcha de retalhos familiar costuma dar muita dor de cabeça, daí a necessidade de muita compreensão e tolerância de ambas as partes para administrar o problema.
As mulheres são fortes, abrigam uma árdua tarefa: cuidam da casa, dos filhos, das questões sociais, do lar, concorrem para a construção do patrimônio familiar, enfim, cuidam dos maridos, observando as suas idiossincrasias.
Muitas delas trabalham fora de casa e por não terem tempo ou vocação para a maternidade, não se submetem à dominação e ao orgulho embutido no ciúme do macho. Pelo poder de emancipação que detêm, são autoritárias, dominadoras, decidem por viver sozinhas sem, contudo, descartar a possibilidade de um relacionamento conveniente, de acordo com a tendência da modernidade.
O relacionamento entre pais e filhos tem mudado muito. Ocorre que a liberdade delegada ao filho deve vir acompanhada de responsabilidade para que haja um entendimento respeitoso. O pai deve transferir para os filhos o papel masculino da dominação e do respeito. A ascensão da figura paterna serve de exemplo para os filhos, os quais devem obediência aos pais, permeando regras impostas pela influência familiar – o compartilhamento das responsabilidades.
Há de se considerar o desequilíbrio familiar pela incompatibilidade de gênios. Ao se separarem, apenas um dos cônjuges detém a guarda dos filhos e aí pode ocorrer o desamor pelo distanciamento das afinidades que teriam em comum. São pais solteiros (pela separação), o que implica consequentes brigas pela guarda das crianças, sobrevindo birras de ambas as partes, que não levam em conta o bem-estar dos menores. A mãe ou o pai, por arrogância e capricho, assume o duplo papel de mãe e pai, não permitindo que a outra parte se relacione com os filhos, passando a dividir com os avós a tarefa de educa-los. Estes, muitas vezes, por excesso de carinho, são muito permissivos. Todos esses fatores podem desencadear complicação no desenvolvimento educacional e emocional das crianças. Entretanto, os avós têm uma participação fundamental na vida desses netos por dedicar-lhes o amor e a segurança que não encontram nos pais.
O entendimento da entidade familiar é um fenômeno milenar que envolve os impulsos da alma humana, consubstanciados nas emoções e particularidades dos casais e devem ser observados para que haja uma tolerância e harmonia consentida.
As leis regem a convivência dos indivíduos sob o prisma da família de acordo com a cultura de cada povo, constitucionalmente com normas e princípios que regulamentam o comportamento da sociedade, porquanto, segundo Rui Barbosa, “A pátria é a família amplificada”.
Os pais devem conscientizar-se de que a responsabilidade da criação dos filhos é do casal, cuja proteção, guarda e encaminhamento adequado servem para a formação familiar, sempre apoiada no exercício do diálogo. Esses elementos são o prognóstico da ética familiar que deve ser observada.
É na família que se aprende a lição da cidadania e do respeito pelos outros. A esse procedimento dá-se o nome de educação de berço. Infelizmente, isso não tem ocorrido, quer por negligência dos genitores ou por culpa do Estado que não proporciona meios de uma educação eficiente, que inclua a religião, o respeito à família e outras obrigações culturais, desportivas etc. de suas competências, pois que a eles cabe a orientação primordial – a educação.
Pela falta de oportunidades e pela ociosidade, jovens abandonados, encaminham-se para o submundo do crime, das drogas, uma delinquência assustadora. Mazela social que se espalha de forma espantosa pelo país afora, corrompendo os jovens, cuja derrocada está consumada pela ausência ou negligência dos pais e de políticas públicas que objetivem a inclusão social. Esse quadro evidencia, igualmente, a indiferença da sociedade que não se mobiliza para reverter tal situação.
Diz o ditado que o homem é produto do meio. Cabe aos pais proporcionar aos filhos o direcionamento necessário, baseados nos princípios que norteiam a decência de uma vida ética, fincada no trabalho e na honradez, virtudes que dignificam e enaltecem as pessoas, sobretudo com a educação.
Segundo ATKINSON E MURRAY (cit por VARA, 1966), “A família é um sistema social uno, composto por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído, e embora diferenciados, consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. O conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de papéis e funções, como se tem vindo a verificar”.
A família, como instituição humana é milenar, existe e deve permanecer, apesar dos percalços que o mundo hodierno se nos apresenta. Com todos os problemas que possam advir de uma convivência matrimonial, a tolerância, a compreensão e o amor superarão todas as dificuldades, desde que a fé esteja presente nos corações envolvidos.
A família é uma amostra da realidade que começa com Adão e Eva, os quais formaram o casal que Deus criou à sua imagem e semelhança, consciente de que ninguém consegue ser feliz sozinho. Deus quis que se prolongassem na família os seus desígnios.
“A família é o templo sagrado onde cada ser humano aprende, no amor a seus pais e irmãos, a amar a Deus e a seus semelhantes e é, ao mesmo tempo, a oficina insubstituível onde se forjam as bases da unidade humana. A espécie humana só poderá subsistir e manter sua elevação hierárquica enquanto existir a família, que é o meio vital e a força moral que sustém e ampara os homens, distinguindo-os de todas as demais espécies que povoam o mundo.” (Do acervo da Pedagogia Logosófica).