O carnaval é uma manifestação popular em que a comuna se entrega à pândega, à luxúria por três dias anteriores à quarta-feira de cinzas. É uma festa profana que, ultimamente, tem-se se prolongado por quase uma semana, durante a qual praticamente, todo o país para e mergulha nesse entrudo. Ocasião propícia para muitos foliões extravasarem seus sentimentos de entusiasmo, de euforia e emoções numa orgia que inclui muita bebida, drogas, licenciosidade, sexo promíscuo e paixões desenfreadas e inconsequentes.
A cidade de Brumado já se notabilizou por patrocinar um carnaval tranquilo, sem violência e por acolher os visitantes com carinho e muita hospitalidade. Daí, muita gente fugindo dos carnavais dos grandes centros, vem passar o reinado de Momo em nossa cidade em busca do sossego e da segurança que as cidades do interior oferecem.
Todos os anos, no período do carnaval, estudantes brumadenses trazem de cidades onde estudam colegas e amigos para curtirem os festejos momescos. Numa certa noite de carnaval, uma hóspede que viera a convite dos filhos de determinado casal brumadense, regressando das festas, ao trocar de roupa fora surpreendida por um morcego − tudo indica que, desorientado devido ao excessivo barulho, alojou-se debaixo da cama.
Espavorida, com a presença do horrendo animal, abandonou o quarto em direção à sala em desabalada carreira, desnuda, cabelos desgrenhados, olhos esbugalhados de terror, gritando em polvorosa por socorro. Deparou-se com o anfitrião que, aturdido pela algazarra, acorrera em socorro à moça atônita pelo inopinado acontecimento.
Quando se deu conta da situação, a moça, no afã de cobrir-se por pudor, abraçou os seios rígidos e roliços, que tremeluziam insinuantes, deixando a parte pudenda à vista. Instintivamente, para proteger-se, envergonhada, postou-se ereta frente à parede e, aos gritos, frenética, suplicava: não olhe… Não olhe… Saia por favor! Saia por favor!
Como se fora uma estátua, expunha com formosura um belo par de nádegas morenas, sustentadas por pernas roliças torneadas e quadril bem contornado, enfim, uma escultura perfeita. Aflita e pudica enquanto as pessoas lhe cobriam o corpo escultural, lamentava-se repetitiva com lábios trêmulos de choro: que vergonha meu Deus! Que vergonha!
Finalmente, a balbúrdia fora esclarecida, eliminando-se o indigitado morcego. Passados o susto e o vexame, fora-lhe ministrado um calmante e providenciada uma pessoa para fazer-lhe companhia. Entretanto, a visitante, no dia seguinte, moralmente abatida, envergonhada, recusara-se a sair do aposento e a encarar o dono da casa que presenciara a sua nudez. A muito custo, por convencimento dos anfitriões que encararam o fato com devida compreensão e respeito, deixou-a à vontade sem constrangê-la, nem humilhá-la pelo sucedido. Voltando-se, então, à convivência normal, apesar do desconforto.
Até hoje, o acontecido é relembrado com hilaridade pelos envolvidos no episódio. Contudo, essa pessoa ficou traumatizada, não suporta ver sequer a figura de um morcego que lhe dá arrepios de medo e pavor.
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