Com a máscara no queixo, Eduardo Vasconcelos, ignora aumento de casos de Covid-19 no município, anuncia que descarta o lockdown e sugere uso de medicamento de eficácia não comprovada para o combate ao vírus
Por Redação (redacao@jornaldosudoeste.com)
Mais uma vez o prefeito de Brumado, engenheiro Eduardo Lima Vasconcelos (PSB), demonstrando seu desprezo pelas quase cem histórias interrompidas no município, vítimas da Covid-19, sem observar minimamente as recomendações das autoridades sanitárias, inclusive usando a máscara no queixo, e contando com a conivente participação do secretário municipal de Saúde, farmacêutico Cláudio Soares Feres, e da procuradora geral do Município, advogada Thaíse Tanajura Cotrim, reuniu, na manhã da segunda-feira (15), representantes de segmentos da sociedade, que a publicidade oficial chama de “Comitê Gestor [da Crise Sanitária]” – curiosamente sem a participação de nenhum médico infectologista ou de qualquer outra especialidade – embora os convidados desconheçam essa atribuição, numa clara tentativa de dar legalidade à omissão do poder público na adoção de medidas que possam contribuir para o efetivo combate à pandemia em Brumado.
O encontro, realizado no auditório do Paço Municipal, serviu também para que a Administração Municipal, sem oferecer e distribuir uma planilha com os dados discriminados para que a sociedade pudesse tomar conhecimento e confrontá-los, apontasse os gastos que estariam sendo feitos pelo Poder Público no combate à pandemia.
O prefeito, deixando claro que a decisão já estava tomada em relação à medidas a serem adotadas para conter o avanço da curva de contaminação e aliviar o praticamente colapsado Sistema de Saúde, reforçou seu entendimento contrário ao lockdown, juízo de valor compartilhado, naturalmente, por representantes do comércio varejista e de serviços, de academias de ginástica, instituições financeiras e de denominações religiosas que tiveram oportunidade de expor seus posicionamentos.
Segundo relatos, uma vez que o JS não foi convidado a participar do encontro, a maioria dos convidados, representantes de instituições, entidades e setores organizados da sociedade presentes, entre os quais a Igreja Católica, a Maçonaria, a Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Brumado) e do Legislativo Municipal [vereador Renato Santos Teixeira (Podemos)], não se posicionaram durante a reunião. Entre os que teriam usado a palavra, os representantes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) e do Conselho Federal de Odontologia, respectivamente empresários Orlando de Fátima Gomes e Glauber Novais Bacelar e odontólogo Moacir Pires Cordeiro Júnior.
Cumprindo seu papel institucional, os Comandantes da 34ª Companhia Independente da Polícia Militar [Major PM Mário Augusto dos Santos Cabral], da 2ª Companhia Independente de Polícia Militar Rodoviária [Major PM Leila Souza Gonçalves Silva] e o titular da 20ª Coordenadoria de Polícia Civil do Interior [Bel. Arilano Kleber Medeiros Botelho], pontuaram a disposição de atender e apoiar as deliberações do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal e o posicionamento favorável à ações educativas de conscientização da população, sobretudo em relação a importância de serem evitadas reuniões e festas particulares com aglomeração de pessoas. Reforçaram ainda que as ações para fazer valer as medidas vigentes do Decreto do Governo do Estado, especificamente o Toque de Recolher, tem sido realizadas, e infratores estão sendo encaminhados à Delegacia Territorial de Polícia Civil, onde são autuados e assinam um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e responderão judicialmente.
Vozes discordantes da política pública de enfrentamento à pandemia, os representantes do Conselho Comunitário de Segurança de Brumado – Conseg [empresário Glauber Novais Bacelar] e local do Conselho Federal de Odontologia, odontólogo Moacir Pires Cordeiro Júnior, em suas intervenções, pontuaram a necessidade da adoção de medidas efetivas, baseadas na ciência e considerando a gravidade do momento, para combate à pandemia e preservação da vida dos brumadenses.
Se o representante do Conseg, empresário Glauber Novais Bacelar, não ofereceu alternativa, apenas reforçou a preocupação com o avanço da pandemia na cidade e cobrou medidas para reversão do quadro, inclusive o envolvimento da sociedade, que ressaltou, tem sido negligente e contribuído para os inquietantes indicadores e o crescente número de óbitos, o odontólogo Moacir Pires Cordeiro Júnior, que representou o Conselho Federal de Odontologia, foi incisivo ao apontar a necessidade, urgente, da adoção de medidas restritivas mais duras, que incluem o lockdown, pelo menos parcial, com o fechamento temporário de estabelecimentos, órgãos e instituições não essenciais, como ferramenta eficaz para tentar conter o avanço da contaminação e preservação de vidas.
Se a intervenção do odontólogo Moacir Pires Cordeiro Júnior, segundo relatos de participantes ao JS, snão constrangeu o prefeito e seus assessores – secretário municipal de Saúde Cláudio Soares Feres, e procuradora geral do Município, Thaíse Tanajura Cotrim – serviu para chamar a atenção dos demais participantes, que não se pronunciaram na oportunidade, alguns que, inclusive, em particular ou publicamente, posteriormente, revelando descontentamento com a forma como a Administração Municipal tem conduzido a gestão da pandemia.
Em contraponto à sugestão do representante local do Conselho Federal de Odontologia, o prefeito Eduardo Vasconcelos, que é engenheiro, reforçando seu entendimento negacionista, como aliás tem sido registrado ao longo dos últimos doze meses de pandemia, anunciou a decisão, que já teria sido tomada antes da realização do evento, de não avançar em medidas restritivas para fazer frente à escalada de casos e as dificuldades já enfrentadas pelo Sistema de Saúde para atendimento das vítimas da Covid-19, preferindo fazer a defesa de um medicamento que a ciência reiteradas vezes e o próprio fabricante – Farmacêutica Merck – já pontuaram não haver dados disponíveis que sustentem a eficácia do remédio para o tratamento da doença, ao sugerir que as pessoas fizessem uso de um fármaco (Ivermectina) recomendado no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas [piolhos, sarna, oncocercose, estrongiloidíase, tricuríase, ascaridíase e filaríase linfática]. Anunciou, inclusive, que o município, já teria adquirido uma grande quantidade do medicamento (Ivermectina), cerca de 35 mil comprimidos, que estão disponíveis nas Farmácias das Unidades Básicas de Saúde.
Por fim, o gestor sugeriu aos médicos que atuam no município que pudessem discutir a prescrição do fármaco, sublinhando que se houver um consenso dos profissionais de Saúde do município em relação à prescrição do medicamento, o Governo Municipal estaria pronto para adquirir algo em torno de 200 a 300 mil comprimidos. “Se a Ivermectina é um vermífugo e não faz mal, por que não tomar? Vai perder alguns piolhos, alguns carrapatos? Não é nenhum prejuízo”, ponderou Vasconcelos.
Prefeito minimiza ações do Governo do Estado e ataca o Supremo Tribunal Federal
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Após a reunião do chamado “Comitê Gestor”, o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos (PSB) voltou a explicitar sua discordância em relação às medidas que tem sido adotadas pelo Governo da Bahia e por outros gestores municipais, como o da vizinha Guanambi, que reforça estar preocupado com a vida dos guanambienses, principalmente a decretação de lockdown como estratégia de combate à pandemia da Covid-19.
Crítico contumaz das medidas preconizadas por cientistas e infectologistas do mundo inteiro, que defendem o protocolo de restrição à atividades não essenciais para efetivar o distanciamento e isolamento social como método mais eficaz na prevenção à pandemia, o socialista Eduardo Lima Vasconcelos afirmou ao repórter Lay Amorim, conforme matéria publicada pelo Blog Achei Sudoeste, que continuará respeitando as decisões do Governo do Estado no âmbito do combate à Covid-19, não por acreditar que sejam corretas e possam atender de forma eficiente a proposta de reduzir a curva de contágio do Novo Coronavírus (Covid-19), mas para não criar atritos. “O momento é delicado e não queremos nos contrapor a qualquer determinação governamental superior ao município”, ponderou. Mesmo sem apresentar dados que pudessem embasar seu entendimento, o prefeito previu que a fase crítica da pandemia deve durar somente até o final deste mês, para justificar a decisão de não contraditar qualquer Decreto editado pelo Governo do Estado. “O prazo é curto, até o final do mês. Tenho certeza que tudo voltará ao normal”, afirmou.
Eduardo Vasconcelos disse que, na condição de cidadão, é contra a imposição do lockdown, que considera uma violência e não uma medida eficaz para tentar minimizar a curva de contagio do Novo Coronavírus, indo mais uma vez na contramão dos especialistas.
Vasconcelos prosseguiu atacando o Supremo Tribunal Federal, especificamente pela decisão de reconhecer a competência concorrente na área da Saúde Pública, dando autonomia a Estados, Distrito Federal e Municípios, juntamente com a União, para determinar ações visando mitigar os impactos do Novo Coronavírus, inclusive a adoção do lockdown. Para o gestor, a decretação do lockdown é competência exclusiva do presidente da República. E arrematou, depreciando a decisão da Suprema Corte: “O que esse Tribunal Constitucional, chamado de Supremo, está fazendo por aí eu não levo em conta”.
Pároco faz mea culpa e lamenta falta de medidas eficazes contra a Covid-19
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Em nota, postada nas redes sociais, após a repercussão do comunicado divulgado pelo representante local do Conselho Federal de Odontologia, odontólogo Moacir Pires Cordeiro Júnior, direcionado aos profissionais da Odontologia brumadenses, detalhando sua participação e reforçando o posicionamento explicitado na reunião, favorável a adoção de medidas duras para enfrentamento do grave momento experimentado pelo município em relação à pandemia da Covid-19, o pároco da Paróquia do Bom Jesus, Padre Cleonídio Alves da Silva, justificou seu silêncio no encontro realizado pela Prefeitura Municipal, argumentando que apenas seria mais uma manifestação, que sequer seria levada em conta e que no final a decisão seria a que o prefeito já havia determinado antes mesmo do evento. “(…) não me manifestei porque tinha certeza que ficaria somente em mais uma fala, o que não deixa de ser importante, mas os resultados das reuniões são sempre os mesmos, no final o prefeito dá o veredicto dele e tudo que foi falado nunca é levado em conta”, ponderou o sacerdote católico, sublinhando que nas reuniões anteriores o roteiro teria sido o mesmo, cada segmento colocando suas opiniões e defendendo seus interesses, sem considerar os coletivos, e no final prevalecendo o que o prefeito pensa e indica deva ser feito.
Padre Cleonídio Alves reforçou o entendimento de expressiva parcela da sociedade em relação à inoperância da atuação do poder público no combate à pandemia. Segundo ele, que já participou de outras reuniões do que o Governo Municipal, através de suas publicidades oficiais, chama de “Comitê Gestor”, resta a impressão que os encontros servem apenas e tão somente “para dizer que se faz alguma coisa”, embora seja evidente que “nada está sendo feito no sentido de combate à proliferação do vírus”.
O fato de ter permanecido calado, mesmo sabendo que sua intervenção não teria nenhum efeito prático, acabou incomodando o sacerdote, principalmente com a divulgação de que teria se omitido. Na nota que publicou nas redes sociais, Padre Cleonídio Alves apontou ter retornado para sua residência “com a consciência pesada por não ter me manifestado”, além de triste por ter participado de um encontro, “como tantos outros”, em que nenhuma medida eficaz fosse adotada.