Aspergilose Invasiva e Mucormicose pioram estado de saúde de pacientes acometidos pela doença e podem ser fatais em até 96% dos casos, se não tratadas adequadamente e no tempo correto
Por: Juliana Antunes
Nunca se falou tanto sobre o ambiente das unidades de terapia intensiva como no último ano. Desde o início da pandemia de COVID-19, as UTIs e seu funcionamento passaram a ser mais conhecidos e discutidos por grande parte da população, seja por experiências próprias, com pessoas próximas ou mesmo por meio do noticiário. Mesmo assim, poucas pessoas sabem que internações prolongadas, o uso de medicamentos contínuos e a necessidade de ventilação mecânica podem deixar os pacientes suscetíveis a infecções, entre elas as infecções fúngicas que, se não tratadas corretamente, chegam a levar a óbito até 96% dos infectados. 1
As infecções fúngicas tornaram-se conhecidas mundialmente com o crescimento da COVID-19 na Índia, onde cerca de 15 mil casos de Mucormicose foram documentados. No Brasil, além dos registros de Mucormicose no Amazonas, em Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, também foram relatados casos de Aspergilose Pulmonar associada a COVID-19.
Devido a gravidade do assunto, a Anvisa publicou recentemente uma nota técnica alertando e orientando profissionais de saúde para possíveis novos casos no país. “Apesar de raras, as infecções fúngicas precisam ser vigiadas, diagnosticadas e tratadas imediatamente para prevenção do agravamento do quadro de pacientes internados e por essa razão estamos impressionados positivamente com a atuação da Anvisa que rapidamente se manifestou recomendando e estabelecendo os protocolos de tratamento, incluindo diversas substâncias, como Cresemba® (isavuconazol) e AmBisome® (anfotericina B lipossomal) para os casos detectados no Brasil”, declara Fernanda Bertasi, Gerente Geral da United Medical no Brasil, empresa farmacêutica que comercializa terapias para tratar infecções fúngicas.
As infecções causadas por fungos, no começo, se parecem e têm sintomas semelhantes aos das causadas por vírus ou bactérias, sendo tratadas inicialmente como tal. No entanto, elas se mostram mais persistentes e não costumam cessar mesmo após ciclos de tratamento com dois ou três tipos diferentes de antibióticos. Embora esta seja uma situação corriqueira na rotina dos profissionais de saúde, a persistência do quadro infeccioso deve ser vista como um sinal de alerta. Apesar de serem consideradas doenças raras (qualquer patologia que afete até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos, de acordo com Organização Mundial da Saúde – OMS), em grupos específicos de pacientes, as infecções fúngicas possuem uma incidência relevante e são uma condição séria e debilitante.
“As infecções fúngicas são menos comuns do que as bacterianas. Na maioria das vezes estão associadas a pacientes imunocomprometidos, portadores de doenças como câncer, HIV, pacientes transplantados ou com o sistema imunológico debilitado por outra condição clínica. Como as doenças fúngicas são de alta mortalidade, o diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais e, por isso, o alerta para existência das infecções fúngicas se faz necessário” alerta o Dr. Paulo Rogério Winkler Vernaglia, Medical Affairs Head da United Medical.
Segundo recente pesquisa realizada na Europa, pacientes de UTI internados por síndrome respiratória aguda grave (SARS), que podem ser originadas pelo COVID-19 ou pelo vírus Influenza, compartilham características que aumentam o risco de pneumonia associada à ventilação mecânica, administração de corticosteróide e desregulação sistêmica da função imunológica – o que podem levar a doenças fúngicas. O estudo, feito com 120 pacientes nesta situação, constatou que 22,5% apresentaram aspergilose pulmonar. 1, 2, 3.
As infecções fúngicas possuem uma incidência relevante, sobretudo em pacientes cujo sistema imunológico está comprometido em virtude de outras condições clínicas, como é o caso de pacientes graves de COVID-19. Figuram também nessa lista pacientes soropositivos, transplantados, pessoas que passaram por cirurgias complexas, pacientes oncológicos submetidos a longos períodos de tratamento com quimioterapia e aqueles submetidos a várias linhas de antibioticoterapia e corticóides em ambiente de UTI.
Tipos de infecção fúngica – Aspergilose e Mucormicose
Como exemplo de infecção fúngica, o Dr Vernaglia cita a aspergilose, que figura entre as infecções mais comuns causadas por fungos em ambiente hospitalar e é causada pelo fungo aspergillus, presente no ar. Os dados epidemiológicos dessa infecção no Brasil são escassos, ainda assim, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) estima algo em torno de 20 casos a cada 100.000 pacientes para a aspergilose invasiva, apresentação mais agressiva da infecção – quando o fungo se espalha rapidamente pelos pulmões e, por vezes, atinge até o cérebro, o coração, o fígado ou os rins pela corrente sanguínea. 4
“Essa disseminação rápida acontece principalmente quando o sistema imunológico do paciente já se encontra debilitado, o que torna a aspergilose invasiva extremamente perigosa: quase 50% dos pacientes imunocomprometidos não respondem aos tratamentos atuais e 30% deles morrem dentro de 12 semanas do início do tratamento”, alerta o médico. 1,5
Outro exemplo citado pelo especialista é a mucormicose, causada pelos fungos da ordem Mucorales, popularmente chamada por “Fungo Negro”, que recentemente se espalhou pela Índia e já está preocupando outros países, como o Uruguai e até mesmo o Brasil. A denominação “fungo negro” é um termo leigo e surgiu pelos efeitos da doença, a mucormicose costuma entrar pelo nariz e logo invade os vasos sanguíneos do rosto, criando manchas escuras por onde passa. Assim como no caso do aspergillus, trata-se de uma patologia rara. Esse fungo pode causar infecções agressivas nos pulmões, em face (pelos seios nasais), cérebro, nos olhos e aparelho gastrointestinal. Em casos avançados, a doença pode ainda atingir múltiplos órgãos. Por conta disso, a mortalidade pela mucormicose pode evoluir de 35% a 96%,1 dependendo da severidade da infecção e do nível de imunocomprometimento do paciente. 3, 6, 7
“Ambas as doenças são consideradas condições sérias e debilitantes. O protocolo de tratamento que existe hoje compreende medicamentos antifúngicos e a remoção dos fungos por procedimento cirúrgico, quando necessário. Dependendo do nível de infecção, essa remoção causa sérios danos ao paciente e pode deixar sequelas graves. Por isso, a importância de um diagnóstico adequado e o mais rápido possível. O quanto antes os médicos cogitarem a possibilidade de uma infecção fúngica, melhor”, finaliza.