O ShopBlack surge como uma alternativa no atual contexto da pandemia, com a crise econômica, alta do desemprego e redução do auxílio emergencial
Por: Rafaela Gonçalves/Brasil61
Com o objetivo de criar um espaço online para comercialização de produtos e serviços entre pequenos empreendedores negros, a Universidade Zumbi dos Palmares lançou o e-commerce ShopBlack. A ferramenta surge como uma alternativa no atual contexto da pandemia, com a crise econômica, alta do desemprego e redução do auxílio emergencial.
Segundo o reitor da universidade e idealizador do projeto, José Vicente, a iniciativa é resultado do desenvolvimento do projeto de aceleração de startups. O objetivo é o empoderamento e fortalecimento do empreendedorismo para os alunos da universidade, seus familiares e a comunidade negra em geral. “É um ambiente que pretende permitir e estimular e o empreendedor mesmo possa gerar emprego e renda, mas sobretudo vender e comercializar o seu produto no ambiente eletrônico”, afirmou.
A universidade começou a estruturar o projeto pensando em construir uma saída para a falta de emprego durante a pandemia e de dificuldade dos negros de acessar cargos mais altos no mercado de trabalho.
A professora aposentada de cultura negra brasileira, Maria do Carmo Moura, de 76 anos, que participou da iniciativa, acredita que os negros, sobretudo da terceira idade, precisam de oportunidade e um lugar em que o produto tenha visibilidade. “Eu acho que o caminho para nós negros é esse. Nós nos juntamos, porque o ShopBlack é uma reunião de quase todos os negos que fazem algumas coisas e sempre estão produzindo. Nós vamos ter um ponto tanto para a gente comprar ou vender”, disse.
Segundo a Universidade, a iniciativa visa contrapor a situação da pandemia, mas a ideia é que a plataforma continue em funcionamento mesmo depois. A iniciativa antecede o momento de crise e já era um projeto estruturado para fortalecer e ampliar o empoderamento dos jovens negros por meio do empreendedorismo, que veio para ficar e pretende se ampliar.
Diferença salarial
Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de ONGs (Abong) apontou as discrepâncias entre a remuneração e cargos ocupados por negros e brancos. Segundo o levantamento, em 2019 as pessoas negras ganharam em média 27% menos que as brancas nas ONGs. Os dados são baseados em informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia, no período de 2015 a 2019, apurados nas 27 capitais brasileiras.
A faixa de remuneração média nas ONGs é a de meio a três salários mínimos. De acordo com o estudo, enquanto os homens brancos têm a maior participação na faixa dos salários mais altos (mais de 20 salários mínimos), os negros são a maioria nas faixas que representam os menores salários.
Aumento da desigualdade na pandemia
No segundo trimestre de 2020 a desigualdade de renda bateu recorde no Brasil, segundo o estudo “Efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho brasileiro”, divulgado pelo FGV Social (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas). O indicador estudado na pesquisa foi o índice de Gini, que monitora a desigualdade de renda em uma escala de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade. O do Brasil ficou em 0,6257 em março.
Os números confirmaram que houve sim uma queda significativa na renda do trabalho da população, que teve redução de 20,1% no segundo trimestre de 2020, na comparação com os três primeiros meses do ano. Com isso, a queda de renda da população alcançou diferentes níveis. Os 10% mais ricos também tiveram perdas nos rendimentos, mas não tão substanciais como a população de menor renda que foi duramente atingida.
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