O comunismo é um sistema de governo social, político e econômico baseado na propriedade comum dos meios de produção e na eliminação da luta entre as classes sociais, contrapondo-se ao capitalismo para estabelecer uma sociedade igualitária. Ideais estabelecidos pela filosofia de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), culminando com a sua implantação em 1917 através da Revolução Russa cujo modelo serviu de paradigma para os adeptos do marxismo no mundo.
Os Estados Unidos da América do Norte se encarregaram de fazer uma ferrenha campanha contra o comunismo. Na suposta defesa da democracia, alegando ser aquele sistema político um perigo para a humanidade, coordenaram uma propaganda difamatória arrebanhando aliados para o que ficou conhecido como “guerra fria” travada entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Aqui no Brasil, a campanha anticomunista, acumpliciada pela Igreja Católica, recrudesceu em 1935 com o advento da “Intentona Comunista”, tendo como líder Luiz Carlos Prestes. Aos comunistas eram atribuídas qualidades negativas tais como: “piratas”, “desvairados”, “paranoicos”, “degenerados”, “tresloucados”, “bárbaros”, “selvagens”, “bando malfazejo comedor de criancinhas” e uma miríade de adjetivos coléricos que aterrorizavam a população.
Esse intróito tem o escopo de narrar um caso ocorrido numa cidade do sertão baiano em que um anão, sujeito vadio, cachaceiro de nome Ovídio de tal – o nome completo era desconhecido, pois não fora registrado. Vivia constantemente embriagado e era utilizado por pessoas inescrupulosas para extravasar sentimentos idiotas e agredir os seus desafetos, incitando-o a proferir impropérios difamadores contra os seus inimigos.
Ovídio era conhecido, também, pelo epíteto de, “É pra falar”, uma frase que ele pronunciava repetidamente quando se encontrava bêbado, um estado quase permanente. “É pra falar”, um anão analfabeto, pária da sociedade, humilde, tagarela, inofensivo, hilário e pelas suas patacoadas divertia o público.
Sem eira nem beira, vivia de biscates, carregando feira de pessoas da elite, inclusive a do delegado que fora importado pelo chefe político e prefeito, sob a alegação de por ordem na cidade. Na verdade o fito era intimidar seus adversários.
O delegado era uma pessoa tida como valente, abusava do exercício da autoridade de que estava investido e se julgava superior, atuava segundo seu entendimento de justiça. Ele próprio agia contra os delituosos quando as situação exigia firmeza de ação. Prepotente e arrogante, procedia segundo o seu critério. Era ao mesmo tempo autoridade policial e judiciária, se considerava guardião da lei, da moral e dos bons costumes. “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”.
Certa feita, após ter recebido um copo de cachaça, o vadio beberrão, previamente orientado e estimulado pelos inimigos do prefeito a proferir acusações e xingamentos agressivo contra o gestor municipal. Colocou-se sobre um banco do jardim em frente à casa do alcaide. Acrescentava em seguida o slogan que o nomeava: É pra falar… É pra falar! E detratava o prefeito conforme a orientação dos mandantes.
O prefeito chamou o delegado e mandou prendê-lo com a recomendação de não o espancar, pois o baderneiro embriagado, não era dono de seus atos e palavras, mas instrumento manipulado por indivíduos viperinos – um atrevimento de seus desafetos.
O detrator fora preso e, como punição, o delegado mandara transportar um monte de pedras do quintal da delegacia de um local para outro e vice-versa, por várias vezes. Cansado, exausto, com o suor aos borbotões a escorrer pelo corpo, a carraspana foi eliminada. Não suportando mais a humilhação, criou coragem e num ímpeto de indignação, se fez audacioso e se dirigiu ao delegado protestando: “Não aguento mais!”. “Isso aqui é o verdadeiro comunismo!”. O delegado verberou com autoridade: “Aqui não tem nenhum comunista, mequetrefe”. “Da próxima vez que ofender o prefeito leva porrada, entendeu?”. Ato contínuo liberou o preso. Esse conceito de “É pra falar” sobre o comunismo, era uma intuição pelo que ouvia falar das atrocidades dos comunistas.
Era comum naqueles tempos dos coronéis e, acho que até hoje, a prática é igualmente professada – os chefes políticos indicarem delegados de polícia que lhes fossem subservientes e atendessem aos seus interesses políticos. Antanho, esse procedimento dava aos coronéis muito prestígio político, porquanto, mandava prender e soltar os delituosos a depender das suas conveniências de politiqueiro como sói acontecer nestes sertões de meu Deus.