Por Ascom/ Uesb
Fundamental para o desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida, a amanentação proporciona benefícios não só para a criança, como, também, para a mulher, a família, a comunidade e até para o planeta. Entretanto, apesar de ser visto como um ato natural, amamentar não é algo tão simples. Segundo uma pesquisa realizada por membros do curso de Enfermagem da Uesb, algumas dificuldades são encontradas durante o processo de amamentação, mas podem ser superadas com auxílio de uma rede de apoio.
Professora do curso de Enfermagem e coordenadora do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Aleitamento Materno (Nepeam) da Uesb, Marizete Argolo desenvolveu a pesquisa “Facilidades versus dificuldades para amamentar: representações sociais de puérperas”. O estudo foi um dos resultados do pós-doutorado da docente e contou com a colaboração de vários integrantes do Nepeam. A coleta de dados para a pesquisa foi feita em uma maternidade, no município de Jequié, com puérperas (mulheres que deram à luz em até 60 dias) que vivenciaram a amamentação. A análise dos dados ocorreu na Université d’Aix-Marseille, em Aix-en-
A partir da pesquisa, foram identificadas as principais facilidades e dificuldades enfrentadas pelas puérperas para amamentar. Ter leite, praticidade no ato do aleitamento, formato do mamilo, não ter tido problemas mamários, paciência e apoio familiar foram apontados pelas puérperas como facilidades para a amamentação. Quando questionadas sobre as dificuldades, os principais fatores apontados foram os problemas mamários, a falta de leite, o choro do recém-nascido, o cansaço e a falta de paciência.
A posição e pega incorretas, a falta de apoio da família, amigos e profissionais de saúde e a falta de informação sobre os aspectos que permeiam a amamentação também integram a lista de dificuldades confirmadas em outros estudos desenvolvidos pela docente. Segundo a pesquisadora, caso essas dificuldades não sejam sanadas, o desmame precoce pode acontecer, “afetando a saúde das crianças e de suas mães, aumentando o índice da morbimortalidade infantil”.
Os benefícios do aleitamento – Há mais de 30 anos trabalhando com a temática do aleitamento materno, Argolo é uma defensora da amamentação. Segundo a pesquisadora, ele é fundamental para o desenvolvimento humano devido às propriedades imunológicas, psicológicas e nutricionais envolvidas no ato. A docente ainda reitera que o leite materno “é o alimento mais completo para ser oferecidos às crianças nos primeiros dois anos de vida, devendo ser exclusivo nos primeiros seis meses e complementado com outros alimentos saudáveis a partir desta idade”.
Os benefícios são inúmeros e contemplam desde a criança até o planeta. Para a criança, o ato proporciona uma nutrição superior e um ótimo crescimento, aumenta a imunidade, favorece o vínculo afetivo e o desenvolvimento, diminui problemas ortodônticos e fonoaudiólogos associados ao uso de mamadeira e chupeta e reflete em melhor desempenho em testes de QI. Para a mãe, as vantagens estão na redução do risco de câncer de mama e de ovário, redução no tamanho do útero que, consequentemente, diminui o risco de hemorragia, redução de depressão pós-parto, promoção do vínculo afetivo com o filho, além de ser mais prático e econômico.
A família, de modo geral, também é beneficiada com o aleitamento materno, pois uma criança bem nutrida e saudável gera melhorias no ambiente psicossocial e bem-estar, além de menos gastos com cuidados médicos. Outro beneficiado é o planeta, já que o ato de amamentar reduz processos industriais para produção de embalagens, rótulos e publicidade, bem como diminui a fabricação de utensílios como mamadeiras e bicos, o que, consequentemente, gera uma menor produção de lixo.
Argolo ressalta que a amamentação não é um ato instintivo, como pensado pelo imaginário coletivo. Por isso, “as mulheres precisam ser orientadas, precisam de ajuda prática, precisam que sejam demonstradas técnicas de amamentação, precisam se sentir confiantes e seguras para amamentar de forma prazerosa”, afirma. Além disso, o ato de amamentar está ligado a valores, crenças, tabus e costumes culturais que levam muitas mulheres a duvidarem do potencial do alimento que seus corpos carregam e isso evidencia a necessidade de orientação para as mulheres e para toda a rede de apoio. “É preciso abordar, junto a sociedade, as questões que envolvem o aleitamento materno, desmistificando, desconstruindo e reconstruindo novos significados sobre a amamentação”, considera a pesquisadora.
Essas orientações e a existência de uma rede de apoio são elementos fundamentais para o sucesso do aleitamento materno. “Amamentar pode ser prazeroso e gratificante para a mulher que amamenta quando ela tem uma rede de apoio consciente de seu papel, quando as dificuldades podem ser evitadas”, lembra Argolo. É importante destacar que o desejo da mulher em amamentar ou não deve ser respeitado, pois ela é quem deve decidir pela realização da prática.
Sobre o Núcleo – Há 28 anos, o Nepeam, inicialmente denominado “Vamos amamentar, mamãe?”, vem contribuindo para a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, tanto na comunidade acadêmica quanto na comunidade de Jequié e cidades circunvizinhas. As ações são desenvolvidas por meio de parcerias com hospitais da região, em lives, reuniões, ministração de cursos e grupos de WhatsApp, que favorecem a prestação de cuidados às mulheres em processo de amamentação, esclarecendo dúvidas, orientando sobre a amamentação e apoiando-as.