Por: Mara Ferraz
Pessoas fazem ciência e a ciência ajuda as pessoas. Assim, pessoas ajudam pessoas. O atual contexto vem se desenhando dessa forma, ao mostrar o quão importante tem sido a participação dos cientistas e das suas pesquisas para combater a pandemia causada pelo coronavírus, desde o fim de 2019.
Na Uesb, muitas têm sido as contribuições dos cientistas diante desse cenário. É o caso dos professores e pesquisadores Ana Cristina Duarte, Bruno Andrade e Carlos Bernard Moreno, cientistas que, antes de tudo, são pessoas dispostas a entregar seus conhecimentos e contribuir, cada um em sua área, com a sociedade afetada pela pandemia.
Orientação para (futuros) cientistas – À frente da “Escola de Pesquisadores”, a professora Ana Cristina Duarte, que atua na Uesb há mais de 30 anos lecionando Ciências, Biologia e Educação Inclusiva, foi desafiada a pensar, junto com sua equipe, em um novo formato para dar continuidade ao projeto de extensão. “Nesse período de isolamento social, as pessoas precisavam ser estimuladas de alguma forma. Então, retomamos nossa pesquisa e projeto de extensão em um novo formato”, comenta a docente do Departamento de Ciências Biológicas, campus de Jequié.
A ideia do projeto é auxiliar na construção do saber científico, contribuindo para que mais estudantes possam ter acesso à produção acadêmica. Por meio de palestras e oficinas, eles são estimulados a pensar sob a ótica da ciência, na elaboração de artigos acadêmicos, e aprendem como formular perguntas e hipóteses, desenvolver o trabalho e mostrar os resultados.
“Considerando a ciência como conhecimento produzido em todas as áreas e a importância do método científico para promover as pesquisas, nosso projeto de extensão, que foi inserido em 2020, teve a proposta de oferecer lives para a comunidade”, explicou a professora. Assim, foram realizadas cerca de 15 lives da “Escola de Pesquisadores”, com participação de até mil pessoas em cada, de diversos estados do país.
Estudos sobre Covid-19 – Assim como a professora Ana Cristina, o professor Bruno Andrade, do Departamento de Ciências Biológicas, fez a diferença quando o assunto é ciência na pandemia, participando diretamente na busca por soluções para os problemas causados pela Covid-19. No Laboratório de Bioinformática e Química Computacional, do campus de Jequié, ele realiza pesquisas voltadas para o desenvolvimento de fármacos.
“Quando surgiu a pandemia, buscamos, inicialmente, drogas e fármacos contra a Covid. Não se sabia muito o que era essa doença, então identificamos alvos que pudessem ser atacados”, explica. No entanto, no decorrer do trabalho, foram desenvolvidas pesquisas em outras áreas, como: a identificação de moléculas que pudessem impedir o vírus no ambiente; a identificação de partes do vírus, das quais pudessem ser desenvolvidas vacinas; e a identificação de aspectos do vírus que pudessem induzir consequências no ser humano, tais como sintomas.
Além da participação de bolsistas e estudantes de graduação e pós-graduação, os projetos também contaram com parcerias nacionais, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e internacionais, como instituições nos Estados Unidos, Índia e Inglaterra. Até o momento, o professor e sua equipe publicaram nove artigos acadêmicos e outros trabalhos continuam em andamento.
Informação de qualidade – Paralelo a essas contribuições, o professor Carlos Bernard Moreno, do Departamento de Ciências Exatas e Naturais (Dcen), em Itapetinga, com atuação nas áreas de Genética e Biologia Molecular, focou na distribuição de informações. De acordo com ele, junto com a pandemia, surgiu também a necessidade de aproximar a Universidade da comunidade. “O que motivou o campus de Itapetinga a interagir com a comunidade, no sentido de informar sobre a Covid-19, foi a constatação de que, ao mesmo tempo, estávamos vivenciando a Infodemia”, comentou Bernard.
Segundo o professor, a sociedade está lidando com o excesso de informação, muitas vezes equivocada, além das chamadas “fake news”. Assim, foi formado um grupo técnico, de diversas áreas de atuação, com o objetivo de produzir um Boletim Informativo, periódico, para fornecer informações de qualidade para a comunidade.
As informações eram catalogadas e distribuídas após a coleta de dados da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) e das prefeituras da região Sudoeste do estado. Além disso, diversos temas eram trabalhados para desconstruir mitos criados e disseminados entre a população. O objetivo do “Boletim Uesb contra a Covid-19” era atuar em três linhas de combate: conteúdo equivocado, desinformação e informação falsa, dentro do contexto da pós-verdade.
Com isso, a Uesb também auxiliou os gestores da região e do estado para as tomadas de decisões. Além do assento no Gabinete de crise de enfrentamento à Covid-19 em Itapetinga, a iniciativa aproximou a Universidade do Conselho de Saúde, tanto em Itapetinga quanto em Vitória da Conquista. Houve a participação da Uesb junto a entidades representativas, como a Câmara Legislativa, a integração do Boletim na rede de divulgação do Estado e a participação em programas de comunicação, levando informação para a comunidade.
Desafios e perspectivas – Para realizar esses trabalhos, os professores têm encontrado desafios, como na área financeira. “Todas as pesquisas que fizemos durante o período da pandemia foram feitas a partir de recursos já existentes dentro da Universidade”, pontua Bruno. Diante disso, algumas perspectivas os levam a pensar em saídas, como a criação de startups ou incubadoras para buscar recursos nas áreas públicas-privadas.
No que tange à agregação de mais pesquisadores, a professora Ana Cristina reforça a necessidade de olhar também para a saúde mental. “A pandemia afetou diretamente e negativamente em todos os setores e, principalmente, a saúde mental e emocional das pessoas. Então, quero valorizar as pesquisas nas áreas educacionais das Ciências Humanas e, principalmente, aquelas relacionadas à saúde mental do ser humano”, defende.
Já o professor Bernard explica que o distanciamento que há entre a ciência e a comunidade dificulta o acesso a informações de qualidade. “Há uma necessidade de potencializar a influência da academia junto à sociedade, e a academia pouco interagiu nesse ambiente de influenciadores sociais”, comenta.
Pesquisas e ações de extensão, realizadas por esses e outros tantos cientistas, reforçam a necessidade de ter a ciência como base para auxiliar a vida das pessoas e o gerenciamento de crise. Como diz a professora Ana Cristina Duarte: “espero que, por meio de nossas pesquisas, possamos trazer mais conforto e, também, fazer com que tenhamos uma qualidade de vida melhor e mais duradoura”.