Durante milênios, rainhas e moradoras de rua usavam peças de pano como absorventes íntimos. O mesmo se pode dizer para as fraldas. Eu já era adolescente quando meus pais tiveram outros quatro filhos e o quintal ostentou, durante anos, cordéis de bandeiras brancas que, uma vez lavadas, retornavam ao uso sem envolver a natureza com os ônus dos descartes que hoje a entulham. Não era diferente com as toalhinhas femininas. Ninguém jamais pensou em pedi-las ao prefeito, ao governador, ou ao presidente da República.
Certo, de lá para cá surgiram produtos industrializados, de uso muito mais confortável e seguro. Não vejo, porém, como essa oferta de produto gere um “direito” de ordem natural ao seu consumo.
A ideia de atribuir o fornecimento ao poder público é compatível com um modelo de Estado provedor, substituto das ações humanas e, de imediato, seu inibidor. A experiência desses estados mostra bem seu curso. Fornece a ração, o absorvente e a fralda até que a ração começa a diminuir, a fralda sai da lista e, dia após dia, aumenta a fila do absorvente. Faça essa lista com o que quiser, o resultado será o mesmo.
Contudo, faça-se conforme pleiteado. “Forneçam-se os absorventes!”, dirá o senso comum, já adestrado a ver o mundo desse jeito. Como não há dinheiro “do Estado”, e todos os recursos públicos são tomados da sociedade, qual o motivo para que não corresponda a você mesmo, ou seja, a comunidade local pagadora de impostos, “a obrigação” de providenciar esse fornecimento diretamente, ou através da prefeitura? Muito mais lógica, pedagógica e benevolente a iniciativa comunitária! Por que impô-la à União Federal, por que exigi-la do presidente da República, como pretendem os partidos de esquerda, a mídia militante e os demais demagogos de ofício, sempre ágeis em mandar as contas para o Palácio do Planalto enquanto exibem superioridade moral sem ônus próprio?
A ideia de que a União é a mãe de todos, socorrista de plantão, dispensária geral, já nos trouxe às dificuldades das últimas décadas e fez prosperar, inclusive, as organizações criminosas que apodreceram moralmente o aparelho de Estado.