Alayde da Silva Silveira nasceu em 30 de março de 1909, na cidade de Condeúba/BA, filha de José da Silveira Torres (Zeca) e Anna Amélia da Silva. Avós paternos: João José da Silveira e Rachel Augusta Torres e maternos, Jovino Arsênio da Silva e Adélia Carolina da Silva Torres.
Irmãos consanguíneos: Maria, Deusdedith, Waldemar, Oflávio, Dalva, Enelzita, Alvair e Djalma Silveira Torres. Depois da viuvez Zeca Torres teve dois filhos: João (Nenzinho) e Raquel Torres.
Casou-se com Jesuíno José Alves, por escolha da mãe, com quem não queria, pois amava, ou achava que amava outro homem. Naquela época, o namoro era à distância e dependia do consentimento dos pais. A sua família, orgulhosa e preconceituosa, alegava que o escolhido por ela, era descendente de escravos, daí não permitir o namoro. Uma situação que os familiares não aceitavam por discriminação e preconceito, justificava Alayde.
Viveu uma experiência negativa no casamento e teve uma vida atribulada, sofreu muitas agressões e humilhações do marido alcoólatra. Apesar da sua altivez e dignidade, não foi feliz no relacionamento matrimonial. Ficou viúva, e pela experiência sofrida tomou pavor a homem, para um possível segundo relacionamento, pois viveu um inferno aturando o marido, um alfaiate que tentou matá-la pela fúria alcoólica. Comentou que não teve filhos, mas criou alguns como se fosse filho biológico. A ingratidão, deles, porém, tomou conta dos corações empedernidos. Ignoravam-na e não se dispunham a visitá-la na velhice.
O irmão Djalma Torres assumiu a responsabilidade e proporcionou-lhe o necessário para um viver modesto. Era exímia bordadeira, vivia desse mister. Em idade provecta, contava apenas com a exígua aposentadoria e a benevolência do irmão.
Condoído com o seu sofrimento, por viver sozinha e idosa, trouxe-a de Vitória da Conquista para Brumado, cedendo-lhe casa mobiliada e empregada para cuidar dela e fazer-lhe companhia.
Um dia, ela caiu e quebrou o colo do fêmur. Foi levada para o SAMUR, em Vitória da Conquista, onde fez cirurgia com prótese, operação exitosa. Em pouco tempo, já estava andando, contudo dependia de uma assistência em tempo integral para os cuidados necessários. Após sua cuidadora ter-se demitido, a família achou por bem colocá-la na Associação Luísa de Marillac – entidade mantida pelo Centro Espírita – tendo em vista a dificuldade de um acompanhamento integral e contínuo, o qual a associação dispensava através de funcionários específicos para esse atendimento. O irmão Djalma prestou-lhe a assistência necessária.
Alayde com “y” dizia que a escrita do seu nome era diferente das demais “Alaídes”, orgulhava-se disso. Exigente, falava que era pessoa de formação e educação refinada, sendo comum ela corrigir as pessoas nos deslizes das pronúncias ou do proceder em desacordo com a formalidade da linguagem correta, dos costumes e da civilidade.
Muito vaidosa, comentava, em idade avançada, que não tinha rugas, visto que, na mocidade, cuidara-se com bastante esmero para que, na velhice, não ocorresse desgaste da sua pele. Mostrava-me o rosto, alegando que não tinha nenhuma ruga:
– Está vendo, meu sobrinho, como me cuidei?
– A Senhora está com a pele de uma moça de 15 anos, Tia.
– Não exagere, seu descarado! – Objetou com ar de satisfação.
“Vaidades das vaidades e tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2)
Certa feita, uma zeladora passava o pano no quarto onde Alayde vivia, pediu-lhe para “ribar os pés” para a limpeza do local. Ela prontamente a corrigiu: “Ribar não, minha filha! Fale corretamente, diga arribar, levantar ou suspender, é essa a palavra correta”.
Em outra ocasião, no seu aniversário, uma comemoração familiar, surgiu-me a dúvida sobre sua idade. Então, perguntei-lhe quantos anos ela estava realmente completando, pois alteraram a data do nascimento para aposentá-la.
– Você é muito indelicado.
– Não se pergunta a idade das pessoas, mormente quando é mulher.
– Qual o seu interesse em saber a minha idade?
– trata-se apenas de uma curiosidade, Tia.
– Fique com a sua, que fico com a minha!
Um seu parente de Condeúba, visitou-a no SAMUR em Vitória da Conquista, na época em que ela foi operada. Curioso, perguntou-lhe a data de nascimento, ao que ela respondeu:
– Nunca perguntei a sua idade, portanto, não se preocupe com a minha.
– Agradeço a sua visita, mas, a minha idade é um problema meu.
Diante dessa resposta, o visitante foi até a secretaria do hospital, identificou-se como parente e solicitou a informação sobre a idade da enferma. De posse do dado, voltou ao quarto e se pronunciou com arrogância, dizendo-lhe quantos anos ela tinha, acusando-a de malcriada. Recebeu da parenta enferma resposta, recriminando-o pelo gesto impertinente.
Ele falava pelos cotovelos, muito alto, uma de suas características. A enfermeira o advertiu, dizendo-lhe que o ambiente requer silêncio, dessa forma, disciplinou o cidadão que tinha por hábito falar alto.
Alayde foi uma pessoa excessivamente dependente. Por ser pobre, dependia de ajuda que encontrou no irmão Djalma, seu protetor e mantenedor.
Ela mereceu de mim, admiração e consideração. Convivi com Alayde durante muito tempo, em Vitória da Conquista, onde morávamos em casa de meu avô paterno e pai dela. Em Brumado, visitava-a todos os domingos, na casa Luísa de Marillac, levando-lhe solidariedade, momentos em que conversávamos longamente sobre diversos assuntos. Ouvia as suas lamúrias da vida, porém resignou-se com tudo que lhe aconteceu, por conta da desventura proporcionada pelo destino.
Católica fervorosa, apegava-se a Deus e a seus santos de devoção para lhe proporcionar alívio, ao seu sofrimento e reservar um lugar digno para salvação da alma conforme o seu desejo.
Muitas vezes, ela me dizia: – Por favor, não me abandone, não me deixe sozinha. Isso me deixava extremamente triste e comovido. A fé e a religiosidade eram companheiras diuturnas e inseparáveis que preenchiam a sua vida de esperança.
Tinha pela igreja e pelos seus sacramentos um respeito imensurável. Tinha fé inabalável nos seus protetores. Recebia em sua residência a consagração Eucarística pelos leigos da Igreja.
Faleceu na casa de repouso Luísa de Marillac, no dia 3 de junho de 2007. Está sepultada no Cemitério Municipal Jardim Santa Inês. Quando do seu falecimento, o meu coração ficou diminuído, e o sentimento de perda foi muito grande. Guardo dela a lembrança de uma pessoa digna e respeitável, cuja imagem fica indelevelmente gravada em minha mente, como se viva estivesse, e espero encontrá-la em outra dimensão, porquanto a morte, para mim, é um sono, que o espírito despertará com a ressurreição dentre os mortos.
Gostava por gostar, nutrindo por ela um sentimento de admiração, um amor consanguíneo, uma afeição indiscutível e indescritível. Cristão, desejo-lhe que a PAZ a acompanhe eternamente.