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Extremismos sociais

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Poder, ambição, vaidade, prepotência, arrogância, autoritarismo e egoísmo:

Há os que, pela posição socioeconômica e financeira abastada, ou pelo poder e status sociais dos cargos privilegiados que ocupam, quer como político, quer como elite e profissionais destacados, acham-se diferenciados das demais pessoas e, julgam-se superiores. Suas ações são carregadas de prepotência, de autoritarismo, de indiferença, atitudes inerentes aos egoístas e presunçosos, que expõem seus semelhantes a humilhações e ao desprezo, principalmente os humildes.

Face ao exposto, ocorreu-me a fábula sobre Alexandre, O Grande, o monarca conquistador.

 Transcrevo-a:

 Alexandre, prosseguindo o seu caminho por desertos estéreis e terrenos incultos, chegou junto de um ribeiro cujas águas corriam brandamente por entre as margens. Sua superfície, que nenhuma aragem alterava, era a imagem do contentamento e parecia dizer com sua muda linguagem: “Eis o asilo do repouso e da paz”.

Tudo ali era tranquilidade e somente se ouvia o murmúrio das águas, que parecia repetir ao ouvido do viajante cansado: “Vem tomar parte dos benefícios da natureza”, queixando-se de que seu convite era em vão. Essa cena teria sugerido mil reflexões a uma alma contemplativa; porém, como poderia lisonjear a de Alexandre − ambicioso e cheio de projetos de conquistas −, cujos ouvidos tinham-se familiarizado com o ruído das armas e com os gemidos dos moribundos?

Alexandre continuou seu caminho. Entretanto, vencido pela fome e pela fadiga, em breve foi obrigado a parar e, sentando-se à borda do ribeiro, bebeu alguns goles da sua água, que lhe pareceu muito fresca e de um gosto esquisito. Mandou então que lhe trouxessem alguns peixes salgados que trazia de provisão e meteu-os na água, para modificar a excessiva aspereza do seu sabor. Porém, qual não foi sua surpresa, vendo que eles exalavam um cheiro suave!

Certamente, disse ele: “Este ribeiro, dotado de tão rara virtude, deve ter uma nascente nalgum rico e afortunado país, procuremo-la”. Subindo a corrente da água, Alexandre chegou às portas do paraíso. Estavam fechadas. Bateu e pediu para entrar com seu ardor ordinário. [entusiasmo].

– Não podes ser admitido!  – Gritou-lhe uma voz da parte de dentro.  – Aqui é a porta do SENHOR.

– Eu sou o senhor, o senhor da terra.  – Replicou o impaciente monarca. – Sou Alexandre, o Conquistador. Por que vos demorais em abrir esta porta?

 – Não! – Continuou a voz.  – Só se conhecem aqui por conquistadores os que vencem paixões. Só os justos podem entrar aqui.

Alexandre tentou debalde entrar à força na morada dos bem-aventurados. Nem ameaças nem rogos produziram efeito. Vendo que todos os seus esforços eram inúteis, voltou-se para o guarda do paraíso e disse:

– Bem sabeis que sou um grande rei, que recebo a homenagem das nações. Se, não obstante, não quereis deixar-me entrar, dai-me, ao menos, alguma coisa que prove ao mundo que cheguei aqui, aonde nenhum mortal me precedeu.

– És insensato. – Respondeu-lhe o guarda do paraíso.

 – Eis uma coisa que poderá curar os males de tua alma: uma simples vista que deites sobre este objeto te ensinará mais sabedoria do que tens aprendido até agora com teus antigos mestres. Agora continua teu caminho.

Alexandre pegou avidamente o que lhe davam e voltou para sua barraca, porém qual não foi sua admiração quando, examinando a dádiva, reconheceu que aquilo não era mais do que um pedaço de caveira.

– É este – exclamou ele – o belo presente que se faz aos reis e aos heróis? É este o fruto de tantos trabalhos, perigos e inquietações?

 – Furioso e iludido nas suas esperanças, arremessou para longe de si aquele pedaço miserável de um resto mortal.

– Grande rei – disse um sábio que estava presente –, não desprezes essa dádiva. Por mais miserável que pareça às tuas vistas, ela possui virtudes extraordinárias, como podes verificar, se comparares seu peso com o do ouro e da prata.

 Alexandre ordenou que se fizesse a experiência. Trouxeram uma balança. O resto humano, colocou-o num dos pratos e o ouro, no outro. Com grande surpresa de todos, o osso fez vir abaixo o prato que o continha. Ajuntou-se outro metal ao ouro, e sempre o osso pesava mais, até quanto mais ouro se acrescentava, menos pesava o prato em relação ao do pedaço da caveira.

 – É admirável – disse Alexandre – que tão pequena quantidade de matéria pese mais do que tanto ouro. Não há, pois, coisa alguma que possa equilibrá-los?

– Há! – Respondeu o sábio – e muito pouco é bastante.  – Pegando um pouco de terra, cobriu com ela o osso cujo prato imediatamente ascendeu.

– Eis o que é ainda mais extraordinário! – Exclamou Alexandre – poderás tu explicar-me semelhante fenômeno?

– Grande rei – respondeu-lhe o sábio – este fragmento de osso é o que encerra o olho humano que, ainda que limitado no seu volume, é ilimitado nos seus desejos. Quanto mais possui, mais deseja ter. Nem ouro, nem prata, nem outra qualquer riqueza terrestre poderia satisfazê-lo, porém, quando descido ao túmulo, ele é coberto pela terra e nela encontra um limite para a sua ávida ambição.

A vaidade, a ambição, a prepotência são fraquezas mesquinhas da humanidade que deveria exercer o sodalício com harmonia, com respeito às individualidades e solidariedade com seus concidadãos, sem arrogância e sentimentos inferiores que humilham e levam vexames às pessoas.

São essas atitudes que tornam os homens piores, indomáveis e cruéis pela revolta das desigualdades produzidas pela ambição, jactância e a vaidade – extremismos sociais.

É preciso que os poderosos façam uma grande reflexão ante o poder e o fascínio do status socioeconômico que exercem em detrimento do seu semelhante comum e desafortunado. Reflitamos, pois que todos nascem iguais e igualmente morrem despojados dos bens e das vaidades terrestres, visto que, para Deus, todos são equânimes, não há distinção entre ricos e pobres, poderosos e subalternos. Todos terão o mesmo destino inexorável – a morte.

O julgamento será feito mediante a fé, com as obras e ações praticadas, segundo o Evangelho.

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