Carlos Eduardo Freitas acredita que crescimento será maior. Mercado estima que economia vai crescer 0,3%, mas ministro Paulo Guedes diz que analistas vão errar novamente
Por: Felipe Moura/Brasil 61
O economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, afirma que não vê fundamentos para que o crescimento da economia fique “só” em 0,3%. O mercado financeiro manteve a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 0,3% para 2022, conforme aponta o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central no último dia 14. A informação contrasta com a projeção do Ministério da Economia, que acredita que o PIB do país vai subir acima dos 2% este ano.
Para o ex-diretor do BC, as projeções para o PIB brasileiro este ano, de fato, variam bastante e a estimativa do mercado financeiro deve ser respeitada, mas há fatores a serem levados em consideração.
“A única coisa que poderia fazer dar 0,3%, com perdão ao Paulo Guedes, é a política econômica do governo, que é confusa na parte fiscal. A economia mundial está se recuperando, a crise hídrica está no retrovisor. A pandemia, apesar dos pesares, está caindo. Então, eu não vejo porque crescer 0,3%, eu estou com dificuldade de entender. Os 2% do governo, intuitivamente, fazem mais sentido na minha cabeça. Talvez em março e abril os fatos mostrem que o 0,3% fazia sentido, mas falando de hoje, eu não vejo porquê. Eu acho que 2% está razoável”, avalia.
O Boletim Focus traz, semanalmente, as projeções de mais de 100 instituições financeiras para indicadores econômicos do Brasil, como o próprio PIB, a inflação e a taxa de juros (Selic). Na visão de boa parte desses analistas, as estimativas do governo para a economia brasileira em 2022 são otimistas demais, enquanto o ministro Paulo Guedes já disse, algumas vezes, que o mercado financeiro errou em previsões no passado, e vai errar novamente.
As estimativas de crescimento para o país de organismos internacionais estão mais próximas da equipe econômica que das do mercado financeiro. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê alta de 2,3% do PIB do Brasil. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) fala em crescimento de 1,5%.
Divergência
Já em dezembro do ano passado, quando as projeções da Secretaria de Política Econômica (SPE) e das instituições financeiras se mostravam distantes, o ministro da Economia criticou as expectativas do mercado para a economia brasileira em 2022.
“Previam que o PIB brasileiro [em 2020] iria cair 10%. Caiu 4%. Várias economias avançadas caíram 9%, 10%. Itália, França, Reino Unido, Alemanha, todos caíram mais do que o Brasil. Previam que a gente ia ficar em depressão. Voltamos em ‘V’. Diziam que era o V do ‘Virtual’, que eu estava imaginando. Como dizem agora que eu estou imaginando um Brasil que não existe para o ano que vem, porque o ceticismo vai sendo rolado ano a ano, à medida que se frustram as piores expectativas”, rebateu durante encontro com empresários e parlamentares.
O argumento de Guedes para um “novo erro do mercado” tem como base o ano de 2020, quando a pandemia da Covid-19 chegou ao país. Em junho daquele ano, o mercado financeiro chegou a projetar queda de 6,54% para a economia brasileira. A SPE calculava uma queda menor, próxima a 4,7%. O FMI, por sua vez, chegou a falar em baixa de 9,1% da atividade econômica. No entanto, o PIB do Brasil caiu 4,1%, mais próximo do resultado esperado pelo governo.
Segundo Carlos Eduardo de Freitas, o FMI “errou feio” nos cálculos para o PIB do Brasil de 2020. O consultor afirma que, apesar da avaliação equivocada do mercado, principalmente em junho daquele ano, o impacto da projeção do organismo internacional é mais danoso.
“Este erro é diferente do erro do mercado. O mercado que erra é uma centena de departamentos econômicos de instituições financeiras, de outras empresas, consultorias independentes, que fazem o seu estudo. O FMI é um órgão da maior responsabilidade. Eu sou contra ele ficar antecipando, porque quando ele antecipa queda de 9,1% e deu 3,9%, ele teria que pagar lucros e perdas ao país, porque ele tem uma influência, ele não está entendendo que tem um peso, uma responsabilidade. Eu, como consultor independente, posso falar que o PIB vai cair 10%. Ninguém vai dar bola para mim, eu não tenho influência. Agora, o FMI tem uma responsabilidade enorme. Eu achei muito ruim ele fazer esse tipo de antecipação”, critica.
Para 2022, há instituições financeiras que já falam em queda do PIB, ou seja, uma recessão do país, o que vai na contramão do que acredita o governo. “Se às vezes parece que somos ufanistas, irreais, não é isso. É que temos que resistir aos ceticismos dos perdedores das eleições anteriores, que geriram o Brasil por 30 anos e atolaram o Brasil no crescimento zero.
Temos que reagir a isso, e não reagimos com ufanismo, mas com realidade. Dizendo: “olha, inflação está subindo, é um problema no mundo inteiro. Banco Central está subindo juros. Isso desacelera o crescimento, mas não causa recessão se a nossa taxa de investimento está chegando a 20%. É o pico desde 2014”, disse Guedes.
PIB de 2021
No dia 11, o BC informou que seu Índice de Atividade (IBC-Br) subiu 4,5% em 2021. O indicador é considerado uma prévia do Banco Central para o resultado do PIB, que será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em março.
As expectativas do governo e do mercado financeiro, neste caso, estão mais próximas. A equipe econômica calcula o crescimento do ano passado em 5,1%. Os analistas, em 4,5%.
Foto da capa: Marcelo Casal/Agência Brasil