redacao@jornaldosudoeste.com

Exupério Pinheiro Canguçu

Publicado em

WhatsApp
Facebook
Copiar Link
URL copiada com sucesso!

*24/09/1820†08/02/1900

 

Exupério Pinheiro Canguçu nasceu no Sobrado do Brejo, em 24 de setembro de 1820, em Bom Jesus dos Meiras, atual Brumado. Filho primogênito de Inocêncio José Pinheiro Pinto –   filho legítimo do capitão Antonio Pinheiro Pinto e de Bibiana Maria de Jesus , e  de Prudência Rosa de Santa Edwirges, nascida em Bom Jesus dos Meiras em 1802, filha de Francisco de Souza Meira e Ana Xavier da Silva.  Prudência falecu em 1848 no Sobrado do Brejo.

Avós maternos de Inocêncio José Pinheiro Pinto que  depois adotou  Canguçu em substituição ao nome PINTO: Miguel Lourenço de Almeida e Ana Francisca da Silva.

Transcrição dos termos do Batizado:

“Certifico q’ revendo os Livros dos assentos dos Batizados, delles não consta o que se menciona na petição supra: afirmo porem, não só plo. assento feito pelo Pai do supe. como mmo. pr. Informação de pessoas de conceito q’ elle nascera a vinte quatro de setembro de mil oito sentos e vinte e fora baptizado pl. Fr. José de Jesus Maria a vinte de 9bro. do mmo. anno: forão seos Padrinhos José Pinro. Pinto e D. Maria Franca. da Assunção; o q’ attesto he verdade. Caetité 31 de Mço 1840”.

O Vigo. Sabino Gomes de Ande.

Em 1830, após a Independência do Brasil, Inocêncio José Pinheiro Pinto, por sentimento nativista e conveniência pessoal, substituiu o sobrenome Pinto, nome de origem lusitana, pelo vocábulo indígena Canguçu – nome que significa animal feroz, condizente com o temperamento dos Pinheiro Pinto, valente  por natureza. E passou assinar Inocêncio José Pinheiro Canguçu.  Esse novo nome foi transmitido aos seus filhos e descendentes.  Porém, há um documento do cartório que desde 1822 os membros do Clã Pinheiro Pinto já assinavam CANGUÇÚ, assinatura  confirmada pelo cartório em 1823.

O Casamento de Inocêncio José Pinheiro Pinto e de Prudencia Rosa de Santa Edwirgtes realizou-se em 25 de junho de 1817, dessa união nasceram os filhos:

 Exupério Pinheiro Canguçu (1820-1900); Pedro Ulisses Pinheiro Canguçu (1825); Leolino Pinheiro Canguçu nascido em 1826,; Zeferino Pinheiro Canguçu (1827); José Inoceêcio Pinheiro Canguçu (1832); Francisco Pinheiro Canguçu (1834); Ermelindra Pinheiro Canguçu (1836); Adolfo Pinheiro Canguçu (1838); Lívio Pinheiro Canguçu (1840); Bibiana Pinheiro Canguçu (1843);  Geraldina Canguçu (?-?);  Jesuino Pinheiro Canguçu,  filho bastardo de  Inocêncio José Pinheiro Canguçu com Ana Maria Gonçalves Oliveira.  Conta-se que Inocêncio José Pinheiro Canguçu teve outro tanto de filhos extramatrimonial.

Em 1830, após a Independência do Brasil, Inocêncio José Pinheiro Pinto, por sentimento nativista e conveniência particular, substituiu o sobrenome Pinto, nome de origem lusitana, pelo vocábulo indígena Canguçu – nome que significa animal feroz, condizente com o temperamento dos Pinheiro Pinto, mavórcio por natureza. E passou assinar Inocêncio José Pinheiro Canguçu.  Esse novo nome foi transmitido aos seus filhos e descendentes.  Porém, há um documento do cartório que desde 1822 os membros do Clã Pinheiro Pinto já assinavam CANGUÇÚ, assinatura  confirmada pelo cartório em 1823.

Um de seus filhos, Leolino Canguçu, tornou-se famoso por ter-se envolvido com a jovem Porcia Carolina da Silva Castro, tia do poeta Castro Alves. Esse episódio levou a família Canguçu e travar inúmeras  lutas com as família Castro e Moura entre os anos 1844 até 1847. Conforme  inventário de  Lelino, ele   foi assassinado em Grão Mongol/MG) em 03 de setembro  1846 e deixou três filhas.

   Inocêncio José Pinheiro Pinto   nasceu  em 1795 e  faleceu na fazenda Ilha do Pão/MG em 1861 com a idade de 66 anos.

Exupério Pinheiro Canguçu,  nasceu no Sobrado do Brejo em 24 de setembro de 1820.  aprendeu as primeiras letras com o vigário de Bom Jesus dos Meiras. Adolescente, com mais ou menos 15 anos de idade, seguiu para Salvador, onde permaneceu estudando e se preparando para a admissão ao curso jurídico da Academia Pernambucana de Olinda. Dedicou-se com afinco ao aprendizado, adquirindo conhecimentos que o colocaram acima do nível intelectual e cultural em relação aos seus colegas do curso.

A Sabinada – revolução baiana que tomou o nome de um dos seus promotores, o médico famoso Dr. Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira, ocorrida em novembro de 1837 – foi um movimento sedicioso, de caráter republicano e separatista que promoveu a brusca retirada de várias pessoas da capital para o recôncavo baiano, atingindo até Pernambuco. Esse foi um dos motivos que levou o jovem Exupério Pinheiro Canguçu a abandonar os estudos. Voltou para o Brejo em 1837 com a intenção de retornar para Olinda, entretanto a rebelião durou até março de 1838, o que o desmotivou a continuar estudando.

Os estudos realizados incutiram-lhe o gosto pela leitura, o qual conservou por toda a vida. No Sobrado, mantinha uma biblioteca com mais de duzentos volumes de obras sobre literatura francesa (idioma que dominava e do mesmo modo o latim), literatura inglesa, portuguesa e livros especializados em história natural, química, física, obras de autores católicos, dicionários e outras do seu interesse.

A pedido do pai, em 1838, assumiu a direção administrativa da fazenda do Campo Seco, tornando-se líder familiar. Ocasião em que se casou aos 18 anos de idade, com a prima Umbelina Bárbara Meira e depois de casada  passou a assinar Umbelina Bárbara Meira Canguçu, nascida em 04/12/1819,  com 19 anos de idade. Filha de seus tios Antônio de Souza Meira e Zeferina Maria de Santo Antônio, natural da vila Bom Jesus dos Meiras. O casamento aconteceu  no Sobrado do Brejo, em 16 de julho de 1838. Umbelina faleceu no sobrado do Brejo, em 17/03/1903, com 83 anos de idade.

O casal Exupério/Umbelina teve os seguintes filhos: Zeferina Canguçu Mirante (1845-1923) casada com Florindo Castro Mirante, Prudência (Dendência) Pinheiro Canguçu (1847-1927), Iria Pinheiro Canguçu (1849-1940), Maria da Conceição Canguçu Cotrim (1851-1919)), Antônio Pinheiro Canguçu, (1854-1936)), Joaquim Pinheiro Canguçu (1855-1918), Inocêncio Pinheiro Canguçu (1858-?), Umbelina Pinheiro Canguçu (1860-1942), Exupério Pinheiro Canguçu Filho (1862-?), todos nascidos no Sobrado do Brejo.

Os filhos de Exupério foram criados conforme os costumes da época e as orientações fornecidas pela região católica. Não contavam com distrações e viviam num ambiente de segregação, isolados no latifúndio, praticamente sem comunicação com os vizinhos.

Preocupado com os estudos dos filhos, reservou um dos quartos de sua residência, improvisou nele uma escola, mobiliando-a rusticamente e contratou um professor e um sacerdote de Bom Jesus dos Meiras para lecionarem para os seus filhos, pela parte da manhã, sob sua fiscalização. Um deles tinha problemas mentais e morreu ainda adolescente.

Dos seus  filhos, um permaneceu no Brejo, tinha problemas mentais,   dois efetuaram o curso secundário no Colégio São João, em Salvador.  Um  deles regressou   para o Brejo,  enquanto o outro, o mais velho, de nome Antônio, depois de formar-se em engenharia civil na Escola Central (posterior Escola Politécnica do Rio de Janeiro), empregou-se na construção da Estrada de Ferro Leste Brasileiro.

Levavam uma vida monótona, o mesmo ramerrão, ano após ano, ainda pior para as mulheres que tinham a sua liberdade tolhida pela rigidez da criação. Às mulheres, em geral, na época, não era permitida a instrução. A elas eram reservados os trabalhos domésticos: costura, crochê, rendas etc. e, por prevenção dos pais, eram vigiadas por escravas. Tinham respeito pelos pais, a quem temiam, principalmente o pai, e procuravam obedecer-lhes sem contrariar as suas orientações e ordens.

Estudou em Salvador, era considerado um homem culto, lia corretamente em latim, francês e tinha conhecimentos da língua inglesa, destarte nunca se descurou da leitura que lhe proporcionava prazer e aquisição de novos conhecimentos, de novos temas e se atualizava através de jornais (era assinante do Diário da Bahia, órgão do Partido Liberal) e revistas vindas de Salvador. Embora chegassem atrasadas, inteirava-se dos assuntos em evidência na época. Pessoa de muita cultura apreciava conversar sobre literatura, política e história geral com os visitantes instruídos e letrados que se hospedavam no Sobrado.

Exupério Canguçu elevou o padrão de vida e a situação dos moradores do Brejo, providenciando melhorias socioeconômicas diversas, inclusive alimentares, introduzindo hortaliças e frutas na alimentação, as quais anteriormente não eram consumidas. Houve uma reviravolta de hábitos e costumes no lugar, com a modernização introduzida por Exupério, proporcionando o bem-estar da população.

 O Coronel Exupério,  proprietário rural, homem de visão comercial extraordinária, era aficionado por pedras preciosas, cristais e análises de materiais ferrosos. Proveio daí o êxito da sua riqueza e o seu prestígio comercial e político. Homem honesto, cumpridor dos seus deveres. Nessa área comercial, ele foi representante ou correspondente das firmas Monteiro & Gomes, substituída depois por Antônio Francisco & Cia Brandão. Nessas relações comerciais e de confiança, incluía-se também o pagamento de todas as despesas dos filhos, estudantes em Salvador, para posterior acerto.

Em 03 de junho de 1863, ainda por intermédio dessa firma, doou a importância de duzentos mil reis, para as urgências do Estado, na crise em que se encontrava.

Envolveu-se na política da região, segundo Lycurgo, diferentemente do avô e do pai que não se interessavam por essas questões de ordens políticas e civis de mando. Candidatou-se (Caetité) em 1844 para vereador não foi eleito. Não desistindo da política foi eleito vereador em 1848 para o quatriênio 1849/1852 e fez parte, a convite, no ano de 1848 da Junta de Qualificação – órgão destinado à habilitação e qualificação de novos eleitores na cidade de Caetité. Eleito vereador por vários mandatos com expressiva votação, demonstrou o seu prestígio político junto à comunidade. Por exemplo, na eleição de 1848, obteve 441 votos de um total de 1019. A Santa Casa de Caetité foi fundada em 26 de abril de 1843, entre os irmãos fundadores houve a participação de Exupério Canguçu.

 Em 1877, foi Juiz de Paz do Termo de Bom Jesus dos Meiras e presidente da Câmara. em 15/04/1878 foi encarregado da vice-presidência da Câmara e presidente da Junta revisora do município da vila Bom Jesus dos Meiras.

Fez parte da Guarda Nacional estabelecida em Caetité através 78º Batalhão que lhe concedeu o título de “Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional do Município de Caetité”, posto do qual se orgulhava pelo tratamento de “Comandante Superior”. Pagou pela patente a importância exigida naquele tempo.

O coronel tinha duas casas na sede do município de Bom Jesus dos Meiras, que eram utilizadas quando ele vinha tratar de negócios na cidade ou para veranear, uma delas é o Casarão dos Canguçus que hoje pertence à família de Newton Cardoso.

Em Santo Antônio da Barra, depois denominada Condeúba, foi igualmente chefe político de grande prestígio. Foi convidado pelo padre Belarmino Silveira Torres da então paróquia ou freguesia de Santo Antônio da Barra que lhe promoveu homenagem em 23 de outubro de 1859, com todos os requintes de uma festa religiosa, em congratulação pela posse recente no posto de Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional de Caetité. O padre visava, também, fazer apelo no sentido de elevar à paróquia a vila, o que se efetuou em 1860, certamente com a influência do chefe político Exupério Canguçu.

Em 18 de outubro de 1856, foi nomeado pelo governador da província da Bahia,   Oficial da Guarda Nacional, assinada  João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu. Um ano depois, a patente de Coronel. Em 1857, foi também nomeado pelo Imperador D. Pedro II com a carta patente de Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional do Município de Caetité, província da Bahia.

Era monarquista, mas, com as mudanças políticas, filiou-se ao Partido Liberal,  e dessa forma, perdeu o poderio político em Santo Antônio da Barra para o sobrinho Coronel da Guarda Nacional José Egídio de Moura Albuquerque, o qual, em 1889, foi agraciado com o título de Barão de Santo Antônio da Barra (Condeúba).

 Exupério Pinheiro Canguçu recebeu cartas de políticos eminentes, como João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu – Visconde de Sinimbu – e Conselheiro Ruy Barbosa, pedindo votos pelo seu prestígio eleitoral de então.

Deveria receber o título de Barão, chegou a fazer parte da lista que o mencionava, porém os processos referentes às lutas das famílias contribuíram para a retirada do seu nome, fato que o desgostou pelo tratamento conferido pelos chefes liberais.

 Exupério Canguçu registrou em seus apontamentos  que o primeiro recenseamento geral do Brasil ocorreu em 24 de novembro1872 e na lista da família do Sobrado do Brejo constou um total de 25 indivíduos livres.

Em Bom Jesus dos Meiras, atual  Brumado, município onde situava a fazenda do Brejo do Campo Seco, foi, por longos anos, governado pelo Coronel Exupério Pinheiro Canguçu, que foi vereador, presidente da Câmara Municipal, Intendente no período de 1878/1882 e 1887/1890 e primeiro suplente de Juiz Municipal de Órfãos.

 Ocupou, portanto, todos os cargos políticos e administrativos do lugar, ofícios de suma importância para a vida política e administrativa do município. A administração do Coronel Exupério foi executada com senso público de muito êxito. Distribuiu posses para que as pessoas, inclusive forasteiros, para construírem suas casas; deu oportunidades para se instalarem na feira livre e montar as suas barracas, entre outras ações,  contribuiu  para o desenvolvimento do lugar. Conta-se que, apesar da cultura, era um homem “duro”, na administração do município, comandava de acordo seu entendimento, porém autoritário com decisões firmes.

 Consta no livro Uma comunidade rural do Brasil antigo de Lycurgo Santos Filho a seguinte declaração: “Exuperio Canguçu, herdeiro do Brejo do Campo Seco e administrador da fazenda ainda em vida do pai, foi um curandeiro de mão cheia, um excelente curador. Ajudava-o a cultura geral que possuía. E de muito lhe valeu o livro Chenorvil com receitas médicas  populares. No Sobrado do Brejo ele receitava, sangrava, aplicava bichas e ventosas, lancetava tumores e “postema” e espremia “leicensos”. Exercia em suma, a clínica da época. Tipo acabado de cirurgião barbeiro colonial transportado para o século XIX. Só recorria ou mandava recorrer ao médico residente em Caetité, o único da redondeza e o mais próximo, o Dr. João Duncan, em casos extremos ou de uma amputação, então a única operação praticada de “alta cirurgia”. E nesses casos, Exupério e o médico,  que bons amigos, já previam e anteviam a letalidade, dentro de curto prazo…”.

O cronista Durval Vieira de Aguiar registrou o seguinte: “Na distância de três léguas da vila, acha-se a Fazenda “Brejo” do Coronel Exupério Canguçu, chefe da maior e mais saliente família da localidade e real influência política do distrito e, na “sua” Vila, exerceu todos os postos de mando dirigindo-a praticamente segundo o molde da época”.

A decisão do filho Antônio (engenheiro) frustrou a intenção do pai, que pretendia utilizá-lo na direção da fábrica de ferro na Serra das Éguas. Progressista, Exupério se aventurou e erigiu um forno para essa produção, iniciada em 1868, às suas custas, com o minério de ferro encontrado em sua propriedade, tornando-se pioneiro dessa indústria na região. Um investimento de cem contos de reis, uma fortuna na época.

Findou as atividades da fábrica, por falência, no ano de 1878. A fundição foi um dos principais fatores que o levaram à ruína financeira, causando-lhe desequilíbrio nos negócios agravados pela abolição da escravatura.

            Com a negativa, o filho engenheiro, realista e menos idealista que o pai, previra o fracasso do empreendimento e preferiu trabalhar na Leste Brasileiro, firma já estabelecida que lhe oferecia estabilidade no emprego.

Depois  tentou abrir uma estrada de ferro e posteriormente investiu na montagem de uma fábrica de teares domésticos  de pano de algodão para peças de vestuério , cobertores, redes e toalhas. Os negócios fracassaram e o coronel aos poucos foi arruinando financeiramente.

             Em 1868 já era acionista da estrada de ferro Paraguassu Steam Tram-road Cmpany Limited projetada pela lei 1.241 de 16/07/1865 fundada em Londres por técnicos e capitalistas ingleses, que partiria de Cachoeira, passaria por Paraguaçu rumo a Chapada Diamantina e atingiria Machado Portela e seguiria o seu percurso passando por Caetité.

 A empresa “Paraguassú Steam Tram-road”, obteve concessão imperial em 17/01//1866 e organizou-se em companhia por ações em 1867. As ações de Exupério estão registradas conforme certificado de aquisição.  Após a construção dos primeiros 25 km a companhia entrou em liquidação falimentar em 1869, acarretando prejuízo aos acionistas. Substituída pela empresa “Brazilian Imperial Central Bahia Railway Company Limited” autorizada pela lei baiana de 26/06/1872 e fundada em 1875,  e inicio das obras em 1879, atingindo Machado Portela em 1888, mais tarde “Estrada de Ferro Central da Bahia’, mas o empreendimento de Exuperio já havia extinguido desde 1878 frustrando a sua expectativa.

O fazendeiro Exupério, viveu na abastança e morreu em decadência econômica, deixando para os herdeiros terras nuas e desvalorizadas. Faleceu no Sobrado do Brejo, em 08/02/1900, aos 79 anos de idade, já decrépito e com a razão comprometida. Sem recursos financeiros, morreu sem saber que na serra das Éguas, além do minério de ferro explorado, estavam latentes no subsolo grandes jazidas de talco e Magnesita, pujança da empresa que os explora – a Magnesita S.A.,  e de outras de menor porte, além de conter esmeraldas e outros minérios. Exupério Pinheiro Canguçu foi vítima do cruel destino que se abateu sobre ele.

Exupério era um exímio atirador, não errava um tiro. Mesmo a distância, acertava o alvo com bastante precisão, perícia de que se vangloriava e que o tornou famoso na região. Em distância regular, estourava qualquer objeto, por menor que fosse colocado no topo do mourão ou na cabeça de algum agregado. Para aprimorar-se, praticava constantemente exercícios de tiro ao alvo, variando de armas importadas da Bélgica, onde se fabricavam as mais perfeitas.

Tinha paixão por fardas, por armas e pelas coisas militares, era aficionado por esses símbolos. Em circunstâncias especiais, ou criadas por ele, fardava-se impecavelmente com todo rigor militar e fazia-se presente garboso, chamando a atenção por onde passava. Quando desfilava a cavalo, o animal também usava os paramentos militares. As indumentárias e objetos de uso pessoal encontram-se expostos no Condado.

Em 1830, após a Independência do Brasil, Inocêncio José Pinheiro Pinto, por sentimento nativista e conveniência particular, substituiu o sobrenome Pinto, nome de origem lusitana, pelo vocábulo indígena Canguçu – nome que significa animal feroz, condizente com o temperamento dos Pinheiro Pinto, mavórcio por natureza. E passou assinar Inocêncio José Pinheiro Canguçu.  Esse novo nome foi transmitido aos seus filhos e descendentes.  Porém, há um documento do cartório que desde 1822 os membros do Clã Pinheiro Pinto já assinavam CANGUÇÚ, assinatura  confirmada pelo cartório em 1823.

O Coronel Canguçu tornou-se o homem mais rico e poderoso chefe político do Alto Sertão da Bahia e se ufanava dessa condição. Era homem de atos e atitudes sérias. Foi fundador da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia em Caetité sob a proteção de Nossa Senhora da Saúde e Glória, através da Lei Provincial de 25/02/1839, no ano de 1844.

Exupério envolveu-se na luta familiar entre Castros, Mouras e Canguçus em defesa do irmão, motivado pelo rapto de Pórcia – Carolina da Silva Castro – por Leolino Pinheiro Canguçu, fato que Exupério não consentia.

Pórcia e Leolino, apaixonaram-se e decidiram ficar juntos. Ela não seguiu com os demais para Curralinho, permanecendo com Leolino no Sobrado, até 16 de dezembro de 1844, quando o Sobrado foi atacado, e Pórcia, resgatada à força pelos Castros e seus jagunços. Embora Leolino fosse casado com a sua prima Rita Angélica de Souza Meira, filha de Alexandre de Souza Meira. Mesmo assim, Pórcia tomou a decisão de ficar. O acontecimento deu causa à guerra que envolveu também os Mouras. É o que registra a literatura pertinente.

Em agosto de 1847, Exupério resistiu bravamente ao segundo assalto ao Sobrado do Brejo e, em função disso, teve sua casa do sítio do Condado, nas terras do Brejo do Campo Seco, assaltada. Houve mortos, fugas, processos, júri e julgamentos. A partir daí, a luta passou a ser forense.

Exupério alcançou na maçonaria o grau 33. Os seus adversários (Mouras), e a Loja à qual eram afiliados foi responsável pelo apaziguamento das famílias em luta, que contou com a aquiescência dos litigantes. Maçom não havia incompatibilização entre a sua crença e os preceitos da religião católica e a Franco-Maçonaria. Tomaram essa decisão, talvez querendo recompor o entendimento entre os parentes. Explica-se por serem homens cultos e de comportamentos civilizados, Marcolino de Moura e Albuquerque, por exemplo, frequentava o meio político e social que lhes proporcionava um entendimento conciliatório.

 Embora as famílias tivessem diferenças, eram parentes, e Exuperio com o seu prestígio político, apoiou e elegeu deputado, o tio Dr. Marcolino de Moura e Albuquerque. Os Mouras, por certo, não concordaram com as relações de amizade com Exupério.  Manoel Justiniano imputava-lhe violência e desacato  nos crimes cometidos contra os Mouras.

Católico praticante, devoto de Nossa Senhora da Conceição, Exupério conservou o oratório do Sobrado do qual cuidou muito bem, fazendo a manutenção e mantendo a originalidade do ambiente, onde se realizavam missas aos domingos e feriados. À tarde, diariamente, na hora da Ave-Maria, a família se reunia para a devida oração, um hábito criado por ele.

Em sua forja, manufaturou instrumentos agrícolas (enxadas, pás, foices, facões, machados), utensílios domésticos e outras ferramentas de trabalho, além de fechaduras, pregos etc., materiais encontrados, ainda hoje, nas antigas construções em Brumado, outrora Bom Jesus dos Meiras. Esse foi um empreendimento de futuro, com o qual Exupério visava obter muito lucro e acumular riquezas, porém se frustrou com o resultado.

No final da vida, senil e caduco, o coronel Exupério Pinheiro Canguçu devaneava com assaltos e tiroteios. Imaginava-se ameaçado e cercado por inimigos no Sobrado do Brejo. Ficava então inquieto e agitado. Para sossegá-lo, os familiares colocavam em suas mãos o clavinote carregado de pólvora seca. Ele atirava a esmo. Com isso se acalmava.

“Tranquilino Leovigildo Torres foi batizado em 15/01/1860, na cidade de Condeúba, sendo seus padrinhos o Comandante Superior da GN, Exupério Pinheiro Canguçu e sua Mulher D. Umbelina Bárbara Meira Canguçu”.

“Do clã dos Canguçus, o único que se destacou pela intelectualidade e inteligência foi Exupério Pinheiro Canguçu. Os demais se impunham pela bravura e seus atos de valentia e até mesmo de perversidade, como exemplo, o Leolino praticou façanhas que marcaram negativamente a família”. Transcrito do Livro OS TORRES, da autoria do Dr. Mário Torres:

Miguel Lourenço arrematou ao Tribunal dos Ausentes de Vila da Barra no antigo sertão de Rodelas e exerceu o ofício de meados de 1742 até janeiro de 1743

Em 20/03/1744 Miguel Lourenço de Almeida regressou a Lisboa e foi nomeado para familiar do Santo Ofício da Santa Inquisição de Lisboa, assinado pelo cardeal Nuno Cunha, Inquisidor Geral nos Reinos e Senhorios de Portugal. Em 1764 o Oficial do Santo Ofício foi participado que as diligência sobre a limpeza de sangue de Ana Francisca da Silva com quem o Familiar se casara, que   foram aprovadas pelo Santo Ofício.

Em 1755 teve início a fazenda do Campo Seco. Os livros do Brejo do Campo Seco foram escritos por três gerações: o português Miguel Lourenço de Almeida, Familiar do Santo Ofício, a escrituração teve início em 1755 e morreu em 1785. Antonio Pinheiro Pinto em 1794 e falecido em 1822 em seguida por Inocêncio Jose Pinheiro Pinto, o qual por sentimento nativista após a Independência do Brasil, acrescentou ao nome o termo Canguçu passando a assinar Inocêncio José Pinheiro Canguçu. A fazenda já denominada “Brejo do Campo Seco, passou a ser administrada por Exupério Pinheiro Canguçu falecido em 1900.

Exupério escreveu em 5 de fevereiro de 1845, ao concunhado, fazendeiro Manuel Justiniano de Moura, sobre os rumos tomados pelos lamentáveis acontecimento que provocaram a luta entre as família Canguçu e Moura. Recebeu resposta em 5 de março do mesmo ano versando sobre os acontecimentos das  famílias. Auta Rosa Meira de Moura Albuquerque mulher de Manoel Justiniano, escreveu  ao seu pai Antonio Souza Meira acusando os Canguçus, principalmente, Leolino pelos crimes perpetrados. Os desentendimentos foram resolvidos na Justiça.

Certidão de óbito do Cel. Exupério Pinheiro Canguçu, falecido em 08 de fevereiro de 1890 no 1º Distrito de Paz, município da vila Bom Jesus dos Meiras, comarca de Ituassu/Ba.

Compareceu em meu cartório o Cap. Miguel Joaquim de Castro Mirante  exibindo atestado do mesmo,  Olegário Cotrim e do Major Florindo de Castro Mirante, declararam que ontem  as oito hora da manhão, na Fazenda do Brejo deste município, faleceu de diabetes o Cel. Exuperio Pinheiro Canguçu, branco de 79 anos de idade, casado com Umbelina Bárbara Meira Canfuçu.

Ele Filho legítimo do Cap. Inocêncio Pinheiro Canguçu e Prudência Rosa Meira Canguçu natural deste município (falecida) e deixou oito filhos.

O cadáver vai  sepultado no cemitério  da Matriz do que para constar lavfrei este que comigo assinam os declarantes.

Abílio Ignácio da Silva, escrivão. Miguel Joaquim de Castro Mirante.

A transcrição está conforme assento no Cartório do Registro Civil de Pessoa Naturais de Brumado.

As filhas de Exupério Canguçu, depois da sua morte em 1900, a família desfez da fazenda na década 1930/1940 e os documentos, cartas de parentes, políticos sertanejos e pessoas exponenciais da política Nacional foram fracionados entre amigos, parente e pessoas amigas. Uma parte dos documento do Brejo foi entregue ao escritor e pesquisador Gilberto Freire.

 No início do período republicano no Brasil, com a dispersão familiar dos Canguçus do Campo Seco, rompeu-se a tradição de prender-se a um patriarca, como era costume no sertão dos coronéis. Com isso, houve o declínio da prosperidade familiar.

TERMO DA INSTALAÇÃO DA VILLA DE BOM JESUS DOS MEIRAS E POSSE DA CÂMARA DA MESMA VILLA.

Aos onze dias do mês de fevereiro do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e setenta e oito [1878] nesta Villa de Bom Jesus dos Meiras, Comarca de Caetité e Paço da Câmara Municipal, presentes o doutor Joaquim Manoel Rodrigues Lima, Presidente da Câmara Municipal de Caetité, para o fim de dar juramento e posse à nova Câmara, composta dos cidadãos Coronel Exupério Pinheiro Cangussú, Horácio Guanais Simões, Sebastião da Silva Leite, Aureliano José Pinheiro, José Germano Alves, Deolino de Souza Meira e Rodrigo de Souza Britto, o mesmo Presidente deu a respectiva posse e deferiu o juramento, que foi prestado pelos referidos vereadores em Livro dos Santos Evangelhos. Depois do ato, presente número crescido de cidadãos do Município, o referido Presidente disse algumas palavras análogas que foram respondidas pelo Presidente da nova Câmara. Depois de o Presidente da Câmara de Caetité dar os vivas do estilo que foram calorosamente respondidos, houve a Villa por instalada. Eu, Libério Jacundes Lôbo, Secretário interino, lavrei o presente, que vai assinado pelo Presidente da Câmara de Caetité e pelo Presidente e Vereadores da Câmara da nova Villa de Bom Jesus dos Meiras. (ass.) Dr. Joaquim Manoel Rodrigues Lima, Presidente da Câmara Municipal de Caetité, Exupério Pinheiro Canguçu, Presidente da Câmara Municipal de Bom Jesus – Horácio Guanais Simões, Sebastião da Silva Leite, Aureliano José Pinheiro, José Germano Alves, Deolino de Souza Meira e Rodrigo de Souza Britto.

ATA DA PRIMEIRA SESSÃO DA CÂMARA

Ata da primeira sessão ordinária da Câmara Municipal da Vila de Bom Jesus dos Meiras, em 1878.

Aos treze dias do mês de fevereiro, do ano de mil oitocentos e setenta e oito, nesta Vila do Bom Jesus dos Meiras e Paço da Câmara Municipal sob a presidência do Coronel Exupério Pinheiro Canguçu, presentes os vereadores Simões, Leite, Brito, Alves, Pinheiro e Meira, foi pelo mesmo presidente declarado aberto a sessão, convidou o Presidente a Câmara a criar os seus empregados: foi nomeado Secretário Belarmino Jacundes Lobo, Procurador Rufuniano de Moura Amorim, Fiscal Placídio Gomes d’Oliveira, e Porteiro Francisco Alves Piranha, estando presente o Secretário nomeado prestou juramento a fim d’exercerem as respectivas funções, e tendo-se eles apresentado lhes foi deferido o juramento. Deliberou a Câmara que não tendo sido inserido como determina no Decreto de treze de novembro de mil oitocentos e trinta e dois, no auto de instalação d’esta Villa o Decreto de sua criação e limites o foram na presente acta, o qual diz o seguinte: Lei de onze de junho de mil oitocentos e setenta e sete, número mil setecentos e cinquenta e seis. O desembargador Henrique Pereira de Lourena, Comendador da Imperial ordem da Rosa (Vide na pág. 1 n°2, Lei de criação da Villa e Município). E nada mais para constar, eu Belarmino Fagundes Lobo, Secretário a escrevi. (ass.) Exupério Pinheiro Cangussú, Presidente; Orácio Guanaes Simões, José Germano Alves, Rodrigo de Souza Brito, Sebastião da Silva Leite, Deolino de Souza Meira, Aureliano José Pinheiro. (inserimos o negrito para chamar a atenção do leitor).

 

FONTES DE INFORMAÇÃO E PESQUISAS:

Uma Comunidade Rural do Brasil Antigo – Lycurgo dos Santos Filho;

A cidade e a história. Organizado pelo prof. Eurípedes Simões de Paula;

Árvore Genealógica da família CanguçuWeb site MyHeritage;

Livro da Administração do prefeito Geraldo Leite Azevedo (1993/1996);

Nascimento, vida e morte de Exupério Pinheiro Canguçu – cordel de José Walter Pires (agosto/1969);

Livro Vida-Revida – Moisés de Carvalho, edição no ano de 2000;

Brumado e sua História – Arlete Rizério de Carvalho Franco em 16/05/1997;

Sites na internet que mencionam a genealogia dos Canguçus;

A Família do Santo Ofício no Sertão da Bahia: Trajetória e trânsito cultural no século XVIII – Priscila Machado da Silva, graduada pela UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia); Isnara Pereira Ivo, Orientadora, Professora do Departamento de História da UESB, Doutora em História pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais);

Livro SINHAZINHA de Afrânio Peixoto;

CASTRO: “Tesouro de Família” de Samuel Cândido de Oliveira Castro;

Avaliação e orientação da pesquisadora Zenaide Cangussú.

Deixe um comentário

Jornal Digital
Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745