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A bala e a carne

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Por Antônio Novais Torres

No Distrito,  vilarejo de poucos habitantes, a população era desassistida, não possuía nenhuma assistência social, viviam praticamente isolados da civilização. A maioria dos habitantes era de trabalhadores rurais que vendiam o dia de trabalho, ou cuidavam da própria roça, ou empregados das fazendas.

 Não contavam com a devida proteção legal. Outros viviam de caçar e pescar para se alimentarem e, certamente, também  comercializar.

 Os que se   tornaram  comerciantes:  vendia  secos e molhados, exploravam bar e bebidas alcoólicas,  a cachaça era a de maior consumo,  também exploravam o jogo de baralho e bilhar de três bolas, alguns só  funcionavam nos dias de feira livre do lugar.

No dia da feira semanal, havia muito movimento, se faziam presentes,  não só o pessoal local, como  os moradores    vindos das fazendas e roças  próximas.  Neste dia encontrava-se muitas novidades, mercadorias diversas,  trazidas pelos mascates e vendedores ambulantes.

Uma moradora, do lugar,  casada e mãe de vários filhos, o marido analfabeto,  vivia como trabalhador diarista,   prestava serviços  nas roças e  ou como ajudante de serviços gerais,  caçava e  pescava,  para manutenção   da família.  Era um homem honesto e trabalhador.

 Moravam num casebre coberto de palha e chão batido.  Em sua casa nunca faltou a alimentação indispensável  para a grande prole. Vivia harmoniosamente com a família. Feliz,  amava a todos. Todos analfabetos, por falta de escola no vilarejo.

Certo dia, dia de feira, a dona da casa,  mandou um dos filhos comprar carne de sol para assar, pois era uma iguaria  que agradava o paladar  do marido e dos filhos, porém só  se encontrava no dia de feira.

 Supõe-se  que foi o garoto que ajudava o patrão  vendedor,  que furou a carne de sol e colocou dentro uma bala calibre 22.  Enquanto a senhora assava a carne,  com um dos filhos escanchado na cacunda, houve um estampido e o filho teve o olho esquerdo atingido por um estilhaço.  Não houve socorro imediato,  por falta de médico e recurso para procurar assistência em outra cidade. Como terapia,  usou-se remédios caseiros.  A falta de assistência médica e de recurso financeiros,   motivaram a cegueira do menino.

O vendeiro foi responsabilizado pelo ocorrido, que por sua vez, acusou traquinagem do ajudante menor de idade. Não havia delegacia no lugar,  para se prestar queixa da ocorrência e a justiça era de difícil acesso, principalmente para o pobre que não tinha meios para mover um processo, através de um advogado.

Ficou o dito pelo não dito. O tratamento foi feito com remédios caseiros, conhecido como mezinhas, que não surtiu o efeito esperado.

Foi assim que aconteceu.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 746