E quando o esquecimento é uma benção?
Sempre achei que esquecer fosse uma maldade que eu faço comigo mesma.
Que o esquecimento, quando ocorrido, de alguma maneira se deu por culpa minha.
Ou porque não estudei o suficiente quando o assunto são as provas, ou porque não dei a atenção necessária quando se tratam de datas e afins ou só por que sou lerda mesmo.
A explicação mais simples e rápida de se dar: é que sou lerda.
Quando esqueci o aniversário de uma amiga querida e ela dias depois me disse:
“Pois é, esse ano, nem minha mãe se lembrou do meu aniversário. Eu tinha certeza que você não esqueceria, mas você também esqueceu.”
Eu quis morrer.
Mas sabe como é a morte, né? Quando a gente chama, ela nunca vem.
E o pior que poderia acontecer, aconteceu: passados muitos anos, já me esqueci outras vezes que o dia 07 de fevereiro é um dia importante, o dia da minha amiga querida.
As datas, com toda certeza, fazem parte da minha categoria particular de “as mais mais” do meu esquecimento.
E aí, quando esqueço do aniversário de namoro e o Namorado lembra todo fofo fico me martirizando:
“Por que motivo, razão, circunstância eu tenho que esquecer as coisas? Por que não consigo, simplesmente, me lembrar de tudo e todos?”
E aí, dia desses enquanto maldizia a falta de amizade da minha memória refleti no outro lado da moeda:
E se eu jamais me esquecesse? E se fosse capaz de me lembrar de tudo, todos os detalhes de todas as coisas que já me aconteceram na vida?
Quando digo vida, é a vida inteira, desde aquela manhã em que nasci até agora enquanto escrevo.
Já imaginou?
Talvez você ia sentir inveja de mim, pois eu saberia de cor tudo o que já estudei, todas as histórias que já li, todos os filmes a que assisti e todas as notícias e músicas que já ouvi.
Seria uma enciclopédia ambulante e a mais atenciosa de todas as amigas.
Afinal, jamais me esqueceria de nada visto, ouvido ou presenciado.
Talvez, você sentisse pena de mim, afinal saberia de cor todos os foras que já levei, todas as frustrações que já senti, todas as desilusões que já vivi, todas as tristezas pelas quais passei e cada detalhe das qualidades e defeitos de todas as pessoas que já perdi.
Imagine você a alegria de não esquecer nenhum detalhe colorido da vida?
Imagine você o desespero de não esquecer nenhum detalhe tenebroso da vida?
Caramba, dá desespero só em pensar na possibilidade de lembrar cada detalhe dos meus namoros.
Chega arrepiei!
Fui uma adolescente muito bocó e levei a bocózisse pela mão durante muito tempo.
A cada namoro que acabava, chorava, sofria, pensava que já era o fim da vida.
Quando olho nos olhos de quem fui, chega me dá pena de tanto drama que fazia.
Não ter esquecido de nada seria um sofrimento grande demais.
E não é só nesse quesito.
Tantas outras coisas que ficaram muito mais bonitas no campo do esquecimento…
Por isso, ao menos para mim, vale muito mais a pena ter um calendário gigante para que os aniversários e compromissos não sejam mais esquecidos, ter um maior tempo de dedicação quando uma informação necessita mesmo de ser guardada, dentre outras precauções para não esquecer o que de fato vale a pena lembrar.
Melhor, muito melhor isso que viver para lembrar o que se quer esquecer.