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A Cangalha

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Valdivino Ribeiro Novaes, apelidado de “Pagão”, pequeno comerciante e também lavrador, trabalhava a terra por vocação. Mas a sua obsessão era a garimpagem. Sobre o assunto vivia trocando ideias acerca de possíveis locais para a exploração de pedras preciosas e semipreciosas: ametista, esmeralda, cristal de rocha e outras. Intuía e sonhava em bamburrar e enriquecer da noite para o dia.

Certo dia, apareceu na sua venda “O BARATEIRO” (cujo nome justificava os preços praticados) um sujeito que se dizia garimpeiro nas lavras diamantinas, especialista em lavrar minérios tanto a céu aberto quanto em área subterrânea. Com uma amostra de cristal na mão, dizia tê-la encontrado na região, com indícios de haver ali grande quantidade do quartzo, e palpitou:

– É bamburro na certa, Seu Pagão! É para se ficar rico – e concluiu esperançoso – Deus haverá de nos ajudar!

Pagão, após analisar a amostra, convenceu-se de que estava diante de um bom negócio. Providenciou com o faiscador informante e fizeram um acordo para a exploração do minério. Valdivino como capitalista, comprou os apetrechos necessários: pás, picaretas, enxadas, carro de mão, explosivos e contrataram mão de obra local para os serviços de escavação. Acamparam-se em barracas improvisadas e, incentivados pelo informante, meteram mãos à obra.

Com o decorrer dos dias, ficou evidenciado que o garimpeiro havia blefado, pois pouco material foi encontrado e, pela quantidade, não justificava o investimento. Porém, o informante aduzia que estavam perto de encontrar o veio do minério. Na dúvida, resolveram continuar o trabalho na crença de que, ‘a esperança é a última que morre’. Ambiciosos, alegaram que a sorte é cega e deram continuidade ao empreendimento.

Desanimado, pagão concluiu que era melhor desistir da exploração, suspeitou que o garimpeiro (desempregado), na sua esperteza, queria uma forma de ganhar um dinheiro para a sua manutenção e deduziu: ‘a mentira tem pernas curtas’.

Nesse ínterim, surgiu um elemento do vilarejo, tido como atoleimado, e observou que a gruta escavada pelos trabalhadores praceia uma cangalha e palpitou: “Pagão, isso aí, referindo-se à gruta, tá parecendo uma cangalha, só falta o burro e em tom de escárnio, deu tremenda gargalhada”.

Diante da observação do apatetado, o espirituoso Valdivino, que já estava intencionado em desistir da aventura, sentenciou: “Se isso está parecendo uma cangalha, o burro sou eu”. Esse foi mais um sonho frustrado de enriquecimento fácil do ambicioso Pagão. Quando perguntado sobre a desistência do empreendimento que alardeava ser promissor, argumentava: “Palpite de doido não deve ser subestimado”.

 

Antonio Novais Torres

antoniotorresbrumado@gamail.com

Brumado, em 08/03/2013.

 

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745