Num dia qualquer resolveu ir em busca da felicidade. Tomou banho com um delicioso sabonete de lavanda, vestiu-se de azul, sua cor favorita, e, deixando as chaves do carro em cima do criado mudo, saiu andando por aí.
Chegou num parque. Estava há umas seis quadras de sua casa. Sentou-se no banco de madeira, que também se vestia de uma generosa tinta de cor azul. Havia crianças brincando, jovens casais de namorados, velhinhos jogando xadrez e pombos, muitos pombos. Uns eram totalmente brancos, outros trajavam uma penugem bicolor. Sentiu vontade de alimentá-los. Comprou pipocas para os pombos, pois julgou ser mais adequado, e para si, um algodão doce, azul. As pequenas aves se debatiam umas com as outras para alcançar primeiro a sua saborosa refeição.
Uma macieira fazia sombra sobre a grama. Aproximou-se daquela esplendorosa árvore frutífera e colheu uma linda e vermelha maçã. Tentadora desde sua origem, convidou a mordê-la, e, em um único golpe, cravou em seu corpo uma grande mordida. Doce como a vida naquele final de tarde lhe parecia ser.
O sol a poer determinava o fim daquele dia. Voltou para casa. No gramofone, Schubert; na mesa, vinho. Descobre-se num turbilhão de emoções, rasgando à flor da pele. Alcançava o que procurava, sutilmente. E ao despertar num novo dia, o céu estava azul.