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“A face fêmea e popular do 2 de Julho”

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É notável a presença de ícones femininos na fascinante história da Independência da Bahia. A guerra era, e ainda é, um negócio dos homens, mas Maria Quitéria, símbolo maior dessa campanha, mulher determinada, teve que se metamorfosear com trajes masculinos para aparecer como líder de batalhas libertárias memoráveis, que consolidaram na Bahia a Independência do Brasil.

A soror Joana Angélica fez o que muitos homens não fariam: intrépida, protegeu com o próprio corpo as portas do Convento da Lapa, para impedir a passagem das tropas que estavam à procura de combatentes escondidos, e foi, então, covarde e brutalmente assassinada.

Maria Felipa, com sua experiência guerreira de negra quilombola, deixou na memória popular das filhas e filhos da Ilha de Itaparica as narrativas assombrosas de embarcações queimadas e inimigos surrados com feixes de cansanção. Na Bahia se diz que o povo aumenta, mas não inventa. Muitos são os causos sobre ela, que acabou despertando o interesse de pesquisadoras e historiadoras comprometidas com o resgate da participação negra na história.

Conquistada a Independência, o que se viu foi o desfile vitorioso de um Exército Libertador formado de gente simples, em sua maioria negros escravizados, forros, mestiços e índios Tupinambás. Entende-se assim, o ofício em que o general Labatut informou ao ministro José Bonifácio que “nenhum filho de proprietário rico havia se apresentado como voluntário”.

Na continuidade, o povo se insurgiu contra todas as tentativas das elites de subtrair das comemorações oficiais a verdadeira face popular dos que protagonizaram a saga da Independência. Assim, por volta de 1826, para simbolizar os heróis anônimos que esmagaram o poderia português, foi introduzido no cortejo oficial a figura do caboclo.

A cabocla, que representa a Índia Paraguaçu, hoje símbolo maior do desfile, foi incorporada aos festejos oficiais da Independência muitos anos depois, em 1846, para amenizar as contradições frente aos vencidos portugueses. Coisa pensada por uma elite local portuguesa de origem, ou dela descendente.

Entretanto, o povo resignificou tudo isso e vê as imagens como guardiãs da nossa liberdade.

O 2 de Julho também é a data em que ocorre as grandes festas de Caboclo dos terreiros de Candomblé de Angola, de herança Bantu, que se entrelaça com a espiritualidade indígena. Porém, muitos terreiros das nações Ketu e Jêje também tocam seus tambores em grades rituais.

A figura da Cabocla, durante todo o cortejo oficial da festa da Independência, é , sem dúvida, a mais reverenciada, sendo comum ouvir pessoas dizerem que vão ao 2 de Julho ver a Cabocla. Famílias inteiras com suas crianças vivenciam a festa com entusiasmo, esperando a imagem passar no carro adornado por muitas palmeiras , ostentando as bandeiras da Bahia e do Brasil. E, Dias depois, as imagens fazem o percurso inverso; são levadas do Campo Grande para serem guardadas no Pavilhão 2 de Julho, na Lapinha, sob a guarda do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Este também é um ritual tradicional, conhecido como “A Volta da Cabocla”, ainda que o caboclo também volte junto.

Assim, irreversivelmente o 2 de julho entrou para a história com face de povo e fisionomia de mulher; e os machistas e elitistas que não gostarem, façam como recomenda o ditado popular: vão chorar no pé do caboclo.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744