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A fantasia na hora do sol

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A noite começa perder sua escuridão. O pescador abre os olhos enxergando ao seu redor, uma profissão de desafios. Levanta, sem muita arma, mas com muita coragem.
Lutar para sobreviver é o seu lema. Viver é apenas uma fábrica de matéria prima produzida na sua pura, inocente e inteligente mente.
O sol agora aparece e a escuridão tímida se escondeu, para mais tarde voltar a expor.
O pescador de pés descalço, camisa aberta, vai até o barco e enfrenta, por mais uma vez, o tenebroso mar. Joga as redes e as esperanças. Pega desilusões e fantasias. Insiste e nada consegue. De volta a praia começa então a pensar em coisas que nunca havia pensado antes.
Enquanto as enzimas destroem o restante do pão da manhã, ele catalisa na sua rica mente, fantasias e interrogações provocadas pela própria realidade.
Começa a olhar na superfície do oceano e fazer perguntas a si mesmo. Por que neste monstruoso mar existe tantos peixes e eu volto de barco vazio? Por que o homem dividiu o mar e os peixes não obedecem as limitações desta divisão? Por que estes mesmos peixes não ficam na superfície, pois assim seria muito mais fácil pegá-los?
Chegou em terra firme e deixou dentro do mar os pensamentos. As crianças o rodeiam e reclamam dos peixes que não vieram. Sua mulher lamenta mais um dia de podridão.
E, novamente, a escuridão que havia acovardado, agigantou e apareceu. O pescador cansado dorme como se estivesse morto. Mas, o galo anuncia que a claridade está de volta.
Agora as coisas mudaram. As redes estão cheias de peixes e soluções. E o velho pescador tornou-se novo. Ao encontrar com sua mulher foi logo dizendo: esta vida só se consegue quando parte. Porém é partindo que conseguimos voltar. É conhecendo o começo que atingimos o fim. É chegando no fim que retornamos no princípio. É sonhando na hora do sol que chegamos na novela das seis vitoriosos.
O importante é sabermos que somos possuidores de uma dupla personalidade como a do pescador. Que enfrenta o sol para brincar com a lua. Que procuramos os peixes, para sobreviver, mas só realizamos na fantasia.
O melhor nós termos uma única personalidade. A do sol (realidade) nos é vestida. A da lua (fantasia) é totalmente despida. A primeira nos é imposta a segunda nos é desejada.
Ainda bem que existe um final de semana, para tirarmos a roupa que nos está incomodando e jogarmos nas madrugadas. Voltando a vestir somente na segunda-feira.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744