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A menina das jujubas

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E foram tantos os feriados nas últimas semanas que até sobrou um para testar minha mais nova descoberta:

Sabonete como produto de limpeza.

Eu te juro, não há produto melhor!

Com ele dá para deixar as panelas brilhando, absurdamente areadas, os rejuntes do piso branquinhos e tirar todas as marcas da cerâmica.

Também faz brilhar qualquer vidro, inclusive o do box do banheiro.

Enfim, sabonete para limpeza da casa é o que há!

Qual marca?

Logicamente a que estiver mais barata no supermercado.

Então, estava eu maravilhada por ter conseguido arrancar facilmente aquela mancha do chão, na qual já havia testado todos os produtos possíveis e imagináveis, quando alguém grita lá fora, no portão.

Vou à janela ver quem é.

Lá chegando me deparo com uma mocinha nos seus 13, 14 anos.

Sorriso lindo, quando me vê, dispara seu discurso:

“Boa tarde, tia. Estou vendendo essas jujubas porque o aluguel lá de casa vence amanhã e, se minha mãe não pagar o moço, disse que vai colocar a gente na rua. A senhora compra aqui pra me ajudar?”

Enquanto ela falava, me lembrei  de que estava completamente sem dinheiro:

 – Princesa, você acredita que não tenho um centavo?

Ela, sorridente estava, sorridente continuou:

“E alimento, tia? A senhora tem?”

Antes que eu conte minha resposta: essa história de ser chamada “tia” e “senhora” pesa tanto nas primeiras vezes… mas, como tudo na vida, a gente se acostuma,  lá pelas tantas relaxa e passa a achar natural. Para mim, está ficando. Sinceramente, depois de muito relutar, está ficando natural ser chamada de “tia” por qualquer pessoa em qualquer lugar.

Voltemos aos fatos.

– Claro que tenho, gata. Alimento eu tenho. Peraí.

A menina não tinha o dinheiro para o aluguel, mas tinha bom humor, jogo de cintura.

Fui lá, peguei um pacote de farinha de trigo e, enquanto me aproximava do portão, escutei:

“Nossa tia, como você é bonita.”

Eu tive de rir.

Mais descabelada, impossível. Mais desarrumada, não tem nem como imaginar.

– Você também é muito bonita. E vem cá, você sabe fazer bolo?

Sem nem pensar ela respondeu:

“Sei sim, tia. O mais gostoso bolo de chocolate do mundo.”

Eu sorri e entreguei a ela o pacote:

– Então essa farinha aqui é para você fazer o bolo de chocolate mais gostoso do mundo e comemorar que vocês conseguiram todo o dinheiro para o aluguel.

Os olhinhos da menina linda brilharam e ela agradeceu:

“Muito obrigada, tia bonita, obrigada mesmo. Eu vou fazer o bolo porque hoje lá em casa vamos sim, ter muito o que comemorar.”

Eu queria ter conversado mais, mas quando ela terminou a frase, saiu correndo para encontrar a mãe.

No caminho, exibiu seu sorriso e suas jujubas a um casal que passava e conseguiu um pouco mais de dinheiro.

Eu voltei para o meu chão com sabonete na certeza de que qualquer batalha, quando enfrentada com um sorriso otimista, fica mais fácil de ser lutada, de ser vencida. 

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745