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A noite

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As fadas costumam-nos visitar durante a noite, mas não cabe a elas roubar nosso sono e nem intimidar nossas ações. A noite é epopéia grandiosa de um descanso generoso. Nela, a gentileza da vida, deposita sua delicadeza no santuário da alegria. É voar na paisagem concreta sem caçador para derrubar a bravura de enfrentar o espaço infinito. É o perfume no ápice de seu aroma. É um tempo mágico construído  de sonhos consistentes. É uma sombra egoística proveniente de uma alma despida. É o silêncio da realidade na folia da alegria.

Os homens, esses seres enigmáticos, buscam na noite assistir o circo da vida, vendo os trapezistas fazerem malabarismo com os problemas existenciais. É preciso contemplar a noite como viver o dia. Distanciar das fontes potentes geradoras de problemas e arregar à noite com as águas cristalinas da vida, em eterna primavera. Noite não é tempo, é divã de alegria. É uma férias diária. Para isto é preciso estrangular a noite do dia. Não levar para o céu da noite o inferno do dia. A noite é uma caverna de felicidade, onde os bandidos da realidade caem sem antes pegar o ouro da vida.

As luzes artificiais iluminam as ruas da solidão, com fechos de soluções. Em cada lar, um universo, circunscrito de soluções infinitas.

A noite é de vadios sonhos descompromissados com a realidade. É o antro dos casais apaixonados. É a chama de planos homéricos. É alegria persistente e transitória, porém sempre existente. A noite é a realidade pálida. É o sonho configurado. É o problema sepultado.

Noite é alegria, felicidade vasta e férias diárias. Por isto sonhar na noite é abrir as porteiras das realizações com ilusões consistentes.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744