A lamentável história do Brasil contada à nossa juventude põe foco nas lixeiras. De modo sorrateiro, suas narrativas fogem das alturas e de todo brilho, de tudo que possa causar dignidade e criar orgulho cívico. Silenciam sobre nossos heróis. Buscam os baixios, os pântanos, e escondem montanhas porque elas insistem em permanecer iluminadas quando tudo mais se faz escuro. Sob a luz da grandeza e do amor à Pátria, revoluções não acontecem. Por que conhecer Caxias quando temos Marighella para estudar? Por que nos interessarmos pela vida de Mauá quando temos Prestes? Por que Maria Quitéria (quem?), Bonifácio, Nabuco, Tamandaré, Rio Branco, D. Pedro I, Pedro II, Isabel, Rui? Quem tem Caio Prado não precisa de João Camilo (quem?).
Por aí vai aquela que chamo de Revolução 2.0, a revolução sem dor física e com contracheque. Tendo sorte, carro oficial, subsídios de fundações internacionais. As velhas revoluções eram violentas. Tão violentas quanto mal sucedidas e fajutas, tão mal sucedidas e fajutas que até os comunistas que as fizeram ou apoiaram passaram a dizer que elas nunca foram realmente comunistas. É a narrativa dessa ideologia para sua própria história. Tais revoluções não eliminavam seus inimigos por ações pessoais, mas por classe social. Suas vítimas eram intelectuais, religiosos, proprietários rurais, empreendedores. Por aí, somando-se as parcelas, chega-se a algo como 100 milhões de descartes humanos. Apesar de toda a carnificina e do terror fracassaram de modo absoluto.
A Revolução 2.0 faz diferente. Desmonta a sociedade, dinamita seus fundamentos morais, sua cultura, sua estrutura de base familiar, desacredita e neutraliza as religiões que têm um Deus com a pretensão de ser maior e mais valioso do que o Estado. Coisifica o ser humano, transforma-o num boneco de sal diluído no grande coletivo. Promete ao homem uma liberdade sem obrigações e lhe entrega obrigações sem liberdade. Promete-lhe direitos sem deveres e lhe entrega deveres sem direitos.
Encerro com exemplo local, caseiro, porto-alegrense, dessa historiografia. Em 3 de agosto de 2017, certa cronista local escreveu para ZH uma crônica afirmando o seguinte:
Se você discorda, se ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me declaro invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio porque tem parentes no convés, apenas por isso.
E foi assim que Caetano, num domingo de agosto, servindo à narrativa e à ideologia, salvou o Brasil de sua sina histórica… O ponteiro do relógio segue seu curso e, para tantos, a vida passa no toque dessa banda.