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A Saudade Gemedeira, Ai, Ai, Ui, Ui!

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Manhã ensolarada de hoje, 13 de março, 2021. Onze meses já passados da morte do meu irmão, que parece ter sido ontem, em transcurso angustiante e cheio de incertezas futuras. O meu bem-te-vi, ainda não apareceu, mas não deve tardar. Não sei por onde anda!
As notícias ruins amanhecem e anoitecem com os dados alarmantes dessa doença cruel, que tem ceifado vidas e mais vidas, em todo o mundo.
Agora, vivendo sob a expectativa da vacina, que possa reduzir a ansiedade que toma conta de nós, mesmo sabendo que a sua eficácia não nos garanta  uma erradicação plena desse vírus que não morre. Mas que venha mesmo assim, pois já estamos cansados dessa espera.
Enquanto isso,  continuamos na enfadonha luta pela sobrevivência   mas padecendo na tristeza do desaparecimento de amigos e outras pessoas do nosso estreito convívio.
Até quando é a pergunta que se repete pelos quatro cantos, dando azo às inúmeras mensagens de esperança, de teorias, de fé, de prognósticos, desesperos, além dos nefastos comentários sobre  vacina,  sobre a gravidade do corona, sobre a necessidade de uma ação política direcionada, em conjunto, pelos três poderes, em  prol da saúde pública, enfim, num mutirão  nacional de ataque  ao mal que nos consome.
Mas não é sobre isso que quero falar, não importando que o faça, pois bem sei que o meu irmão estaria, de alguma forma, engajado nesse propósito.
Quero falar um pouco sobre ele e
da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel – na luta que estou iniciando, ao lado de valorosos companheiros, pela sua revitalização, em razão das dificuldades institucionais, que experimenta, no momento, e põe em risco todo o seu acervo, riquíssimo, diga-se, de passagem, sobretudo com a precariedade das suas instalações físicas, na Ladeira Leopoldo Fróes, no bairro da Santa Teresa, Rio de Janeiro. Já demos o pontapé inicial, endereçando uma Exposição de Motivos, às Secretarias de Cultura do Estado e Município do Rio de Janeiro, sugerindo e solicitando providências.
Fundada há trinta e três anos, pelo genial poeta, Gonçalo Ferreira da Silva, como seu Presidente durante esse tempo, mas que, agora, pede socorro,  no alto dos seus mais de oitenta anos, de plena dedicação à Instituição, que dá à Literatura de Cordel, no Brasil, o status de divisor das águas, entre o antes e o depois da Academia.
Apesar de o cordel ter sido tombado
Pelo SPHAN – Serviço do Patrimônio Artístico e Nacional- como “Patrimônio Imaterial da Humanidade, isso não significou, ainda, a necessária atenção a essa mais que centenária literatura, como a principal expressão da alma do povo brasileiro, através das suas tradições, dos seus usos e costumes, da sua verdadeira história, narrada em versos rimados e metrificados, nessa forma literária,  que, heroicamente, tem resistido aos ataques, aos preconceitos, aos reducionismos, que sempre tentaram colocar o cordel em segundo plano, de uma atividade representada por valorosos poetas.
Assim, o meu irmão, ao passar de “cantor para cantador” , quando foi admitido nas fileiras da gloriosa ABLC,  não o fez só para somar, mas para fazer a diferença pelo seu poder artístico e influência, no sentido de despertar o ausente Poder Público, para dar maior visibilidade a uma Instituição que sempre viveu às margens da sua importância e glória.
Algumas vezes, ele chegou a me confidenciar esse sonho, indignado com o que via e sentia, em seu curto percurso de poeta cordelista, mas que, aí,  não se limitaria dado a sua grandiosidade poética e artística, que não me nego a dizer, que só chegou depois da fatalidade desta data.
Agora mesmo, quando rabisco essas linhas, o faço ao som das suas eternas canções, de imensurável lindeza, que,  por coincidência, o meu filho elenca em seu aparelho sonoro, embora sem o fazer em alusão à data de hoje, da qual não esqueço. Pena que não posso fazer disso um fundo musical público, capaz de revelar os meus sentimentos e segurar as lágrimas que marejam em meus olhos. Fez falta!
Muita saudade, irmão, o seu reinado não morreu, sobretudo, nesses momentos ruins que atravessamos.
Como sempre, do velho mano
.
Juzé

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