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A SENHORA POESIA

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O título é ambíguo, pode parecer que vou falar da Poesia de Fernando Pessoa. Mas desta vez, não. É sobre uma pessoa conseguir personificar a poesia. Viver a poesia. Ser a poesia.

Sempre achei que saber declamar um poema é um dom. Eu nunca tive esse dom. Escrevo poemas mas não sei declamá-los. Apenas os leio. E muito mal. Sei que uma boa declamação valoriza o poema. Em compensação, um poema mal dito, mal lido, faz parecer que ele é menos bom do que realmente é.

Então, reputo da maior importância a existência de bons declamadores. Existiu, em Jaraguá do Sul, no norte de Santa Catarina, um concurso de declamação. O concurso revelava – ou revela, espero que ele ainda aconteça – as pessoas que sabem declamar bem, sejam poemas próprios ou de outros autores. Já fiz parte do júri desse certame, por alguns anos, e foi uma honra poder constatar a revelação de talentos na arte de declamar.

De maneira que não é comum encontrar bons declamadores. É até bastante raro. Mas há algum tempo, em um sarau poético em Florianópolis, tive o privilégio de conhecer uma senhorinha, que com seus noventa anos, deu um show de declamação. Poesia de cor, na ponta da língua, expressão corporal, voz no tom e nas nuances certas, interpretação impecável! Dona Marilde é pura inspiração e pura juventude!

Eu até poderia dizer que fiquei com inveja, mas na verdade é pura admiração pela performance daquela criatura fabulosa e linda, transpirando talento e poesia por todos os poros. Terminado o sarau, eu e Stela fomos conversar com ela e ela esbanjou simpatia e dinamismo, declamando, só para nós, mais outros poemas. Que privilégio!

Quero chegar aos noventa anos assim, com toda aquela disposição, com aquele entusiasmo, com toda aquela vida explodindo também em mim, como em dona Marilde. Declamar de verdade é isso, minha querida Dona Marilde. Prazer em conhecê-la. Nem que eu viva noventa anos vou esquecê-la, porque a senhora é a imagem da poesia. Poesia viva e perene.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745