Por Antônio Novais Torres
ADALBERTO GOMES PRATES
Guilhermino Gomes Prates e Corina Amélia da Silva casaram-se em 20 de janeiro de 1918 na Igreja Matriz do Sagrado São Sebastião e conviveram em uma união feliz por 48 anos e quatro meses. Dessa união nasceram os filhos: Agenor, Maria de Lourdes, Sebastião, Adalberto (biografado), Armando, Leonor, Elza e Mario Gomes Prates.
Guilhermino era proprietário nos Laços/Ituaçu, da fazenda duas lagoas comprada de Joaquim Inácio Gama.
Adalberto Gomes Prates, quarto filho da prole de oito irmãos, nasceu no distrito de Laços/Ituaçu, no dia 12 de novembro de 1926. É filho de Guilhermino Gomes Prates, natural de Mucugê/BA e Corina Amélia Prates, natural do distrito de Laços comarca de Ituassú, (Ituaçu). Filha de Estevão José dos Santos e Jovita Amélia dos Santos. Dedicou toda a sua vida ao cônjuge e aos filhos.
Iniciou os estudos aos sete anos de idade, com a professora pública estadual Elza dos Santos Rebouças, natural da capital do Estado, onde residia até ser nomeada para assumir a cadeira do ensino primário no distrito de Laços/Ituaçu. O transporte de Salvador para o distrito de Laços, um percurso de 700 km, a professora fazia por trem de ferro até Contendas do Sincorá, última estação ferroviária (ferrovia em construção) e daí em diante, a cavalo, em uma estrada carroçável, de condições precárias até o seu destino. No período de férias, os pais dos alunos se cotizavam e pagavam uma professora leiga, particular, senhora Maria Clara Rocha (Clarinha), para ministrar o ensino aos meninos.
Aos 13 anos de idade já ajudava o pai na casa comercial de secos e molhados em Várzea Queimada no município de Ituaçu e tinha a incumbência de levar gêneros alimentícios toda sexta-feira para os familiares que ficaram no distrito de Laços, posteriormente, mudaram-se para Várzea Queimada.
Além de ajudar o pai no comércio, ajudava-o também nas despesas. Dinâmico, Fabricava e vendia alpercatas, valises, malas, rédeas, cabrestos e arreios (acessórios para montaria), gerando um bom lucro. Em uma fábrica de sandálias desativada na cidade de Brumado, Adalberto comprou o estoque remanescente, fazendo um bom negócio que lhe proporcionou um excelente resultado financeiro.
Aprendeu a tocar sanfona de oito baixos. Lembra-se de um senhor da relação familiar, de nome Emídio, que dizia: “Esse menino ainda vai tomar conta de uma caixaria (profissão de caixeiro) na cidade grande, pela sua diligência”.
Em 1945, o pai comprou uma propriedade no lugar denominado Ladeira, distante 5 km de sua casa comercial, para onde a família se mudou. Curioso e esperto, somente ele sabia dar nó em gravatas no lugar onde residia. Arriscou-se, também, na arte de cabeleireiro e, por ter a ‘mão boa’ para cortes (segundo as clientes), nesse particular, fazia muito sucesso com as mulheres. Exercia essa atividade amadoristicamente, com oficina de trabalho improvisada embaixo de uma árvore frondosa, localizada em frente à sua casa, não cobrava pelo serviço executado, apenas realizava pelo prazer de ser útil. Em troca, recebia um “muito obrigado” ou “até logo” dos favorecidos.
Vaidoso, nessa época, conheceu a casimira Aurora, o tropical Inglês, o chapéu Panamá e o linho diagonal York Street, todos importados, e fazia uso desses produtos juntamente com os seus conterrâneos em ocasiões especiais. Lembra-se de um senhor afrodescendente apelidado de “Coqui”, nome que o identificava, proprietário de um carro de bois de aluguel que, nos dias festivos, se apresentava trajado a rigor, com terno de linho branco, chapéu Ramenzoni 3xis.
Em 1950, com 24 anos de idade, deixou a sua terra natal com destino à Vitória da Conquista, em busca de novos estudos e melhores condições de vida. Fez o percurso de 185 km em carroceria de um caminhão, em uma estrada de terra e cheia de curvas. A distância causou-lhe grande saudade do seu lugar, dos pais e dos amigos.
Em Vitória da Conquista, deslumbrou-se com a iluminação elétrica que, até então, não conhecia. Encontrou-se com os primos amigos: Walter Gomes de Miranda e suas irmãs Iracema, Alice e Maria Augusta (Mariquinha), filhos da sua tia Dina Prates de Miranda, todos seus conterrâneos. Conheceu também o senhor Cid Magalhães (auditor fiscal do Estado) e sua irmã Hélia Magalhães, amizade que durou 64 (sessenta e quatro) anos.
Quando sua filha Célia Regina foi estudar em Vitória da Conquista, no Instituto São Tarcísio, recebeu deles um convite para que ela fosse morar em sua casa, onde desfrutou excelente acolhida, gesto que jamais nos esquecemos. Por gratidão e em nome da amizade, demos a eles para batizar a filha caçula, Cleide Prates, portanto, além de amigos e compadres, consideramos o casal como irmãos.
Em Conquista Adalberto visitou o conterrâneo Vespasiano Dias, cirurgião dentista, filho do Coronel Minervino Dias que mantinha amizade com seu pai Guilhermino Gomes Prates. As famílias tinham uma relação tradicional de amizade. Nesse encontro, em seu gabinete dentário, recebeu dele um escrito de apresentação endereçado ao professor Everardo Públio de Castro, Diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), oportunidade em que se matriculou naquela escola profissionalizante que lhe proporcionou importantes aprendizados.
Em 25 de janeiro de 1954, foi ao Rio de Janeiro a convite do tio Agenor Gomes Prates. Lá, de 28 de fevereiro a 2 de março teve a oportunidade de presenciar o Carnaval carioca e apreciar todas as suas liberdades e sensualidades expostas nos desfiles e, para ele, desconhecidas. O impacto causou-lhe estranheza por não estar acostumado àquele comportamento liberal e libertino da cidade “civilizada”.
Em maio de 1955, matriculou-se no curso de Química Industrial, à distância: Instituto Científico de Química Industrial do Rio de Janeiro, reconhecido pelo Ministério da Educação, com especialidade em bebidas, o qual contava com vários professores de alta competência sob a orientação do diretor Dr. Armando Schepis.
Concluído o curso de química Industrial em 1957, no ano seguinte escolheu a cidade de Brumado, onde montou a primeira fábrica de bebidas com destaque para o Vinho de Jurubeba Lobo e o Vermute Rozano, carros-chefes de venda da indústria. Essa fábrica foi a pioneira na cidade e mereceu a visita de várias pessoas, inclusive entrevista aos estudantes do Ginásio General Nelson de Mello, os quais elogiaram os produtos com a aprovação pela sua excelente qualidade.
“Era nosso vendedor, nessa época, o senhor Sílvio José Pereira Franco, que posteriormente tornou-se proprietário da indústria. A indústria de bebidas tinha como clientes comerciantes de São Félix e Cachoeira no recôncavo baiano e Montes Claros em Minas Gerais e, no Oeste do Estado da Bahia, Boquira, Oliveira dos Brejinhos e Ibotirama. As entregas em cidades circunvizinhas eram feitas com um velho caminhão Chevrolet de sua propriedade. Esse carro tinha defeito na ignição, era dirigido pelo senhor Joaquim ‘Retratista’ que o deixava sempre engrenado e em lugar com declive para facilitar a partida”.
”Certa feita, o garoto Washington Fernando Franco (Miau), travesso, entrou no caminhão e o desengrenou. O veículo desceu a ladeira e derrubou um poste de luz. O prefeito da época, o amigo Manoel Fernandes dos Santos, autorizou um funcionário responsável pelo setor a substituir o poste e a prefeitura assumiu o ônus”.
No dia 15 de fevereiro de 1958, o empresário Adalberto, homem de visão futurista, acreditando no potencial de Brumado, edita o primeiro jornal da cidade com o título ‘O Jornal de Brumado’, trazendo uma gama diversificada de notícias, entre outras, por exemplo, o Carnaval realizado no Clube Social de Brumado, com destaque para a eleição e coroação da Rainha e das Princesas, respectivamente Nely dos Santos Azevedo, Maria Helena Viana Machado e Alaíde Santana. Por questões de custo/benefício e falta de patrocinadores o jornal não foi avante, ficou apenas na primeira edição.
Casou-se em 02 de setembro de 1962, com a professora Maria de Lourdes Prates, brumadense, filha do Major Antonio Xavier Prates e dona Alice Rizério Prates, com quem teve quatro filhos: Adalberto Júnior, Célia Regina, Elizabeth e Cleide Prates.
Em Vitória da Conquista, sofreu um golpe dado por um advogado a quem confiou uma ação e o mesmo descumpriu as formalidades profissionais de forma não condizente com a ética profissional, irresponsavelmente, abandonando a causa que lhe foi entregue. Diante disso, por problemas financeiros e econômicos, na época, arrecadou as suas economias e mudou-se com a mulher e o filho primogênito Adalberto Júnior de quatro meses e foram morar em um quarto de um pensionato. Daí trilhou novos caminhos. Montou em Vitória da Conquista a fábrica de colchões de mola ”Plumatex” que não foi avante por não corresponder às suas expectativas de retorno financeiro.
O casal ficou apreensivo, desesperado e desorientado com o desaparecimento dos filhos Adalberto e Célia, que ingenuamente brincavam com um carrinho, felizmente foram encontrados.
Segundo Adalberto Prates, em 1970 foi descoberto em Brumado a existência de Urânio no desaguar da Serra das Éguas para o Bastião, conhecimento de poucos. Em Brumado no ano de 1957/1958, montou a primeira casa de móveis e eletrodomésticos e a fabricação de colchões de molas. A casa comercial tinha o nome fantasia ‘Simperbel Móveis’, cujo significado era ‘Simplicidade, Perfeição e Beleza’.
Teve convite de amigos para participar do Rotary Club de Brumado, não se achando socialmente preparado para tanto, recusou o convite. Para o lazer próprio e da família adquiriu um carro novo – Corcel. Por conta do imprevisível a sua loja foi fechada. Inteligente e talentoso, com tino empreendedor, se dedicou a construção civil, fez várias casas e as revendia.
Para custear os estudos dos filhos na capital do Estado, uma das casas construídas foi alugada, passou então a morar em residência mais humilde. Depois da formatura dos filhos passou a habitar em sua casa que oferecia maior conforto para a família.
Com o incentivo do Instituto Brasileiro do café (IBC) adquiriu propriedade no lugar denominado Lagoa de Santa Rosa em
Casa de Pedras, entre Ituaçu e Barra da Estiva, tendo como referência o Pico do Morro do Ouro, para o plantio de café. Por motivos de saúde da família, obrigou-se a vender a propriedade para a devida assistência.
Cansado das atribulações da vida, toda sua economia foi depositada na Caderneta de Poupança a qual foi atingida pelo plano Collor, mais uma decepção o assaltou.
Em 2000, no aniversário dos 123 anos de independência política de Brumado, fez um apelo e reivindicação conforme descrito no trecho abaixo:
“A pouca água que temos mesmo imprópria para o consumo, com o sol abrasador que assola a nossa região, está evaporando muito depressa, e logo mais repetiremos a trise cena em que passamos no final de 1998/99, quando vivemos durante meses a comprar carros-pipas com água poluída para nosso uso”.
Em 2003, apresentou ao poder público municipal, um Mapa Rodoviário, de sua autoria, detalhando a construção de uma rodovia de Brumado até Salvador via Maracás, que encurtava a distância em 250 km. Parte dessa estrada já se encontrava pronta e conectava-se com a BR-116 em Milagres. Conforme dizia: é possível com esse novo percurso que reduz a distância em 250 km, se tomar café em Brumado e almoçar em Salvador. O trecho imaginado, sonho de Adalberto Prates, está realizado, resultado da administração de diversos governos.
Levou ao conhecimento do Poder Público Municipal a necessidade de se edificar uma estátua do Cristo Redentor, porquanto a cidade de Brumado é de origem católica. Ele sugeriu, ainda, depois de seus estudos da numerologia, a mudança do nome de Brumado para Minápolis, que condiz melhor com a vocação da região. Engajou-se no movimento para fundação do Hospital municipal, da recepção do sinal de TV e a sugestão da instalação de uma rádio, entre outras atuações em benefício do progresso e civilização da cidade.
Adalberto Gomes Prates, por méritos pelo que já fez e faz por Brumado e mourejar nesta cidade por muitos anos, da qual tanto se orgulha, merece o reconhecimento de filho adotivo da terra. Adalberto sempre foi um homem empreendedor e de visão a frente de seu tempo.
Ao completar 90 anos de vida, após vários anos de cuidadosas pesquisas, fez editar um livro contando a história da família Prates, edição de 2016, e agradece a todos que colaboraram para a consecução desta obra que contem publicações de artigos polígrafos de sua autoria editados em jornais, revistas e sites locais.
Em sua observação a travessia de Salvador para ilha de Itaparica através da ponte a ser construída, permitirá a conexão de diversas cidades do sul com redução de tempo e custos nos deslocamentos para os municípios de Nazaré, Santo Antonio de Jesus e Amargosa, até a conexão com a BR-116, em Milagres. Aguardemos.
HOMENAGEM em 12/11/2021 do conterrâneo José Walter Pires:
ADALBERTO PRATES – O CAMINHEIRO
Pelas ruas e becos de Brumado,
Aos seus noventa e cinco anos de idade,
Adalberto, palmilha lado a lado,
Pelos espaços centrais da cidade.
Assim, diariamente, é encontrado
A caminhar em plena liberdade;
Talvez sem o que tenha motivado,
Ao seu ir e vir sem necessidade.
Quem sabe, por razão que lhe é justa,
Buscando diluir uma amargura
Que traz dentro de si, mas não degusta.
E não demonstra nessas travessuras:
Passos firmes, ligeiros, de alma pura,
Feliz, por certo, em suas aventuras!
José Walter Pires
Nov. 2021
FONTES:
Os dados dessa biografia foram fornecidos pelo biografado, a quem creditamos os méritos e agradecemos pela colaboração;
Homenagem de José Walter Pires ao biografado em 12 de novembro de 2021.
Livro de sua autoria contendo a história da família Prates.