“Todo menino é um rei; eu também já fui rei; mas quá… despertei!”. Roberto Ribeiro
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou, no último dia 13 de julho, 23 (vinte e três) anos de promulgado. Tal estatuto representa todo um elenco de mecanismos de proteção para essa clientela, a qual consideramos por demais vulnerável, ante a sua instabilidade comportamental, fruto da imaturidade psicológica que tanto lhe caracteriza. À luz do ECA, criança é a pessoa de até 12 (doze) anos incompletos, e adolescente é aquela que conta entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade. São seres com características e nuances muito próprias, exigindo, de todos nós, principalmente dos pais e/ou responsáveis, uma atenção especial, sob pena de os vermos desencaminhados para a vida.
Se quando criança a atenção dos nossos filhos era voltada à alimentação no horário certo, aos cuidados para não se machucarem, à roupa limpa e bem passada, dentre outras, quando adolescente a dedicação certamente exigirá um esforço a mais. Criança é criança, age como criança, pensa como tal. Adolescente não se acha mais criança, se imaginando, muitas das vezes, como adulto, sem ainda ter condições físicas e psicológicas para sê-lo. Esse é um dos dilemas do adolescente!
Costumamos dizer, em nossas palestras, que adolescente, geralmente, é “um Maria vai com as outras”. Em razão da necessidade de se auto-afirmar, perante o grupamento social em que está inserido, o adolescente termina por se anular individualmente, passando a assumir a personalidade do grupo. E esse é um passo muito perigoso, considerando que a sua conduta não representa a sua forma de ser, traduzindo muito mais aquilo que o grupo espera dele; se permitindo a um processo de massificação – agindo conforme a massa, o todo. Diante disso, os pais se veem surpresos ante os fatos que se sucedem com os seus filhos, considerando o comportamento destoante da sua forma de ser, de se conduzir.
No ano de 1997, tivemos um caso emblemático na cidade de Brasília/DF, através do qual um grupo de cinco jovens, dentre os quais um adolescente, ateou fogo no corpo do Índio Galdino, enquanto este dormia em um ponto de ônibus, levando-o à morte. O caso chocou o país, gerando uma série de protestos. Sem querer aqui dissecar o caso, o adolescente praticamente foi “levado” a fazer o que os outros fizeram. Como dissemos anteriormente: ele se anulou na sua individualidade, assumindo a personalidade do grupo.
É muito comum, na atualidade, vermos grupos de adolescentes com as mesmas características. Utilizam as mesmas gírias, vestem-se praticamente da mesma forma, têm o mesmo gosto musical… enfim! É a tribo! Buscam entre si uma sintonia tal, de maneira que, juntos, se tornam um todo. O grupo de pertencimento!
Há um tempo, quando a minha primogênita contava entre 14 e 15 anos, me dei conta de ela queria vestir-se de preto para ir ao Shopping. Eu já tinha percebido alguns grupos de adolescentes trajando-se desta forma. Daí eu perguntei a ela: por que você que se trajar assim? E ela me respondeu: Ah, meu pai… é porque eu gosto; minha turma tá se vestindo assim! Lembro-me que deu muito trabalho para que eu demovesse essa ideia da sua cabeça, mas, com muita argumentação e persistência, eu consegui. Disse a ela, dentre outras coisas, que não era o fato de os seus amigos se vestirem de preto, que ela também deveria se vestir, pois, se assim fosse, mais adiante ela terminaria se permitindo a outros anseios do grupo, e isso é perigoso, porque, inevitavelmente, ela iria se expor. E a sua exposição, é também a minha, na condição de pai!
Nós, pais, jamais deveremos prescindir de acompanhar nossos filhos adolescentes. Eles não têm preparo psicológico para dimensionarem os acontecimentos da vida, com a mesma visão que nós temos. Devemos persistir no ideal de educar os nossos filhos para uma vida digna, dentro de um parâmetro social aceitável. E essa empreitada impõe a nós, dentre outras coisas, saber filtrar as companhias dos nossos filhos adolescentes e buscar saber os locais onde eles estão frequentando. Assim, evitaremos que eles se imiscuam com pessoas outras que poderão exercer influência na sua atitude comportamental, comprometendo a sua formação, o seu caráter.
Por fim, mesmo eles – os nossos filhos adolescentes – se imaginando “reis”, devemos fazê-los despertar, o quanto antes, para as responsabilidades e a realidade factual da vida.