Um episódio lamentável, que merece o repúdio das pessoas de bem e que macula a atividade jornalística, reforçando a importância da sociedade saber diferenciar os profissionais que atuam na área, foi protagonizada pelos radialistas Humberto Pinheiro de Oliveira e Washington George Rodrigues Cirne, na última terça-feira (22), durante o programa Sudoeste Agora, na Rádio Clube FM 95,9, contra a presidente e a vice-presidente do Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista, professoras Elenilda Ramos Lima e Greissy Leôncio Reis.
A agressão, covarde e que reforça a incapacidade dos radialistas de conviver num ambiente onde prevalece o Estado Democrático de Direito, que pressupõe o convívio harmônico de contrários, afrontando não apenas a liberdade de expressão prevista na Constituição Federal, mas os mais elementares princípios de convivência social, se deu após a professora e presidente do Sindicato do Magistério Público Municipal de Vitória da Conquista, Elenilda Ramos Lima, criticar a forma como a prefeita do município, Ana Sheila Lemos Andrade (UB), formalizou o aumento dos salários da categoria.
Ao expor sua opinião, a educadora afirmou que a gestora municipal teria ignorado o índice previsto no Decreto assinado pelo presidente da República no início de fevereiro, prevendo um reajuste de 33,24% para o Piso Salarial do Profissionais da Educação, observando que o percentual de aumento teria sido autorizado pelo presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), “(…) com atraso de três anos, não foi feito porque o presidente Bolsonaro seja bonzinho”. Foi a senha para que a bestialidade substituísse a civilidade. O radialista Humberto Pinheiro de Oliveira cortou o microfone da professora, impedindo-a de concluir seu raciocínio, que, ressalte-se, é uma opinião pessoal e que merece, mesmo que haja divergência, respeito, e passou, juntamente com o radialista Washington George Rodrigues Cirne, a atacar as profissionais da Educação.
Desequilibrados, aos gritos, os radialistas, “donos” dos microfones, investiram contra as duas profissionais, com acusações genéricas e citando, inclusive, supostos fatos da vida pessoal das professoras. O “show de injúrias” culminou com as duas profissionais sendo expulsas do estúdio e das dependências da emissora.
Não se exige dos profissionais da Comunicação que sejam alienados e não tenham preferências em qualquer área, inclusive na política, e que não possam defender suas convicções ideológicas. Mas, em contrapartida, exige-se, que sejam imparciais profissionalmente e, quando se sentirem à vontade para contestar opiniões contrárias, que o façam de forma civilizada e respeitando, intransigentemente, o direito ao contraditório.
A liberdade de expressão e de imprensa são dois direitos fundamentais da nossa sociedade e pilares do Estado Democrático de Direito. Por este motivo, o espaço da Rádio – que é uma concessão pública – tem o dever de servir à população, transmitindo informações relevantes e garantindo o direito à exposição de ideias, sem censura de natureza política.
A atitude dos radialistas macula não apenas suas biografias, mas a da emissora de Rádio que representam. Enxovalham, ainda, a categoria na qual estão inseridos e representa uma afronta à sociedade, que tem no Rádio um veículo de informação e entretenimento, não um tablado que possa ser usado por pessoas que não sabem o limite da razoabilidade e, por falta de argumentos, partem para agressão aos que deles ousarem discordar.
Sem entrar no mérito do posicionamento das profissionais de Educação, o JS, se junta a todos os profissionais de imprensa de Vitória da Conquista e da região e às pessoas de bem que abraçaram as duas profissionais agredidas, repudiando a retórica beligerante, o discurso de ódio, as manifestações de intolerância, machismo e o desrespeito ao preceito básico da democracia, que é a liberdade de expressão e manifestação responsáveis.
Muito bem escrito o editorial. Essencial que a imprensa regional se manifeste contra esse fato lamentável.